Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Regina Ribeiro é jornalista e leitora voraz de notícias e de livros. Já foi editora de Economia e de Cultura do O POVO. Atualmente é editora da Edições Demócrito Rocha
Acostumadas, por séculos, a engolir sapos e fazer das tripas coração, como dizia minha mãe, as mulheres da nova geração reagem e põem limites às suas dores. E não falo apenas das dores físicas que costumam deixar impressões no nosso corpo de mulher, mas, principalmente, as dores da alma, aquelas que doem silenciosamente quando a cabeça pende no travesseiro.
Por isso, achei digna a decisão da ginasta Simone Biles em desistir das provas nas Olimpíadas de Tóquio no início desta semana. Saiu para preservar a saúde mental. Não se estar ou sentir-se bem, aos poucos, deixa de ser “coisa de mulherzinha”, “chilique de menininha”, “falta de homem” ou "de uma rede para lavar”. Não estar bem é sentir que algo está tão errado por dentro que turva tudo pelo lado de fora. É dar de cara com um incômodo imenso que não se sabe direito de onde vem, mas ele existe a ponto de quase poder ser tocado.
Nesses momentos, os compromissos, a família e os outros crescem como monstros na nossa frente e, por vezes, o antídoto é esconder rapidamente a nossa fragilidade e seguir, cambaleando, mas seguir, quando o ideal seria dizer: Não estou bem. Espera um pouco. Preciso de um tempo. Não é possível dessa forma. Não quero. Não vou.
" Há um lugar muito íntimo que apenas cada uma de nós reconhece como confortável. É desse lugar que podemos aprender a falar."
Uma vez, ouvi que um "não" dito por uma mulher é como um “não” dito por um diplomata. E continuou o rapaz: “Diplomata quando diz não, na verdade, está dizendo um ‘talvez´”. E a história está cheia de mulheres que o mundo viu morrer, diplomaticamente, dominadas pelos demônios dos quais falou Simone Biles. Na última quinta-feira, a ginasta afirmou por meio das suas mídias: “Assim que eu piso no tablado, sou só eu e minha cabeça, lidando com demônios. Tenho que fazer o que é certo para mim e me concentrar na minha saúde mental”.
Quantas mulheres não conseguiram lidar com seus demônios como Marilyn Monroe, Amy Winehouse, Janis Joplin, Judy Garland, todas elas famosas, ricas e lindas. Simone não quer apenas fazer movimentos na ar, cair equilibradíssima e ganhar medalhas: “Sinto que não estou me divertindo tanto. Senti que seria melhor ficar em segundo plano, trabalhar minha concentração e bem estar”, disse numa entrevista após deixar a competição.
Nenhuma de nós é só trabalho, resultados, planilhas, sucesso, filhos, marido, parentes, os outros. Há um lugar muito íntimo que apenas cada uma de nós reconhece como confortável. É desse lugar que podemos aprender a falar.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.