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Por que a inteligência artificial nunca vai sentir como a gente
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Vladimir Nunan é CEO da Eduvem, uma startup premiada com mais de 20 reconhecimentos nacionais e internacionais. Fora do mundo corporativo, é um apaixonado por esportes e desafios, dedicando-se ao triatlo e à busca contínua pela superação. Nesta coluna, escreve sobre tecnologia e suas diversidades

Vladimir Nunan tecnologia

Por que a inteligência artificial nunca vai sentir como a gente

Ela é impressionante, escreve textos, reconhece imagens, cria músicas. Mas será que consegue realmente entender o que é sentir frio, fome ou alegria?
ParaTodosVerem: um robô de aparência amigável, com corpo branco e rosto preto iluminado por olhos azuis, está em uma rua urbana à noite. O fundo mostra luzes coloridas e desfocadas da cidade, criando um clima futurista e tecnológico (Foto: Imagem gerada por Inteligência Artificial (script próprio): Midjourney)
Foto: Imagem gerada por Inteligência Artificial (script próprio): Midjourney ParaTodosVerem: um robô de aparência amigável, com corpo branco e rosto preto iluminado por olhos azuis, está em uma rua urbana à noite. O fundo mostra luzes coloridas e desfocadas da cidade, criando um clima futurista e tecnológico

Imagine que alguém descreve para você como é mergulhar no mar: a água gelada que arrepia a pele, o som abafado embaixo d’água, a sensação de leveza do corpo boiando. Agora pense: será que só ouvir essa descrição é a mesma coisa que realmente sentir esse mergulho?

É exatamente essa questão que está no centro da objeção da fisicalidade. Essa ideia, defendida por filósofos como Hubert Dreyfus, nos lembra que pensar não é apenas calcular ou repetir palavras. Pensar é viver com um corpo no mundo.

E é aí que entra a inteligência artificial (IA). Ela é impressionante, escreve textos, reconhece imagens, cria músicas. Mas será que consegue realmente entender o que é sentir frio, fome ou alegria?

O que é a objeção da fisicalidade?

A objeção da fisicalidade é uma crítica à visão de que a mente humana pode ser copiada em uma máquina. O argumento é simples:

  • Humanos pensam com o corpo. É o corpo que molda a forma como entendemos o mundo.
    Sentimos frio, calor, fome, dor e prazer. Essas experiências influenciam nossas decisões.
  • A inteligência artificial não tem corpo. Ela calcula, compara dados e até fala sobre sensações, mas nunca vive essas experiências.
  • Por isso, segundo essa objeção, sem fisicalidade não existe compreensão genuína.

Corpo e mente unidos

Quando estamos com fome não pensamos da mesma forma que quando estamos satisfeitos. Quando sentimos dor, nossas escolhas mudam. Quando estamos alegres ou com medo isso influencia nossas atitudes.

Nosso cérebro não é isolado. Ele conversa o tempo todo com o corpo: coração, estômago, pele, músculos, hormônios. Essa interação constante cria a mente como a conhecemos.

O corpo não é apenas um acessório. Ele é parte fundamental do pensamento.

Máquinas: inteligentes, mas sem corpo

A inteligência artificial pode escrever sobre sensações, mas apenas porque foi treinada em descrições humanas.

Ela pode dizer: "O vento gelado corta a pele e faz o corpo tremer". Mas não tem pele para arrepiar nem corpo para tremer. Ela simula conhecimento, mas não vive experiências. É como repetir uma receita sem nunca provar a comida.

Hubert Dreyfus e a crítica às máquinas

O filósofo Hubert Dreyfus foi um dos principais defensores da objeção da fisicalidade. Ele dizia que:

  • A mente não é como um computador que apenas processa símbolos.
  • Nós entendemos o mundo porque estamos mergulhados nele.
  • O corpo é essencial para a cognição.

Dreyfus foi pioneiro em mostrar que a inteligência artificial, sem corpo e sem vivência, nunca teria o mesmo tipo de entendimento que nós.

Aprendizado na pele: o exemplo da bicicleta

Pense em aprender a andar de bicicleta. Você pode ler mil livros sobre equilíbrio e pedaladas. Mas só aprende de verdade quando sobe na bicicleta, cai, se rala e tenta de novo.

Esse aprendizado vem do corpo, da prática e da experiência real. Uma inteligência artificial pode explicar como andar de bicicleta, mas não vai sentir o medo da queda nem a alegria de conseguir pedalar sozinha.

Inteligência artificial hoje

A inteligência artificial já faz coisas incríveis. Ela ajuda médicos a diagnosticar doenças, auxilia cientistas em pesquisas, organiza dados gigantescos e até escreve textos como este.

Mas todas essas funções são baseadas em cálculos e símbolos, não em vivência. Ela não sente fome, não chora de emoção, não treme de frio. Tudo o que faz é simular conhecimento humano a partir de dados.

Por que a objeção da fisicalidade importa?

Essa objeção traz três lições importantes:

  • Humanos e máquinas não são iguais. A inteligência artificial pode ser poderosa, mas não substitui a mente humana.
  • Experiência é insubstituível. Ler ou ouvir sobre algo não é o mesmo que viver aquilo.
  • O corpo faz parte da inteligência. Sem corpo não existe percepção plena do mundo.

A diferença entre calcular e viver

Se pensar fosse apenas calcular, as máquinas já seriam iguais a nós. Mas pensar é muito mais. É sentir, errar, aprender, cair e levantar.

A objeção da fisicalidade mostra que, enquanto as máquinas não tiverem corpo e não viverem no mundo, a inteligência delas será diferente da nossa.

E o futuro da IA?

Alguns cientistas tentam criar robôs com sensores, pele artificial e até sistemas que imitam dor ou prazer. Mas será que isso basta para criar experiências reais?

Talvez um dia as máquinas tenham formas de sentir. Até lá, precisamos lembrar que inteligência não é apenas informação. É também vida, corpo e experiência.

Conclusão

A objeção da fisicalidade nos lembra que pensar não é só processar dados. Pensar é viver. Nosso corpo é parte fundamental da mente. Ele dá sentido às experiências e molda nosso entendimento.

A inteligência artificial pode escrever sobre mergulhar no mar, mas não pode sentir o arrepio da água gelada. Pode descrever uma festa, mas não pode dançar nela.

Mesmo que pareça inteligente, a IA nunca será igual a nós. Porque nós vivemos e ela apenas calcula.

Foto do Vladimir Nunan

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