Logo O POVO+
Bolsonaro ainda será assunto por bastante tempo
Comentar
Foto de Regina Ribeiro
clique para exibir bio do colunista

Sou jornalista de formação. Tenho o privilégio de ter uma vida marcada pela leitura e pela escrita. Foi a única coisa que eu fiz na vida até o momento. Claro, além de criar meus três filhos. Trabalhei como repórter, editora de algumas áreas do O POVO, editei livros de literatura, fiz um mestrado em Literatura na Universidade Federal do Ceará (UFC). Sigo aprendendo sempre. É o que importa pra mim

Bolsonaro ainda será assunto por bastante tempo

As últimas pesquisas Datafolha parecem sinalizar uma menor disposição para acirramentos políticos, mesmo em vias da prisão de Jair Bolsonaro após a condenação pelo STF. No entanto, o Brasil ainda é, nas relações cotidianas, um país cindido em termos políticos
Tipo Opinião
Comentar
Manifestação de apoiadores de Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, tem bandeiras de Brasil e Estados Unidos (Foto: NELSON ALMEIDA / AFP)
Foto: NELSON ALMEIDA / AFP Manifestação de apoiadores de Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, tem bandeiras de Brasil e Estados Unidos

Recentemente, li um texto do escritor Ruy Castro no qual ele dizia que estava se despedindo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Para Castro, a condenação e a possível prisão do ex-mandatário, após a conclusão de todos os devidos recursos, subtraíam o personagem do rol dos seus interesses jornalísticos. Bolsonaro já não significa, para o autor, absolutamente nada em termos de assunto para uma crônica de jornal.

Depois que li a crônica do Ruy Castro, me dei conta que a pesquisa Datafolha, publicada em setembro último, afirmava que 50% dos entrevistados consideram que o ex-presidente deveria ser preso por atentar contra a democracia, enquanto 43% se posicionaram contra a prisão.

Em agosto passado, os dados da pesquisa Datafolha mostravam um maior acirramento: 48% contra 46%. Nesse mesmo mês, o Datafolha ouviu brasileiros, pela OAB, sobre o que achavam do regime democrático e o resultado afirmou que 76% dos que responderam a pesquisa consideravam que a democracia é melhor do que qualquer outro sistema de governo e 8% disseram que, em determinadas situações, uma ditadura seria melhor.

Em dezembro do ano passado, a mesma pesquisa Datafolha apontou que os apoiadores da democracia eram 69% e os mesmos 8% se debandeavam para uma ditadura.

Apesar de considerar que existe ainda um acirramento político enorme no Brasil, às vezes, baseada em algumas dessas pesquisas e do que escuto em alguns grupos de pessoas tão diversas, concluo que estamos vivendo numa certa arena onde se respira melhor.

Jair Bolsonaro está em vias de ser preso e o mundo não acabou e não vai acabar. Não sou louca de achar que os 43% das pessoas crédulas que o ex-presidente não tem nada a ver com o plano de dar um golpe no País estão dormindo. Eles estão infelizes e tristes, mas a vida segue e Bolsonaro não parece mesmo ser uma preocupação nacional. De repente, Ruy Castro tem razão, pensava.

Mas, mudei de ideia. Outro dia, estava conversando em um grupo e a política, claro, entrou na roda. Daí uma das moças presentes se levantou e disse que não estava à vontade com aquela conversa, que desculpássemos, mas ela sairia e quando o assunto fosse outro, mandássemos um "zap" e ela retornava. “Eu odeio esse assunto, simplesmente odeio”. Mudou de mesa. Foi a coisa mais desconcertante que vivi nos últimos dias.

A moça de 44 anos, bonita, vive confortavelmente, pratica esporte, participa de maratona, festeira, uma pessoa agradabilíssima, querida mesmo. Já tomamos litros de café juntas, e só ali percebi que ela nunca diz nada quando opino sobre alguma coisa política.

Naquela tarde, acho que a tomamos como uma de nós. Fui até a mesa dela, conversamos um pouco, pedi que retornasse, que o assunto agora era roupa. Voltei para casa certa de que Ruy está enganado, Bolsonaro ainda é assunto.

Foto do Regina Ribeiro

Análises. Opiniões. Fatos. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?