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Com rachaduras e oxidação, Iracemas e monumento aos jangadeiros aguardam reparos
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CIDADES

Com rachaduras e oxidação, Iracemas e monumento aos jangadeiros aguardam reparos

Visita do O POVO constatou quadro de desgaste, especialmente na estátua de Iracema e Martim, no Mucuripe. Prefeitura pontua haver rondas diárias e videomonitoramento. Quem visita reclama de placas informativas sobre as obras
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É possível observar rachaduras em todas as laterais da obra, produzida em 1965 (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS É possível observar rachaduras em todas as laterais da obra, produzida em 1965

Desafios de conservação impactam monumentos históricos no trecho Leste da orla de Fortaleza. Uma visita do O POVO constatou um quadro de desgaste que varia entre sinais de oxidação avançada, rachaduras estruturais, pichações e questões na sinalização e/ou iluminação.

A Estátua de Iracema e Martim, no bairro Mucuripe, apresenta rachaduras em todas as laterais, especialmente no remo que compõe a obra. Foi feita em 1965, pelo artista pernambucano Corbiniano Lins, para o centenário do livro Iracema, do escritor cearense José de Alencar. Seu entorno não tem acúmulo significativo de sujeira, mas é possível ver tampas de garrafa e dejetos de animais de passeio.

Na visão da fisioterapeuta Paloma Linardi, de 43 anos, a manutenção dos símbolos culturais da orla “deveria ser anual”. “A cada cinco anos não dá. Na nossa casa, não tem que pintar todo ano? Imagina o espaço público”, sugere.

A fortalezense passeava com as duas filhas, que, segundo ela, “pedem para vir para a estátua, porque cresceram por aqui”. A mãe de Paloma vive a duas quadras do monumento. Segundo a mulher, a iluminação do local não funciona à noite.

Paloma destaca que a escultura “valoriza a cultura cearense, por termos um escritor reconhecido nacionalmente. Fica a memória da nossa literatura. Dá aquela ‘rememorizada’ às pessoas. Quem não conhece, pergunta”.

O significado é reforçado por Gilles Concordel, turista suíço que se aproximou da estátua junto de sua esposa enquanto eram instruídos por um guia turístico local. “Parece muito importante [a obra], pois acho que, se as pessoas esquecem do passado, fazem erros que poderiam ser evitados”, disse. “Acho que é um símbolo bem importante e nos mostra que as pessoas do Brasil são uma mistura”.

Gilles e a companheira chegaram a Fortaleza nesse sábado, 22. Contaram sobre poucas "oportunidades de descobrir a cidade”, mas consideraram “essa zona [a orla] muito interessante, com todos os prédios, todas as praias, as pessoas… O clima também é muito agradável”.

E deram opinião direta sobre o monumento: “Mas vejo que tem um pouco de danos [na estátua de Iracema e Martim], e espero haver um pouco de dinheiro para reparar”.

Oxidação e pichações

Perto dali, na caminhada para o Mercado dos Peixes, o Monumento aos Jangadeiros exibe sinais avançados de oxidação e falhas na pintura e no acabamento. Está também com pichações, do meio da estrutura para baixo. Nenhuma placa sinaliza ou explica o monumento, inaugurado em 1992, feito pelo artista cearense Sérvulo Esmeraldo.

Lúcia de Fátima Rodrigues, que trabalha na barraca A Tia do Coco, contempla o monumento diariamente. A mulher de 70 anos comentou já ter visto a estrutura se movimentar: “Está ventando muito ultimamente. Outro dia, com um vento muito forte, eu notei que ela estava balançando. Precisa de reforma porque é perigoso”.

“Dia desses um coqueiro desses pequenos caiu e quase machucou uma turista. Imagina uma estrutura dessas”.

FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 23-11-2025: Reportagem sobre as condições estruturais de estátuas e esculturas da orla da Beira Mar e Praia de Iracema. Na foto, a escultura "Monumento ao Jangadeiro", de Sérvulo Esmeraldo, no bairro Mucuripe. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo)
FORTALEZA, CEARÁ, BRASIL, 23-11-2025: Reportagem sobre as condições estruturais de estátuas e esculturas da orla da Beira Mar e Praia de Iracema. Na foto, a escultura "Monumento ao Jangadeiro", de Sérvulo Esmeraldo, no bairro Mucuripe. (Foto: Fernanda Barros/ O Povo) Crédito: FERNANDA BARROS

Lúcia contou trabalhar na orla há 42 anos e, naquele ponto, há pelo menos oito. “Acompanho essa Beira Mar desde quando era só de pescador. Hoje ela passou a ser só de empresário”, comentou a vendedora.

