
Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO
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Antônio Pinto Nogueira Accioly (1840-1921) foi influente político que personificou no Ceará o poder das oligarquias na República Velha. Herdeiro político do sogro, senador Pompeu (Tomás Pompeu de Sousa Brasil), ascende ao protagonismo política após sua morte, inicialmente como presidente da província em 1878 por influência do aliado ministro do Segundo Reinado Visconde de Sinimbu (João Lins Vieira Cansanção de Sinimbu), a seguir passa a deputado na Câmara dos Deputados Gerais, por pouco tempo, em 1884, é primeiro vice-presidente da Província do Ceará.
O advento da República, em 1889, mexeu com o xadrez político cearense, até então, as atividades político-partidárias eram exercidas por liberais e conservadores, o movimento republicano não trafegava ainda nesta seara. O processo de adaptação dos grupos na política sempre existiu para manter ou conquistar domínios, assim aconteceu no Ceará. Em 19.07.1890, Nogueira Accioly funda a União Republicana, da fusão com o Centro Republicano surge em 1891 o Partido Republicano Federalista.
Accioly presidia a Assembleia Legislativa e, indiretamente, contribuiu para deposição do deodorista presidente da província general Clarindo de Queiroz, em 17.02.1891, e ascensão do novo presidente coronel José Freire Bezerril Fontenele. Passa a ocupar a primeira vice-presidência do Estado no período de 1892-1896. A gestão de Bezerril é bem recebida pela população e acolheu a indicação de Nogueira Acciolly para sucedê-lo, até a oposição via qualidades e virtudes no sucessor.
De 1896 a 1900, Accioly governa o Ceará com amplo apoio da Assembleia Legislativa, seus projetos para o Estado, coincidentemente, eram pagos mas não executados. Compadrio, clientelismo, autoritarismo, corrupção, nepotismo tornaram-se a marca do seu governo.
No âmbito federal, Campos Sales assume a Presidência da República, em 1898, estabelecendo como estratégia de administração a “política dos governadores”, que, em síntese, trata-se de apoiar grupos políticos (oligarquias) estaduais que fornecessem sustentação política à nível federal enquanto os estados poderiam ser administrados como bem quisessem, incluindo seu apoio, quando necessário. Lembremos que o Brasil vivia a República Velha (1889-1930), País agrário, analfabetismo altíssimo, concentração de renda, voto de cabresto e coronelismo dominando os vários estados.
Pedro Borges o sucedeu na presidência do Estado no período de 1900-1904, a princípio, com planos de voltar-se contra o antecessor ao não aprovar as contas negativas da gestão anterior e denúncias de corrupção, mas, Nogueira Accioly, eleito senador, contornou propondo acordo, no mandato seguinte voltaria à presidência e Borges seria senador. Assim aconteceu, Accioly retoma à presidência estadual no período seguinte (1904-1908).
O descontentamento crescia entre a população, principalmente, em Fortaleza, via oposição, imprensa e setores comerciais. A violência contra os opositores foi normatizada, controle da nomeação de juízes e qualificação eleitoral mantinha o controle dos eleitores que pudessem ser contrários, como apoio no interior aos coronéis que fossem fiéis e nomeação dos intendentes (prefeitos) municipais.
A reeleição de Accioly para o período de 1908-1912 foi sob enorme insatisfação dos setores da sociedade, irregularidades eleitorais, mas, apoio do governo federal. Dois terços da Assembleia Legislativa compunham-se de familiares ou correligionários, parentes eram loteados nos cargos públicos, esses anos foram a continuidade dos anteriores. Carestia, economia paralisada, projetos públicos obscuros e violência contra quem ousasse contrariá-los.
Domingos Carneiro Vasconcelos foi astutamente escolhido para suceder Accioly como estratégia de manusear a escolha na convenção partidária de 20.12.1911. O estopim da revolta popular que se seguiu foi a entrevista do escolhido afirmando que seria uma continuidade da administração Accioly.
Manifestações populares foram organizadas na Praça do Ferreira e Passeio Público, genro de Clarindo de Queiroz o coronel Marcos Franco Rabelo foi escolhido para representar a oposição para por fim ao domínio acciolino. A sequência das agressões continua com a participação do Batalhão da Segurança Pública e Batalhão da Guarda Civil. Em 29.12.1911, jovens pró-Franco Rabelo sofrem violência na Praça do Ferreira, Junta Comercial recorre à Presidência da República que se exime da responsabilidade nos estados. Revoltada, a população vai à praça armada, há um recuo de Accioly neste momento, mas, ameaça a passeata agendada para 14.01.1912 a ser rechaçada pela cavalaria. Articuladora da passeata, a Liga Feminina consegue a participação do coronel José Faustino (comandante da Inspetoria Militar do Ceará) no ato, sufocando a ameaça governista.
A cada dia a revolta crescia, a Praça do Ferreira tornou-se o epicentro das manifestações que passaram a ser diárias. No domingo seguinte, 21.01, foi organizada passeata com 600 crianças vestidas de branco, enfeitadas de verde-amarelo e medalhões do Franco Rabelo. A passeata foi dispersa na Praça do Ferreira sob tiros e patas de cavalo da cavalaria, dentre mortos e feridos, muitas crianças.
Piquetes espalharam-se pela cidade, placas das ruas, calçamento, bancos de praças foram destruídos e bondes revirados. Entradas e saídas da cidade foram bloqueadas e sede do governo cercado com bloqueio de energia, água e alimentos. As forças do governo foram distribuídas em pontos da cidade, na proteção dos órgãos públicos e residência presidencial, destituídas de comando praticaram bárbaras arbitrariedades. Com o aperto do cerco, aliados e grosso da força de segurança de Accioly se dispersaram.
Sem sustentação, Nogueira Accioly renuncia sob as seguintes condições dos revoltosos: “Accioly jamais se candidataria ao Governo do Ceará; se comprometia a rejeitar qualquer ajuda do Governo Central, no sentido de reintegrá-lo na Presidência do Estado do Ceará. Deixaria imediatamente o Palácio da Luz e se abrigaria no Quartel da Inspetoria do Ceará, aguardando o primeiro navio que o levaria com a família para o Sul; deixaria dois reféns: José Accioly e Graco Cardoso, tutelados, mas com liberdade de trânsito” (ANDRADE, João Mendes de. A oligarquia acciolina e a política dos governadores. História do Ceará. Fundação Demócrito Rocha). Aceitas as condições, em 24.01.1912, assumia o governo o primeiro vice-coronel Antônio de Carvalho Mota. Chegava ao fim a oligarquia de Nogueira Accioly.
Abordaremos, na próxima semana, o desenlace desses acontecimentos no Ceará.
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