Seja na manifestação arquitetônica imponente, que remonta ao século XIX, ou no sorriso saudoso dos alunos e ex-alunos, reunidos em ato ecumênico para celebrar os 160 anos da instituição, nesta quinta-feira, 14, em Fortaleza, o Colégio Imaculada Conceição (CIC) emana história.
Fundada em 15 de agosto de 1825, a escola foi pioneira na educação para mulheres no Ceará. Em 2015, o foi prédio foi tombado como patrimônio histórico da capital cearense, passando a compor, junto a Igreja do Pequeno Grande, a Escola Jesus, Maria e José e a Escola Justiniano de Serpa, localizados no entorno da Praça Filgueiras de Melo, o primeiro conjunto arquitetônico a ser reconhecido dessa forma.
Em suas salas de aulas, formaram-se grandes nomes da história cearense, entre eles: Elvira Pinho, abolicionista e primeira mulher a ser diretora de uma escola no Estado; Rachel de Queiroz, escritora e primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL) e Angela Gutiérrez, professora e primeira mulher a assumir a presidência da Academia Cearense de Letras (ACL).
Historiador e professor do CIC há 36 anos, Joelcio Alves celebra a memória da instituição, revisitada frequentemente no acervo do museu do colégio, aberto permanentemente para aulas e visitas.
“O museu guarda essa memória, seja no equipamento mobiliário escolar, seja nas cadernetas onde tem ali a frequência, onde tem as notas das alunas à época, seja no fardamento que elas usaram ao longo dos séculos. Desde a educação infantil até a terceira série do ensino médio, a gente sempre traz os alunos aqui para que eles criem um laço para que eles vejam o início de tudo isso”, explica.
Para o educador, o entorno do colégio "pulsa a história de Fortaleza, a história de uma sociedade provinciana, mas moderna, porque ela está se modernizando; a história de uma de um gênero submisso, mas que se rebelou".
"Elas eram à frente do seu tempo, por isso que elas recitavam, elas enfrentavam as irmãs em alguns momentos, porque elas queriam beber do conhecimento”, afirma.
Diretora do Colégio Imaculada Conceição, Irmã Evânia destaca a missão caridosa da escola, que une tradição, fé e educação. “Foi a primeira escola da nossa congregação. Tudo começou aqui nesta casa. É uma história de construção. A gente constrói vidas, a nossa educação é personalizada, é para trabalhar a humanidade das pessoas”, explica.
Durante a Celebração Eucarística em homenagem aos 160 anos do Colégio Imaculada Conceição, presidida pelo arcebispo de Fortaleza, Dom Gregório Paixão, diversas gerações de alunos e ex-alunos estiveram reunidos para comemorar a história da instituição.
Ao O POVO, o arcebispo destacou que em um momento crucial em que as mulheres no Ceará eram esquecidas — sob o contexto da cultura romântica do século XIX, na qual esse público era relegado às tarefas domésticas e ao cuidando do marido —, o colégio abriu as portas para a educação feminina.
“O colégio abriu as portas para educar mulheres para a vida, para que exercessem na sociedade não um papel de coadjuvante, mas um protagonismo que realmente transformou toda a vida do Ceará. Formou gente que colaborou para a transformação. Se hoje as mulheres no Ceará têm o direito de vez e de voz, e se deve também ao Colégio Imaculada Conceição”, pontua.
Saudosas, as amigas Maria Celuta Pinheiro, de 79 anos, e Cira de Matos Brito, de 85 anos, fizeram questão de falar sobre a formação humana promovida pelo colégio. As duas foram alunas da escola nas décadas de 1960 e 1950, respectivamente.
“Ele construiu gerações que se voltaram para a justiça, a caridade e o lado humano das coisas. Tem uma formação não só de colégio, de ensinar a ler e escrever, mas a formação dele é para a vida”, ressaltou Maria Pinheiro.
Para Cira de Matos, o colégio promove “uma formação de vida preocupada com o próximo. No nosso tempo de colégio, a gente aprendeu a ter uma preocupação principalmente com as pessoas carentes, com os idosos”.
Aluna do CIC entre os anos de 1961 a 1964, Sônia Leite Barbosa Belchior, de 80 anos, ressalta que, até hoje, sua turma dos tempos de escola se reúne mensalmente.
“A gente se comunica direto e toda primeira quarta-feira do mês a gente se reúne, em vários lugares. Já saiu até livro das nossas vivências. É uma maravilha, é uma coisa que não acaba nunca. É muito significativo. Minha mãe estudou aqui, minhas tias também, minhas irmãs. Foi muito significativo na minha vida”, relembra.
A história de vida da professora de Redação, Isabelle Alexandre, se confunde com seu tempo no colégio, onde está há 16 anos. Ex-aluna, a educadora é uma das 26 pessoas da família a terem estudado no local. Seu pai foi porteiro, na portaria da rua Santos Dumont; o batizado de sua filha foi realizado pelo padre da escola, à época; seus padrinhos de casamento foram ex-alunos e, este ano, foi escolhida como professora homenageada pelos concludentes da terceira série.
Em confissão, Isabelle conta que realizou um sonho ao conseguir retornar ao CIC, desta vez como educadora. O lugar, que chama de casa, agora se tornou abrigo acadêmico também para a filha, Lourdes Alexandre, de 2 anos e 7 meses.
“Uma coisa que eu normalmente falo para os alunos é que é super importante eles saberem os conteúdos, a aprovação no vestibular e boas notas não deixam de ser uma meta, mas eu sempre foco com ele no fato deles se tornarem boas pessoas. É para que eles entendam seu valor enquanto profissionais na sociedade e que consigam agregar para esse crescimento social”, conclui.