As mulheres que fazem passeio ciclístico pela Zona Norte estão mostrando que os ipês roxos estão florindo nas vereadas de terra batida por onde elas passam. Pelos caminhos que escolhem entre matos crescidos, cercas e casas isoladas, elas param, tiram fotos e compartilham nas redes como a dizer que é necessário olhar para as flores que brotam na natureza neste momento de pós-estação chuvosa no Ceará.

Foi inspirado nelas que enxerguei o colorido que está se formando nas ruas de Fortaleza aqui e acolá. As flores estão mais bonitas e mais vivas por este tempo. Como a agradecer a graça pelo bom inverno que a Cidade recebeu entre fevereiro e maio, com a chuva se estendendo um pouquinho por junho que passou. No trajeto de casa para o trabalho, dentro do carro, percebo o vermelho mais forte que se apresenta nelas nos muros das casas. Também vi flores brancas aos montes escapando do paredão que separa o prédio da rua. Estão viçosas e balançam com o vento que começa a chegar por aqui por este mês de férias e se estende mais fortemente até agosto. São muitas em cerca de quatro quilômetros. Também vi o amarelo que agora se sobrepõe tímido nos canteiros da avenida Domingos Olímpio. Contei pelo menos oito casas com seus muros enfeitados de flores no percurso.

Nessa descoberta das flores que sempre estiveram ali, mas que eu não enxergava, senti a possibilidade de se ter um segundo de alívio em meio a agressões de todos os tipos com as mulheres. Isto tem sufocado a gente. Enquanto vejo as flores no caminho, penso se alguém está conseguindo mostrar ‘flores’ (como eu as enxergo) para a atriz Klara Castanho, para que ela não sucumba e consiga se sustentar desta avalanche. Relembro as mulheres humilhadas pelo machão ex-presidente da Caixa Econômica Federal (CEF) que era sustentado pela arrogância e bestialidades de quem pensa ter poder nas mãos.

Neste momento, agradeço a força daquelas meninas da CEF para conseguir denunciar o fraco homem infeliz. Nesses devaneios, me vem uma frase do Sermão da Montanha, escrito pelo evangelista Lucas, na Bíblia: “Olhai os lírios dos campos, que não trabalham e não tecem e, no entanto, nem Salomão, em toda sua gloria se vestiu como um deles”. Saber enxergar as flores entre os muitos espinhos, nesse momento, é um ânimo. Dá forças para permanecer até conseguir entrar em um novo tempo.