 
            A chegada do segundo filho mudou por completo a rotina da dona de casa Camila Alves de Aguiar, 27. Desde o nascimento, há pouco menos de três meses, Davi Alves Neres segue internado, desta vez aguardando uma cirurgia no Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart Gomes (HM), em Fortaleza, referência em cirurgias cardíacas pediátricas.
O procedimento, segundo Camila, deveria ter sido realizado ainda nos primeiros dias de vida do filho, mas não foi o que aconteceu. Há dois meses, ele segue aguardando.
Em conversa com os profissionais da unidade de saúde, a dona de casa foi informada que a cirurgia precisaria ser cancelada por falta de materiais, entre eles: fios e tubos.
Segundo ela, a escassez de materiais afeta principalmente o setor pediátrico: “ Desde o dia que eu pisei no hospital, sempre tem esse impasse. Todas as mães conversam: ‘meu filho foi preparado para a cirurgia e não teve material’. Então, às vezes quando se chama pra cirurgia mesmo, o pessoal fica questionando se o filho vai, né? É toda uma preparação, toda expectativa para o filho não ir”.
“Ele fez a bandagem e ficou aguardando ser chamado. Quando foi chamado, ele passou de meia-noite até o outro dia, às 17h30min, para poder se alimentar, porque tinham cancelado a cirurgia por falta de material. Os profissionais vieram conversar comigo sobre isso”, explica.
Ela conta que, nesta semana, havia a expectativa de preparar a criança novamente para o procedimento. “Já começaram a cancelar todas as cirurgias, por falta de material”, detalha.
O diagnóstico de síndrome de hipoplasia do coração esquerdo (SHCE), cardiopatia congênita grave caracterizada pelo subdesenvolvimento de estruturas do coração, fez com que Davi precisasse ser transferido do Hospital Geral Dr. César Cals para o Hospital do Coração, onde segue internado, desde então.
De acordo com a mãe de Davi, a transferência demorou cerca de 32 dias, por causa da falta de vagas. A mudança só ocorreu após a família entrar na Justiça. Ela avalia que a demora decorre da falta de materiais, fazendo com que haja crianças em estado grave que já deveriam ter sido operadas.
Aos dois meses de idade, Melissa Fernandes da Silva também aguarda a normalização do estoque de materiais cirúrgicos para ter sua cirurgia realizada.
De acordo com sua mãe, a dona de casa Adriele Barbosa da Silva, 22, a cardiopatia da filha foi descoberta ainda durante a gravidez, aos cinco meses de gestação. A criança foi diagnosticada com Defeito do Septo Atrioventricular (DSAV) e precisa de cirurgia.
“Aqui ela fez a bandagem, que foi uma das primeiras cirurgias que ela teve que fazer e, desde então, a falta de material vem sendo constante. Cirurgias são canceladas há mais de três semanas; sem nenhum tipo de cirurgia, por conta realmente de material”, explica.
Assim como Camila Alves, ela conta que questionou aos responsáveis pela unidade de saúde sobre a possibilidade de obter o material por conta própria, mas que a opção foi negada.
“Quanto mais tempo de espera, mais os bebês ficam aqui, mais tempo eles não vão para casa e correm risco. Aqui é um hospital, tem infecção, eles não têm imunidade, são bebezinhos pequenos, que a gente quer tá dando carinho, colo”, desabafa.
A demora também preocupou a auxiliar administrativa, Érica Carneiro, 30. Ela conta que a filha, de 3 meses e 7 dias, diagnosticada com SHCE, foi a última criança a fazer a cirurgia no momento em que o material deu para ser utilizado, sendo ela uma das mais antigas na espera.
“Tem uma criança que estava em estado grave, que tinha tido intercorrência, até mesmo estava entubado e iria para a cirurgia semana passada e não foi. Por quê? Porque não tinha material específico. Eles falam que são fios e tubos”, pontua.
Procurado pelo O POVO, o Hospital de Messejana informou que estão em andamento quatro processos licitatórios na modalidade de pregão eletrônico para a aquisição regular de materiais específicos utilizados em procedimentos cirúrgicos.
“Além disso, foi aberta uma dispensa de licitação, que visa suprir imediatamente eventuais necessidades até a conclusão dos certames em curso. Em virtude dos trâmites legais, foi necessário reprogramar, de forma pontual, três cirurgias”, diz a nota.
O abastecimento de insumos , segundo a unidade hospitalar, está sendo regularizado, garantindo a continuidade do atendimento às demandas assistenciais.
De acordo com o hospital, todos os pacientes estão sendo acompanhados por uma equipe multiprofissional, recebendo acolhimento e assistência integral durante todo o processo de cuidado.
De janeiro a setembro de 2025, a unidade realizou 362 procedimentos em crianças, sendo quatro transplantes.
Extra
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