
Paula Vieira, socióloga e cientista política. Professora. Pesquisadora do Laboratório de estudos sobre política, eleições e mídia (Lepem-UFC)
Paula Vieira, socióloga e cientista política. Professora. Pesquisadora do Laboratório de estudos sobre política, eleições e mídia (Lepem-UFC)
O julgamento dos envolvidos na tentativa do golpe contra o Estado democrático brasileiro está em curso. Proponho lançar olhar sobre como a desconfiança nas instituições de representação brasileiras é um componente para compreender as ações no Congresso Nacional e as articulações para o projeto de anistia.
A Pesquisa Genial/Quaest publicada em 8 de setembro de 2025, aplicada em agosto, verificou o nível de confiança nas instituições democráticas. Como resultado, indicou, em relação ao parlamento, 45% de confiança e 52% não confiam.
Os partidos políticos, por sua vez, foram apontados com 36% de confiança e 63% não confiam. As instituições de maior confiança, segundo a pesquisa, foram as de fé (igreja) e força (exército, polícia).
Segunda a pesquisa Genial/Quaest, as três instituições indicadas como mais confiáveis foram a Igreja Católica (73% confiam), Polícia Militar (71% confiam) e os militares/forças armadas (70%). As igrejas evangélicas tiveram uma queda no percentual de confiança: em 2023, era de 68% e, nesta pesquisa de 2025, é de 58%.
Sob o viés da ciência política, o primeiro ponto que considero é que a pessoas são influenciadas por identidades sociais e grupos que participam.
Não há uma proximidade com uma agenda construída pelos partidos. Por isso, é mais interessante para os parlamentares a organização por bancadas temáticas, pois conseguem mobilizar o apoio de suas bases eleitorais.
O segundo ponto é que a escolha do voto tende a ser principalmente orientada pelas características pessoais do representante, evidência indicada na desconfiança nos partidos e dos próprios parlamentares.
Este tópico chama atenção por abrir espaço para ascensão de figuras populistas que encontrem uma “janela de oportunidade” na vacância de uma liderança.
Neste caso, vale observar o potencial mobilizador de aprovação ou rejeição, como nos atos do 7 de setembro de 2025 que reuniram como pauta a anistia total, mas como beneficiado principal o ex-presidente em julgamento, Jair Bolsonaro, e com a rejeição ao Ministro do STF Alexandre de Moraes.
Vejam que a agenda de mobilizações utiliza figuras envolvidas no processo para dar visibilidade à agenda. Ou seja, a confiança e desconfiança nas instituições são vinculadas a percepção sobre os indivíduos que ocupam estes espaços.
O terceiro ponto que considero é a configuração partidária articulada com a política regional. A desconfiança em partidos tenderia ao seu enfraquecimento regional. Entretanto, as instituições partidárias conseguem articulação quando estão vinculados aos grupos políticos estaduais.
Esses três pontos nos auxiliam a compreender a ação parlamentar via bancadas temáticas que, somadas aos parlamentares eleitos por suas características pessoais e força em grupo político regional, fragmentam as agendas movimentadas no Congresso. No jogo orçamentário e sem transparência, pesa as demandas regionais de manutenção e ampliação de base eleitoral.
No jogo de reforçar a soberania nacional e as instituições democráticas, esbarramos na fragmentação da representação política parlamentar em pessoalidade e especificidades regionais que tem como termômetro interesses particulares de grupos que visam a permanência no poder político institucional.
A consequência é a instabilidade das instituições e a imprevisibilidade das ações do Congresso diante de questões nacionais, como no julgamento sobre a tentativa de golpe. Há, também, o distanciamento sobre a construção de instituições que defendam o interesse coletivo, voltadas para construção do bem estar comum.
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