Desafios de conservação impactam monumentos históricos no trecho Leste da orla de Fortaleza. Uma visita do O POVO constatou um quadro de desgaste que varia entre sinais de oxidação avançada, rachaduras estruturais, pichações e questões na sinalização e/ou iluminação.
A Estátua de Iracema e Martim, no bairro Mucuripe, apresenta rachaduras em todas as laterais, especialmente no remo que compõe a obra. Foi feita em 1965, pelo artista pernambucano Corbiniano Lins, para o centenário do livro Iracema, do escritor cearense José de Alencar. Seu entorno não tem acúmulo significativo de sujeira, mas é possível ver tampas de garrafa e dejetos de animais de passeio.
Na visão da fisioterapeuta Paloma Linardi, de 43 anos, a manutenção dos símbolos culturais da orla “deveria ser anual”. “A cada cinco anos não dá. Na nossa casa, não tem que pintar todo ano? Imagina o espaço público”, sugere.
A fortalezense passeava com as duas filhas, que, segundo ela, “pedem para vir para a estátua, porque cresceram por aqui”. A mãe de Paloma vive a duas quadras do monumento. Segundo a mulher, a iluminação do local não funciona à noite.
Paloma destaca que a escultura “valoriza a cultura cearense, por termos um escritor reconhecido nacionalmente. Fica a memória da nossa literatura. Dá aquela ‘rememorizada’ às pessoas. Quem não conhece, pergunta”.
O significado é reforçado por Gilles Concordel, turista suíço que se aproximou da estátua junto de sua esposa enquanto eram instruídos por um guia turístico local. “Parece muito importante [a obra], pois acho que, se as pessoas esquecem do passado, fazem erros que poderiam ser evitados”, disse. “Acho que é um símbolo bem importante e nos mostra que as pessoas do Brasil são uma mistura”.
Gilles e a companheira chegaram a Fortaleza nesse sábado, 22. Contaram sobre poucas "oportunidades de descobrir a cidade”, mas consideraram “essa zona [a orla] muito interessante, com todos os prédios, todas as praias, as pessoas… O clima também é muito agradável”.
E deram opinião direta sobre o monumento: “Mas vejo que tem um pouco de danos [na estátua de Iracema e Martim], e espero haver um pouco de dinheiro para reparar”.
Perto dali, na caminhada para o Mercado dos Peixes, o Monumento aos Jangadeiros exibe sinais avançados de oxidação e falhas na pintura e no acabamento. Está também com pichações, do meio da estrutura para baixo. Nenhuma placa sinaliza ou explica o monumento, inaugurado em 1992, feito pelo artista cearense Sérvulo Esmeraldo.
Lúcia de Fátima Rodrigues, que trabalha na barraca A Tia do Coco, contempla o monumento diariamente. A mulher de 70 anos comentou já ter visto a estrutura se movimentar: “Está ventando muito ultimamente. Outro dia, com um vento muito forte, eu notei que ela estava balançando. Precisa de reforma porque é perigoso”.
“Dia desses um coqueiro desses pequenos caiu e quase machucou uma turista. Imagina uma estrutura dessas”.
Lúcia contou trabalhar na orla há 42 anos e, naquele ponto, há pelo menos oito. “Acompanho essa Beira Mar desde quando era só de pescador. Hoje ela passou a ser só de empresário”, comentou a vendedora.
Questionada, não soube informar a história ou o significado do monumento, nem quem o fez, se limitando a dizer que “muita gente tira foto”. Perto da estrutura branca, não há nenhuma placa ou sinalização com informações sobre a obra.
A mesma situação é vista na estátua Iracema Guardiã, feita pelo artista cearense Zenon Barreto. A obra foi inaugurada em 1995. Foi reformada em 2022 depois de um tombamento, quando se soltou da base e despencou lateralmente.
