Tânia Alves é formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no O PCeará e Política. Foi ombudsman do ornal por três mandatos (2015, 2016 e 2017). Atualmente, é coordenadora de Jornalismo..
Tânia Alves é formada em jornalismo pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Começou no O PCeará e Política. Foi ombudsman do ornal por três mandatos (2015, 2016 e 2017). Atualmente, é coordenadora de Jornalismo..
A cena do homem segurando a barriga, com as roupas cobertas de sangue, apoiado pelo filho e outros homens caminhando pela linha do trem rumo ao posto de saúde, não saiu da minha cabeça até hoje. Depois, a notícia correu pela cidade que teria sido resultado de uma facada fruto de uma briga numa comunidade próxima da sede de Reriutaba.
A imagem da infância foi a primeira real que vi de violência. Ela me vem na cabeça todas as vezes, na minha vida adulta, quando me deparo com episódios (muito mais graves) como a do congolês Moïse Kabagambe brutalmente assassinado no Rio de Janeiro por esses dias, ou da travesti Dandara, que foi espancada e morta em Fortaleza em fevereiro de 2017.
A visão de Moïse, um homem negro, refugiado, sendo espancado, amarrado e morto a pauladas ao ar livre, em meio a uma paisagem linda da beira-mar, com pessoas passeando por ali, é a prova de como ainda precisamos evoluir. É a demonstração de que até hoje reproduzimos um modelo escravagista de pensar e agir. Esta marca se sobressai sobre as nossas cabeças todos os dias, quando adotamos viver em meio à desigualdade, onde alguns precisam morar em morros, correndo risco de morrer todos os anos, a cada inverno, e outros que acumulam fortunas inimagináveis.
Concordar que uma pessoa negra e pobre receba uma surra no meio da rua por supostamente estar embriagado, ou por ter feito arruaça, é escancarar o quanto ainda estamos presos num tempo em que escravizamos nossos semelhantes por causa da cor da pele. É concordar que a fúria pode oferecer algum momento de prazer e poder.
Aceitar o espancamento, machucar o outro querendo dar lição, só mostra a nossa fragilidade enquanto ser humano, de sentir o outro, de enxergar para além do aparente. Escancara a nossa incapacidade de buscar um país com mais igualdade de condições e de bem comum.
Vivemos um período muito estranho, de luta entre a força do individual e do coletivo. Entre a suavidade que acolhe e a brutalidade que afasta, entre enxergar o coração e o estereótipo. O caso de Moïse só demonstra que ainda temos um longo caminho a percorrer, mas ele é conquistado devagarzinho, todos os dias, quando uns poucos iluminados se dispõem a falar contra a maré do egoísmo. Estes que lutam entrarão para a história, pois já entendem, mesmo involuntariamente, que “fora da igualdade social não há salvação”.
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