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Simone Biles enterra de vez a "coisa de mulherzinha"
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Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha

Simone Biles enterra de vez a "coisa de mulherzinha"

A ginasta olímpica Simone Biles surpreendeu seu país e as Olimpíadas de Tóquio ao desistir da competição para preservar a saúde mental. A decisão de Biles lança luz sobre a postura das mulheres diante das pressões da vida pessoal e profissional
Tipo Análise
(ARQUIVOS) Neste arquivo, foto tirada em 27 de julho de 2021, a americana Simone Biles reage durante a final da equipe feminina de ginástica artística durante os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 no Centro de Ginástica Ariake em Tóquio. - Simone Biles retirou-se da ginástica olímpica em 28 de julho de 2021. (Foto de Loic VENANCE / AFP) (Foto: LOIC VENANCE / AFP)
Foto: LOIC VENANCE / AFP (ARQUIVOS) Neste arquivo, foto tirada em 27 de julho de 2021, a americana Simone Biles reage durante a final da equipe feminina de ginástica artística durante os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 no Centro de Ginástica Ariake em Tóquio. - Simone Biles retirou-se da ginástica olímpica em 28 de julho de 2021. (Foto de Loic VENANCE / AFP)

 

Acostumadas, por séculos, a engolir sapos e fazer das tripas coração, como dizia minha mãe, as mulheres da nova geração reagem e põem limites às suas dores. E não falo apenas das dores físicas que costumam deixar impressões no nosso corpo de mulher, mas, principalmente, as dores da alma, aquelas que doem silenciosamente quando a cabeça pende no travesseiro.

Por isso, achei digna a decisão da ginasta Simone Biles em desistir das provas nas Olimpíadas de Tóquio no início desta semana. Saiu para preservar a saúde mental. Não se estar ou sentir-se bem, aos poucos, deixa de ser “coisa de mulherzinha”, “chilique de menininha”, “falta de homem” ou "de uma rede para lavar”. Não estar bem é sentir que algo está tão errado por dentro que turva tudo pelo lado de fora. É dar de cara com um incômodo imenso que não se sabe direito de onde vem, mas ele existe a ponto de quase poder ser tocado.

Nesses momentos, os compromissos, a família e os outros crescem como monstros na nossa frente e, por vezes, o antídoto é esconder rapidamente a nossa fragilidade e seguir, cambaleando, mas seguir, quando o ideal seria dizer: Não estou bem. Espera um pouco. Preciso de um tempo. Não é possível dessa forma. Não quero. Não vou.

 

" Há um lugar muito íntimo que apenas cada uma de nós reconhece como confortável. É desse lugar que podemos aprender a falar."

 

Uma vez, ouvi que um "não" dito por uma mulher é como um “não” dito por um diplomata. E continuou o rapaz: “Diplomata quando diz não, na verdade, está dizendo um ‘talvez´”. E a história está cheia de mulheres que o mundo viu morrer, diplomaticamente, dominadas pelos demônios dos quais falou Simone Biles. Na última quinta-feira, a ginasta afirmou por meio das suas mídias: “Assim que eu piso no tablado, sou só eu e minha cabeça, lidando com demônios. Tenho que fazer o que é certo para mim e me concentrar na minha saúde mental”.

Quantas mulheres não conseguiram lidar com seus demônios como Marilyn Monroe, Amy Winehouse, Janis Joplin, Judy Garland, todas elas famosas, ricas e lindas. Simone não quer apenas fazer movimentos na ar, cair equilibradíssima e ganhar medalhas: “Sinto que não estou me divertindo tanto. Senti que seria melhor ficar em segundo plano, trabalhar minha concentração e bem estar”, disse numa entrevista após deixar a competição.

Nenhuma de nós é só trabalho, resultados, planilhas, sucesso, filhos, marido, parentes, os outros. Há um lugar muito íntimo que apenas cada uma de nós reconhece como confortável. É desse lugar que podemos aprender a falar.

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