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Ensinamos a IA generativa a ler o mundo; a Physical AI quer vivê-lo
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Vladimir Nunan é CEO da Eduvem, uma startup premiada com mais de 20 reconhecimentos nacionais e internacionais. Fora do mundo corporativo, é um apaixonado por esportes e desafios, dedicando-se ao triatlo e à busca contínua pela superação. Nesta coluna, escreve sobre tecnologia e suas diversidades

Vladimir Nunan tecnologia

Ensinamos a IA generativa a ler o mundo; a Physical AI quer vivê-lo

Enquanto a IA generativa aprende com dados, a Physical AI aprende com o mundo real
ParaTodosVerem: uma mulher observa de perto um robô humanoide com olhos iluminados em azul. A cena é envolta por luzes frias e reflexos tecnológicos, criando um contraste entre a expressão humana e o brilho metálico da máquina (Foto: Imagem gerada por Inteligência Artificial (script próprio): Midjourney)
Foto: Imagem gerada por Inteligência Artificial (script próprio): Midjourney ParaTodosVerem: uma mulher observa de perto um robô humanoide com olhos iluminados em azul. A cena é envolta por luzes frias e reflexos tecnológicos, criando um contraste entre a expressão humana e o brilho metálico da máquina

Modelos como ChatGPT, Gemini e Claude têm sido capazes de gerar textos, resolver problemas e até compor músicas, o que leva muitos a acreditar que a Inteligência Artificial pensa. No entanto, pensar e processar dados são fenômenos distintos.

A IA generativa reconhece padrões, organiza informações e responde probabilisticamente. O que ela faz é sofisticado, mas não é pensamento: é leitura em escala gigantesca.

A IA generativa como leitora de padrões

A IA generativa é construída sobre redes neurais profundas treinadas em vastas bases de dados de texto, imagem e som.

Esses modelos, conhecidos como Large Language Models (LLMs), aprendem a prever a próxima palavra, som ou pixel, baseando-se em padrões estatísticos. Essa capacidade dá a impressão de compreensão, mas, na verdade, ela apenas replica combinações que já observou.

O resultado é uma leitura algorítmica do mundo. A IA não entende o conteúdo, apenas reconhece regularidades e as reproduz. Ela é uma leitora brilhante, capaz de decodificar e reescrever o conhecimento humano, mas sem vivê-lo.

Por que a IA Generativa não pensa

Pensar exige consciência, intenção, julgamento e experiência corporal. Esses elementos estão ligados à biologia, à percepção e às emoções humanas. A IA generativa não possui corpo, nem instintos, nem subjetividade. Ela calcula, mas não reflete.

A pesquisadora Melanie Mitchell, do Santa Fe Institute, explica que esses modelos não têm entendimento semântico, apenas mapeamentos sintáticos. Ou seja, compreendem a forma da linguagem, mas não o seu significado.

A objeção da fisicalidade

A “objeção da fisicalidade” é uma das várias objeções que Alan Turing discutiu e refutou em seu artigo seminal de 1950, Computing Machinery and Intelligence.

Nessa crítica, argumentava-se que para pensar, um ser precisa ter um corpo físico com propriedades biológicas específicas, impossíveis de serem reproduzidas por uma máquina digital.

Turing rejeitou essa ideia ao afirmar que o pensamento poderia emergir de processos computacionais, independentemente da matéria. No entanto, mais de 70 anos depois, essa objeção ganha novo fôlego.

A própria discussão sobre a Physical AI mostra que a fisicalidade talvez seja, sim, um componente necessário da cognição.

Se a IA generativa é pura leitura de símbolos, a Physical AI é o esforço de devolver corpo ao pensamento.

Um exemplo simples: todos os livros de medicina

Imagine uma IA Generativa que recebesse todos os livros de medicina do mundo. Ela poderia descrever doenças, indicar tratamentos e até gerar diagnósticos simulados. No entanto, isso não a tornaria uma médica.

Ser médico exige interpretar sinais físicos, sentir o pulso, escutar a respiração e compreender nuances emocionais do paciente. O conhecimento está nos livros, mas a sabedoria está na experiência vivida. A IA Generativa domina o primeiro; o ser humano, o segundo.

O que é a Physical AI

A próxima fronteira tecnológica é a Physical AI, ou inteligência artificial física. Essa abordagem busca unir cognição e corporeidade. Enquanto a IA generativa aprende com dados, a Physical AI aprende com o mundo real.

Ela integra sensores, motores, percepção espacial e sistemas de aprendizado autônomo que permitem às máquinas perceber, reagir e adaptar-se. A Physical AI representa a tentativa de superar a objeção da fisicalidade de Turing, conectando cálculo com experiência.

Segundo a revista Nature Machine Intelligence, o objetivo da Physical AI é “incorporar cognição no mundo material, permitindo que as máquinas compreendam o ambiente por meio da vivência, não apenas da informação”.

A diferença entre IA generativa e Physical AI

A IA generativa é a inteligência da leitura. Ela trabalha com dados simbólicos, interpreta textos e cria novas combinações. Já a Physical AI é a inteligência da interação. Ela sente o ambiente, reage a estímulos e aprende com o corpo.

A Generativa simula o pensamento humano com base em linguagem; a Physical tenta reproduzir o processo de aprendizado humano, combinando percepção e ação. A primeira está nos servidores. A segunda começa a ganhar forma nos robôs que aprendem com o ambiente.

As limitações da IA generativa

Sem corpo e sem percepção, a IA generativa é como uma mente sem mundo. Ela pode descrever o sabor do café com base em textos, mas jamais saberá o que é sentir o gosto. Sua ausência de experiência impede o entendimento contextual e emocional.

A Physical AI, ao contrário, busca construir essa vivência: reagir à textura, à temperatura, à resistência. Cada sensação cria aprendizado, algo que nenhuma base de dados é capaz de fornecer.

O papel humano na era da IA

Compreender essa diferença é fundamental. A IA generativa é uma ferramenta de ampliação cognitiva, capaz de ler e sintetizar volumes de informação impossíveis para o ser humano. Mas ela ainda precisa de nós para dar sentido ao que lê.

O julgamento, a empatia e o significado permanecem humanos. A generativa nos ajuda a pensar melhor, mas não pensa por nós.

O futuro com a Physical AI

A Physical AI representa o próximo passo na evolução da inteligência artificial: o das máquinas que aprendem com o corpo. Robôs que tocam, sentem e se adaptam estão em desenvolvimento em universidades como Stanford e no MIT. Eles aprendem por tentativa e erro, como bebês descobrindo o mundo.

Essa integração entre o físico e o cognitivo traz possibilidades imensas, mas também novos desafios éticos. Será que quando uma máquina começar a “sentir”, ainda poderemos dizer que ela não vive?

Conclusão: da leitura à experiência

A IA generativa é uma leitora genial. Ela interpreta o que a humanidade já escreveu. Mas a compreensão verdadeira nasce da experiência. É isso que a Physical AI tenta alcançar: aprender com o mundo, não apenas sobre o mundo.

Enquanto a generativa amplia nossa capacidade de leitura e síntese, a Physical inaugura o início do aprendizado experiencial das máquinas. Ainda assim, o pensamento continua humano. A inteligência das máquinas é uma extensão da nossa, não sua substituta.

Foto do Vladimir Nunan

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