Uma placa agora em branco, repleta de pichações, está posicionada no calçadão, a certa distância da homenagem. Também há pichações na base da obra, além de azulejos ausentes nas escadas. A estátua em si acumula sujeira de chuva e poeira.
Gabriel Rauan, 21, não conseguiu traçar um histórico da estátua. “Acredito que tem muita arte e muito significado envolvido, acho muito lindo. Mas deveria ter placa”, contou, acompanhado da namorada e do cachorro Duke.
O sobralense confessou “já ter passado” pela Iracema Guardiã diversas vezes, mas nunca se aproximado. “Sempre admirei, mas passei direto. Hoje é a primeira vez que paro para tirar foto. Acho que representa a cidade, mas poderia melhorar. Poderia ter o significado, mas é bem bonito”.
A turista Nilza Valquíria de Oliveira, 52, concorda. “Essa cidade é muito linda, mas com certeza faz falta ter uma placa, porque eu tive uma guia [turística], mas quem chega aqui e não tem poderia saber através de uma placa”.
“Durante o tour que fizemos de ônibus, a guia turística falou que ela [a estátua] tinha flechas. Acho que ficaria mais bonito ainda, porque eu já achei lindo esse monumento, muito mesmo”, complementou a mineira de Belo Horizonte. “Até comentei com minha irmã que está pichada, foi a primeira coisa que vi”.
Pelo fato de a praia levar o nome da personagem Iracema, a estátua “poderia ser um cartão postal melhor”, na visão de Nilza. “Poderia ter mais coisas falando a respeito dela, ao longo da orla toda, mesmo”.
Em nota, a Prefeitura de Fortaleza ressaltou que a Guarda Municipal “realiza rondas preventivas diárias” na região dos monumentos visitados, com agentes em bicicletas e viaturas. A área possui 144 câmeras de videomonitoramento, integradas ao Centro de Operações Integradas da Beira-Mar (COI-BM).
“Esses equipamentos abrangem toda a extensão da orla e contribuem para a identificação de situações suspeitas e para a atuação preventiva das equipes em campo”, afirmou a gestão municipal.
Segundo a Coordenadoria Especial de Apoio à Governança das Regionais (Cegor), existe um orçamento “elaborado no início deste ano” para restaurar a estátua de Iracema e Martim.
Sem prazo definido para começar, a intervenção prevê recuperação das partes danificadas e reconstrução de elementos, além de limpeza.
A Cegor destacou que as ações de conservação não possuem cronograma fixo, “mas acontecem conforme a necessidade observada em cada equipamento e sempre precedidas de estudos de viabilidade técnica”.
Ações específicas para o Monumento aos Jangadeiros e para a Iracema Guardiã não foram mencionadas pela Prefeitura.
Falhas
Oxidação, pichações e sujeira nos monumentos são apontadas por turistas e moradores
Prefeitura afirma haver orçamento liberado
Em nota, a Prefeitura de Fortaleza ressaltou que a Guarda Municipal "realiza rondas preventivas diárias" na região dos monumentos visitados, com agentes em bicicletas e viaturas. A área possui 144 câmeras de videomonitoramento, integradas ao Centro de Operações Integradas da Beira Mar (COI-BM).
"Esses equipamentos abrangem toda a extensão da orla e contribuem para a identificação de situações suspeitas e para a atuação preventiva das equipes em campo", afirmou a gestão municipal.
Segundo a Coordenadoria Especial de Apoio à Governança das Regionais (Cegor), existe um orçamento "elaborado no início deste ano" para restaurar a estátua de Iracema e Martim.
Sem prazo definido para começar, a intervenção prevê recuperação das partes danificadas e reconstrução de elementos, além de limpeza.
A Cegor destacou que as ações de conservação não possuem cronograma fixo, "mas acontecem conforme a necessidade observada em cada equipamento e sempre precedidas de estudos de viabilidade técnica".
Ações específicas para o Monumento aos Jangadeiros e para a Iracema Guardiã não foram mencionadas pela Prefeitura.