Logo O POVO+
Os que os dados podem falar sem dizer
Foto de Ombudsman
clique para exibir bio do colunista

É o(a) profissional cuja função é exclusivamente ouvir o leitor, ouvinte, internauta e o seguidor do Grupo de Comunicação O POVO, nas suas críticas, sugestões e comentários. Atualmente está no cargo o jornalista João Marcelo Sena, especialista em Política Internacional. Foi repórter de Esportes, de Cidades e editor de Capa do O POVO e de Política

Ombudsman ombudsman

Os que os dados podem falar sem dizer

Cobertura de operações destacou o grande número de prisões de "faccionados do Ceará em liberdade", mas deixou em segundo plano a atuação no crime de boa parte daqules que já estavam sob custódia do Estado
Tipo Opinião
AÇÕES contra 138 suspeitos de integrar facções foram realizadas em três dias (Foto: Divulgação/PC-CE                             )
Foto: Divulgação/PC-CE AÇÕES contra 138 suspeitos de integrar facções foram realizadas em três dias

A cobertura de segurança pública é uma das que mais exige atenção na observância das próprias dinâmicas. No caso do Ceará e do combate ao crime organizado, são muitas as nuances que vão desde a tentativa de entender as disputas entre facções por território - como na mais recente crise nos bairros Vicente Pinzón e Papicu, muito bem explicada pelo colunista Ricardo Moura - como os aspectos políticos a pouco mais de um ano das eleições estaduais.

Os dados oficiais do combate à violência são uma ferramenta indispensável para compreender e relatar essas histórias. A manchete do último dia 23/8 (“80 faccionados do Ceará em liberdade são presos”) destacou as três operações deflagaradas em três dias que resultaram num grande volume de prisões no Ceará como forma de o Governo tentar sufocar as organizações criminosas. Numa primeira leitura do enunciado, é possível haver um estranhamento. Ora, se foram presas é porque antes estavam em liberdade, pode alguém pensar.

A chave para entender a aplicação dos termos está no que não foi dito. Apenas uma pista foi dada no abre da manchete, que fala no cumprimento de 138 mandados de prisão. Só na matéria fica mais claro que os outros 58 foram expedidos contra pessoas que já se encontravam dentro do sistema prisional no momento das operações. Ou seja, 42% do total já estava sob custódia do Estado.

Coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (LEV-UFC) e membro do Conselho de Leitores do O POVO, Luiz Fábio Paiva foi consultado na matéria e destacou a atuação das facções criminosas dentro dos presídios como um fator de resiliência dessas organizações.

“Outro elemento da prisão problemático é que, muitas vezes, esses grupos são grupos de origem prisional, então, eles sabem também atuar no interior das prisões, eles sabem ser resilientes a esse processo de aprisionamento”, asseverou.

Os questionamentos que faltaram

As operações contra suspeitos de integrar facções têm prendido muita gente e sido publicizadas com grande alarde pelo Governo do Estado. Inclusive, foram tema de coluna neste mesmo espaço do ombudsman não faz muito tempo. De fato, são números impressionantes, embora seja bastante discutível o real efeito do grande volume de detenções no combate às organizações criminosas.

Os dados que são divulgados apenas no subtexto pelo Governo mereciam mais atenção. Faltou à cobertura fazer alguns questionamentos mais contundentes como, por exemplo, de que forma esses membros de facções ainda conseguem ser tão atuantes na dinâmica do crime mesmo sob custódia do Estado?

Coincidência ou não, o titular da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), Mauro Albuquerque, não aparece na entrevista coletiva em que os números das operações foram divulgados pelos demais representantes de órgãos de segurança. O que não impede de eles também serem indagados com mais firmeza a respeito.

Filha de Zezinho, ex-prefeita ou Aline?

A indicação de Aline Albuquerque para ser conselheira da Agência Reguladora do Estado do Ceará (Arce) movimentou os bastidores da Assembleia Legislativa (Alece) na última semana. A escolha tem um contexto de análise política inescapável.

Ex-prefeita de Massapê, ela é também filha de Zezinho Albuquerque. O deputado estadual licenciado e secretário das Cidades é também a principal liderança do Progressistas (PP) no Estado. Em Brasília, União Brasil e PP selaram em agosto uma federação que já nasce como a maior força política em termos numéricos do Congresso Nacional.

Aline Albuquerque, nova conselheira da Arce(Foto: Junior Pio/Alece)
Foto: Junior Pio/Alece Aline Albuquerque, nova conselheira da Arce

No Ceará, a “União Progressista” não parece assim tão unida - tampouco progressista. A federação, caminhando para ser liderada localmente por Capitão Wagner (União Brasil), tende a ser a principal força de oposição da direita na disputa contra Elmano de Freitas (PT) em 2026. A indicação de Aline, portanto, seria uma forma de o governador petista fortalecer os laços com Zezinho e, consequentemente, dividir para tentar conquistar.

Os deputados da oposição enfatizaram essa leitura de que a indicação de Aline serviu para atender os interesses políticos de Elmano. Já os parlamentares da base enfatizaram o currículo dela como gestora, ressaltando sua trajetória como economista, ex-prefeita e servidora do Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Na dúvida, vai pelo nome da pessoa

Nesse embate dos eventuais motivos que levaram à indicação da nova conselheira da Arce, cria-se uma discussão também sobre como identificá-la nos títulos das matérias de Política. Referir-se a ela apenas como ex-prefeita poderia gerar uma leitura de desconsideração do contexto político da escolha, com um viés supostamente pró-governo.

Evidenciar o fato de ela ser filha de Zezinho Albuquerque, por outro lado, também poderia causar uma interpretação de que houve desequilíbrio na cobertura, jogando mais luz aos argumentos da oposição e minimizando o currículo da indicada.

Do ponto de vista factual, mencioná-la como “filha de Zezinho” ou “ex-prefeita de Massapê” não estaria errado. Mas o caminho mais prudente seria chamá-la com base nos mesmos critérios adotados para identificar políticos homens na grande maioria das vezes. Ou seja, pelo nome. Usar "Aline Albuquerque" sem dúvida é uma escolha mais assertiva e sem riscos de cair no desequilíbrio de cobertura.

Das muitas matérias produzidas por O POVO sobre o caso, a maioria seguiu por este caminho. Algumas mesclaram o nome de Aline Albuquerque com a menção ao cargo que exerceu em Massapê (“Alece aprova indicação de ex-prefeita Aline Albuquerque para a Arce”) ou com a filiação paterna (“Filha de Zezinho, Aline Albuquerque é indicada por Elmano para cargo na Arce”).

Em dois casos o nome dela foi suprimido do título: “Filha de Zezinho é indicada por Elmano para cargo na Arce”, publicada na edição de terça-feira, 26, do O POVO e “Oposição critica indicação de ex-prefeita para Arce: ‘Trem da alegria dos derrotados’, publicada na coluna Vertical em versão digital na segunda-feira, 25.

Foto do Ombudsman

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?