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Confederação do Equador: Nordeste independente
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Historiador, pesquisador, escritor, editor do O POVO.Doc e ex-editor de Opinião do O POVO

Confederação do Equador: Nordeste independente

Os movimentos emancipatórios brasileiros nos séculos XVIII e XIX refletem os anseios libertários na reformulação nacional em bases democráticas, inspirados nas ideias iluministas e republicanas, desatrelados das variantes do colonialismo. A Confederação do Equador, dentre as múltiplas leituras, ressalta a questão identitária da região Nordeste e a vocação democrática
Tipo Análise
Bandeira da Confederação do Equador (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Bandeira da Confederação do Equador

A Confederação do Equador foi um movimento contestatório ao autoritarismo do jovem imperador D. Pedro I no recém-independente Brasil, em 1824. O nome do movimento revolucionário deve-se à proximidade das províncias participantes com a linha do Equador. Vamos buscar, nesta coluna, compreender a origem e os desdobramentos da Confederação que simbolizam o protagonismo do Nordeste nas lutas libertárias do Brasil.

As questões políticas e econômicas foram deflagradoras da Confederação do Equador. Vamos reavivar a memória. Vivíamos o começo do século XIX, a então colônia do Brasil com a vinda da família real portuguesa em 1808, fugida das tropas de Napoleão Bonaparte invasoras de Portugal, ganhou outro status econômico, político e social. A crescente autonomia brasileira foi ameaçada com a Revolução do Porto de 1820, a convocação das Cortes motivou o regresso de D. João VI à Portugal no ano seguinte, cá deixando D. Pedro como regente.

Mesmo com a independência do Brasil, consentida e remunerada, em 1822, pairava desconfiança com as intenções de D. Pedro I de recolonizar as terras brasileiras à Portugal, visto manter-se herdeiro da coroa portuguesa.

"Pernambuco foi origem e centro das principais ações da Confederação do Equador, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte participaram e contribuíram em diferentes escalas e particularidades."

A economia pernambucana dividia-se entre o norte, açucareiro e algodoeiro, aberto às ideias liberais, interessado nas mudanças advindas da revolução industrial e repercussão nos negócios, avesso às restrições de transportes, comércio e impostos agora atrelados ao Rio de Janeiro. Do outro lado, o sul, eminentemente açucareiro, conservador, decadente, atrelado ao antigo modelo de submissão e benefícios de exportação açucareira vinculados e dependentes do império português e, com a independência, ao novíssimo império brasileiro.

Almejava-se com a independência uma espécie de federalismo na jovem nação brasileira, ampliando autonomia das províncias, diminuindo os privilégios dos portugueses residentes no Brasil, impulsionando a economia, agora, desatrelada das restrições coloniais portuguesas. A dissolução da Assembleia Constituinte por D. Pedro I, em 1823, a promulgação de uma nova Constituição imposta no ano seguinte sem a participação dos representantes das províncias com a criação do poder moderador que desmantelava a autonomia dos três poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário) mantinha vivo o absolutismo, centralismo e autoritarismo na figura do imperador.

O ambiente de insatisfação e ações autoritárias do império brasileiro fluíram para uma série de movimentos contestatórios em Pernambuco, em 1823, como a deposição do aliado imperial Francisco Pais Barreto, desaprovação da posse do possível nome de consenso José Carlos Mayrink da Silva Ferrão e, finalmente, Manoel de Carvalho Paes de Andrade assumindo a presidência da província e deflagrando oficialmente a Confederação do Equador em 2 de julho de 1824.

A falta de representatividade e adesão do interior pernambucano, a desistência da elite algodoeira do norte ao movimento em virtude da proposta de abolição da escravatura, aliado à forte repressão das forças do império esmagaram a incipiente república no Nordeste brasileiro.

Empréstimo à Inglaterra fez-se para contratar mercenários, como o almirante britânico Thomas Cochrane, na parte terrestre os soldados foram comandados pelo brigadeiro Francisco de Lima e Silva. O embate das forças era desigual, fragilizado com as deserções dos apoiadores da Confederação. Trinta e um revoltosos foram condenados à morte, Manoel de Carvalho Paes de Andrade fugiu do País, Frei Caneca é considerado o grande mártir do movimento.

Como retaliação, D. Pedro I desmembra a comarca do Rio de São Francisco do território pernambucano, através do decreto de 7 de julho de 1824, entregue à administração mineira e anexando à Bahia em 1827.


A Confederação do Equador no Ceará

A Confederação do Equador, também, pode ser entendida como a extensão e ampliação dos anseios e indignação da Revolução Pernambucana de 1817, vários dos seus personagens atuaram decisivamente nos dois movimentos.

Tanto na Confederação do Equador, quanto na Revolução Pernambucana, o Ceará destacou-se. Para descrever a participação cearense na Confederação vamos recorrer ao texto do jornalista, poeta e escritor José Hélder de Souza, publicado no O POVO, em 5 de julho de 1987.

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