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AVC: quando a luta te paralisa
Ciência e Saúde

AVC: quando a luta te paralisa

No dia 29 de outubro é celebrado o Dia Mundial do Acidente Vascular Cerebral (AVC). A doença realmente merece atenção sendo responsável por 100 mil mortes ao ano só no Brasil
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Vera Célida luta para recuperar movimentos que ajudam nas atividades diárias (Foto: Julião Júnior/Especial para O)
Foto: Julião Júnior/Especial para O Vera Célida luta para recuperar movimentos que ajudam nas atividades diárias

Mirelle Costa

Especial para O POVO

"Fiquei lutando para não cair no chão". A professora aposentada, Vera Célida, de 72 anos, lutou, desarmada, com um adversário que a paralisou, literalmente. Há dois meses, ela teve um Acidente Vascular Cerebral, o AVC. Como sequela, ficou com o lado direito paralisado. "Comecei a perceber os móveis tortos, totalmente fora de lugar. Fiquei sem entender e comecei a ajeitar. Quando fui pra cozinha, percebi que estava desmaiando. A partir daí, não consegui mais levantar, lembro da angústia que senti até minha filha chegar em casa, pois estava sozinha", relembra Vera.

Por mais de quatro horas, ela ficou ainda consciente esperando a filha chegar do trabalho e socorrê-la. Michelle Costa conta que tomou um susto ao ver a mãe caída no chão, sem conseguir falar. "Fiquei desesperada e, ao mesmo tempo, tentava acalmá-la, mas ela não conseguia se mexer direito nem falar comigo, mas os olhos estavam abertos e eu percebi que ela estava consciente e com o lado esquerdo (com movimento, pois) ela até conseguiu ajeitar o vestido antes de deitar na maca do SAMU", relembra Michelle. 

O médico Danilo Nunes explica que qualquer individuo que apresente esses sintomas deve ser prontamente avaliado em um serviço de emergência, sem que se espere sua melhora espontânea. "Quanto mais rápido o diagnóstico, maiores são as chances de recuperação e adequado tratamento para a dissolução do êmbolo, que é indicada somente em alguns casos. Ao chegar ao hospital, a tomografia é o exame mais disponível e rápido de realizar, enquanto a ressonância de crânio tem maior sensibilidade para detectar pequenas alterações encefálicas. Em alguns casos (de AVC), infelizmente, não será possível a recuperação completa (do paciente) devido ao dano cerebral, podendo o individuo apresentar sequelas que prejudiquem sua locomoção, fala e cognição”, explica o neurologista Danilo.

Estima-se que uma em cada três a quatro pessoas terão um episódio de AVC ao longo da vida, uma importante causa de mortalidade e incapacidade no Brasil e no mundo, com bastante impacto nos gastos governamentais com a saúde, segundo o médico Rodrigo Becco, neurocirurgião e membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia.

Sobre avc
Sobre avc (Foto: Luciana Pimenta)

Quando algum parente ou amigo sofre um Acidente Vascular Cerebral, a pergunta da maioria das pessoas é qual tipo se caracteriza como mais grave, o hemorrágico ou isquêmico. O neurocirurgião Rodrigo esclarece que o AVC hemorrágico apresenta uma maior proporção de sequelas e mortalidade entre os acometidos. Os sintomas são comuns, como perda de força, paralisia e dificuldade para falar. A maneira de prevenir os dois subtipos também é a mesma, principalmente o controle de comorbidades, como hipertensão e diabetes mediante consulta e acompanhamento médico, além de ter alimentação saudável, praticar exercícios físicos e evitar hábitos como o tabagismo, explica o médico.

Os dois tipos de Acidente Vascular Cerebral

AVC ISQUEMICO

Incidência: 90%

Característica principal: Interrupção do fluxo sanguíneo, normalmente resultante de uma embolia

Tratamento: medicação para dissolução do trombo e abordagem endovascular, quando indicadas e em tempo hábil.

Fatores de risco: hipertensão, diabetes, fibrilação atrial, alterações do colesterol e tabagismo são os fatores de risco.

AVC HEMORRAGICO

Incidência: 10%

Característica principal: sangramento

Tratamento: manter o controle pressórico para evitar aumento do sangramento. Uma neurocirurgia pode ser indicada a depender do caso.

Fatores de risco: hipertensão (principal causa), aneurismas, malformações arteriovenosas e tumores (menos comuns).

COVID-19 PODE CAUSAR AVC?

Estudos recentes mostram uma relação consistente do aumento de risco de AVC em pacientes com Covid-19, fato que, de acordo com o médico Danilo Nunes, está associado à própria reação inflamatória sistêmica desencadeada pelo vírus e ao descontrole de doenças prévias do paciente, como hipertensão e diabetes. "Temos que tomar cuidado redobrado com pessoas do grupo de risco, como idosos e portadores dessas doenças durante o quadro da Covid-19 e na prevenção da mesma, com o uso de máscaras e medidas de higienização", explica o neurologista.

TESTE DE AVC COM TRÊS COMANDOS RÁPIDOS

1 - PEÇA PARA A PESSOA SORRIR E OBSERVE SE HÁ UM LADO DO ROSTO ASSIMÉTRICO
2 - SOLICITE QUE LEVANTE OS DOIS BRAÇOS E VERIFIQUE SE CONSEGUE FAZER O MOVIMENTO COM OS DOIS OU SE UM DELES APRESENTA DIFICULDADE
3 - FAÇA UMA PERGUNTA SIMPLES, COMO A IDADE OU O NOME, E FIQUE ATENTO À FORMA COMO RESPONDE.

REALIDADE VIRTUAL

A inteligência artificial está sendo utilizada com o objetivo de ajudar pacientes que precisam do tratamento de reabilitação, com acompanhamento remoto feito por meio da telemedicina. Um projeto de autoria do pesquisador Cássio Pinheiro, doutorando em Ciências, Biotecnologia e Saúde da Fiocruz Ceará, utiliza óculos de Realidade Virtual (RV) para que o paciente simule atividades de cotidiano nos cenários virtuais, enquanto sensores captam os movimentos das palmas das mãos e dos dez dedos do paciente. “A principal motivação para usar a tecnologia no pós-AVC é reduzir o impacto negativo das sequelas na vida das pessoas. A quantidade de casos da doença no Brasil é alarmante e, consequentemente, a necessidade de reabilitação também”, explica o cientista.

A previsão é de que a validação clínica inicie em janeiro de 2021 no Hospital Geral de Fortaleza, que atende mais de 1.900 casos de AVC por ano. O projeto, que conta com a orientação do pesquisador da área de biotecnologia da Fiocruz Ceará, Marcos Lourenzoni, especialista em Ciências, Tecnologia, Produção e Inovação em Saúde Pública, foi selecionado entre 856 ideias inscritas no Ceará, no programa nacional Centelha, que visa estimular a criação de empreendimentos inovadores e disseminar a cultura empreendedora no Brasil. “Esse é um importante aspecto em tempos de pandemia, para os pacientes que necessitam do tratamento, mas possuem dificuldade em se locomover até um centro de terapia”, defende Lourenzoni.

Tratamento de AVC no Ceará pelo SUS:

- Fortaleza: Hospital de Geral de Fortaleza
- Juazeiro do Norte: Hospital Regional do Cariri  
- Quixeramobim: Hospital Regional do Sertão Central

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