Questionada, não soube informar a história ou o significado do monumento, nem quem o fez, se limitando a dizer que “muita gente tira foto”. Perto da estrutura branca, não há nenhuma placa ou sinalização com informações sobre a obra.

A mesma situação é vista na estátua Iracema Guardiã, feita pelo artista cearense Zenon Barreto. A obra foi inaugurada em 1995. Foi reformada em 2022 depois de um tombamento, quando se soltou da base e despencou lateralmente.

Uma placa agora em branco, repleta de pichações, está posicionada no calçadão, a certa distância da homenagem. Também há pichações na base da obra, além de azulejos ausentes nas escadas. A estátua em si acumula sujeira de chuva e poeira.

Gabriel Rauan, 21, não conseguiu traçar um histórico da estátua. “Acredito que tem muita arte e muito significado envolvido, acho muito lindo. Mas deveria ter placa”, contou, acompanhado da namorada e do cachorro Duke.

O sobralense confessou “já ter passado” pela Iracema Guardiã diversas vezes, mas nunca se aproximado. “Sempre admirei, mas passei direto. Hoje é a primeira vez que paro para tirar foto. Acho que representa a cidade, mas poderia melhorar. Poderia ter o significado, mas é bem bonito”.

A turista Nilza Valquíria de Oliveira, 52, concorda. “Essa cidade é muito linda, mas com certeza faz falta ter uma placa, porque eu tive uma guia [turística], mas quem chega aqui e não tem poderia saber através de uma placa”.

“Durante o tour que fizemos de ônibus, a guia turística falou que ela [a estátua] tinha flechas. Acho que ficaria mais bonito ainda, porque eu já achei lindo esse monumento, muito mesmo”, complementou a mineira de Belo Horizonte. “Até comentei com minha irmã que está pichada, foi a primeira coisa que vi”.

Pelo fato de a praia levar o nome da personagem Iracema, a estátua “poderia ser um cartão postal melhor”, na visão de Nilza. “Poderia ter mais coisas falando a respeito dela, ao longo da orla toda, mesmo”.

O que a Prefeitura diz?

Em nota, a Prefeitura de Fortaleza ressaltou que a Guarda Municipal “realiza rondas preventivas diárias” na região dos monumentos visitados, com agentes em bicicletas e viaturas. A área possui 144 câmeras de videomonitoramento, integradas ao Centro de Operações Integradas da Beira-Mar (COI-BM).

“Esses equipamentos abrangem toda a extensão da orla e contribuem para a identificação de situações suspeitas e para a atuação preventiva das equipes em campo”, afirmou a gestão municipal.

Segundo a Coordenadoria Especial de Apoio à Governança das Regionais (Cegor), existe um orçamento “elaborado no início deste ano” para restaurar a estátua de Iracema e Martim.

Sem prazo definido para começar, a intervenção prevê recuperação das partes danificadas e reconstrução de elementos, além de limpeza.

A Cegor destacou que as ações de conservação não possuem cronograma fixo, “mas acontecem conforme a necessidade observada em cada equipamento e sempre precedidas de estudos de viabilidade técnica”.

Ações específicas para o Monumento aos Jangadeiros e para a Iracema Guardiã não foram mencionadas pela Prefeitura.

Falhas

Oxidação, pichações e sujeira nos monumentos são apontadas por turistas e moradores

Prefeitura afirma haver orçamento liberado

Em nota, a Prefeitura de Fortaleza ressaltou que a Guarda Municipal "realiza rondas preventivas diárias" na região dos monumentos visitados, com agentes em bicicletas e viaturas. A área possui 144 câmeras de videomonitoramento, integradas ao Centro de Operações Integradas da Beira Mar (COI-BM).

"Esses equipamentos abrangem toda a extensão da orla e contribuem para a identificação de situações suspeitas e para a atuação preventiva das equipes em campo", afirmou a gestão municipal.

Segundo a Coordenadoria Especial de Apoio à Governança das Regionais (Cegor), existe um orçamento "elaborado no início deste ano" para restaurar a estátua de Iracema e Martim.

Sem prazo definido para começar, a intervenção prevê recuperação das partes danificadas e reconstrução de elementos, além de limpeza.

A Cegor destacou que as ações de conservação não possuem cronograma fixo, "mas acontecem conforme a necessidade observada em cada equipamento e sempre precedidas de estudos de viabilidade técnica".

Ações específicas para o Monumento aos Jangadeiros e para a Iracema Guardiã não foram mencionadas pela Prefeitura.

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