Com atraso de dois anos, a unidade de Bio-Manguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Eusébio, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), teve projeto estrutural e de atuação alterados. A produção de fármacos a partir de uma plataforma vegetal não é mais prioridade e o projeto do prédio também está sendo alterado, para ser mais simples e atual, respondendo às transformações tecnológicas que a pandemia impôs ao mundo. Perspectiva atual de funcionamento considera pelo menos mais três anos.
"Tivemos uma série de problemas no decorrer desses últimos três anos, mas isso não significou decisão de desinvestimento", garante o presidente da Fiocruz, Mario Moreira. O que houve, conforme ele, foi uma readequação dos investimentos. Pensada originalmente para produzir fármacos com tecnologias baseadas em plataformas vegetais, o foco da unidade agora será prioritariamente a produção do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA), fundamental para fabricação de vacinas. Atualmente, apenas a planta de Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro, atua nessa produção.
"A Fiocruz do Rio não está conseguindo dar conta dessa produção e aqui, agora, passa a ser não só um projeto tecnológico, mas um projeto industrial que desafogue o Rio de Janeiro em cadeia produtiva. É uma fase importante da produção industrial de biológicos em geral, e que hoje é um dos maiores investimentos da Fiocruz", detalha o presidente da Fundação. Sobre o prédio que será sede da unidade, Mario Moreira afirma que o projeto agora não prevê mais construção com concreto e tijolo.
Módulos e contêineres deverão substituir o cimento armado, dando mais facilidade para organização, manejo e construção. "É assim que a indústria está se colocando. Não sei quando será efetivado, porque os módulos são muito caros, mas a rapidez com que se instalam vai compensar boa parte desse atraso", avalia Mario. A readequação financeira para a construção da unidade ainda não foi finalizada. O presidente da Fiocruz supõe que o processo licitatório deve ocorrer no fim deste ano e, depois, são de "três a quatro" anos até que a Bio-Manguinhos do Ceará, no Eusébio, esteja ativa.
Enquanto a fabricação de fármacos não se torna ponto mais importante da economia da Saúde do Ceará, a Fiocruz comemora o início das atividades, em maio, a inauguração do Centro de Terapia Celular, fruto de parceria com Instituto Pasteur, da França. Sua missão será desenvolver aplicações no campo das terapias avançadas, com o conhecimento especializado em doenças raras degenerativas.
"Nosso foco vai ser tratamento de câncer, doenças neurodegenerativas e doenças negligenciadas. A ideia é gerar moléculas, como chamamos medicamentos de alto custo, principalmente fármacos, baseados em anticorpos, que são moléculas caras, que oneram o SUS", detalhou João Hermínio, pesquisador e coordenador do Centro. Conforme ele, pesquisas já estão sendo realizadas na Fiocruz do Eusébio, como a plataforma tecnológica que trabalha com geração de anticorpos monoclonais para esclerose múltipla.
Outra pesquisa que será reforçada com o início das atividades na sede do Centro de Terapia Celular será sobre a terapia CAR-T Cells, terapia celular inovadora para o tratamento de cânceres hematológicos, como linfomas e leucemia. "É uma terapia personalizada, porque os linfócitos são retirados do paciente e moldados em laboratório e depois injetados novamente", explica João.
Corrigida às 16h24
Combate à dengue: Fiocruz terá fábrica de mosquito
Um projeto já anunciado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Ceará tem o combate contra a dengue como objetivo. É o método Wolbachia, que trabalha a produção de mosquitos Aedes aegypti que têm a bactéria wolbachia, microorganismo que diminui a capacidade desses vetores transmitirem dengue, zika ou chikungunya.
"O enfrentamento das arboviroses envolve várias estratégias. A vacina é uma, mas não tem suficiente para todo mundo. Possivelmente, já no segundo semestre, comece a implantação dessa fábrica de mosquito aqui no Ceará", afirmou Odorico Monteiro, pesquisador e coordenador de Inovação da Fiocruz-Ceará. Em Niterói, no Rio de Janeiro, essa tecnologia reduziu entre 65% e 70% o índice de infecção por dengue.
Sobre o desenvolvimento de uma vacina contra a dengue, o presidente da Fiocruz, Mario Moreira, informa que há uma parceria entre a Fiocruz e o Instituto Butantan, que já está na fase final de produção do imunizante contra a doença, no estágio de validação clínica. "Estamos com uma negociação com a Takeda (empresa japonesa que produz a vacina atualmente aplicada no Brasil) para ampliar a capacidade produtiva, nas instalações da Bio-Manguinhos no Rio", explica.
As tratativas são no sentido de que o IFA (Insumo Farmacêutico Ativo) chegue à Fiocruz para que haja execução de envase e da técnica de liofilização, que é retirar a umidade da vacina num ambiente à baixa temperatura, transformando a vacina líquida em pó. "Nossa expectativa é de que a produção comece ainda nesse semestre".