O câncer de próstata é o segundo tipo mais comum de neoplasia entre os homens e mais de 65 mil pessoas devem ser diagnosticadas com a doença neste ano. Apesar da gravidade, a desinformação e o preconceito da população aos exames e tratamentos ainda são fatores que dificultam o combate à doença. Conforme pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), apenas três em cada dez homens afirmam ir regularmente ao urologista e 3% consideram que nunca consultariam esse especialista
"Uma boa parte dos homens já tem a dificuldade de ir ao médico por falta de tempo mesmo. Entretanto, há também o medo da doença e o medo de cirurgia, além de receio de consequências como disfunção sexual", avalia Leocácio Barroso, urologista no Hospital Universitário Walter Cantídio. Ele aponta também o fato de que muitos esperam surgir sintomas para marcar uma consulta. "No caso do câncer de próstata isso é muito perigoso, porque ele é assintomático nas fases iniciais."
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer, nove em cada dez casos da doença são facilmente tratáveis desde que haja um diagnóstico precoce. Para isso, exames periódicos são fundamentais. "O exame de sangue precisa ser sempre acompanhado pelo exame de toque, porque cerca de ele consegue identificar entre 80% e 85% dos tumores, mas em torno de 15% dos tumores só são identificados pelo toque", explica Ítalo Sampaio, chefe do serviço de Urologia do Hospital Haroldo Juaçaba.
Sampaio observa que "antigamente, os homens eram mais resistentes e mães, esposas ou filhas eram as maiores responsáveis pela ida dos homens ao urologista". "Felizmente, essa realidade tem mudado nos últimos anos. Percebo os homens pelo menos um pouco mais conscientes em relação à prevenção e ao cuidado com a saúde", avalia considerando que a campanha Novembro Azul é uma das chaves para essa mudança.
"Quanto mais se tem conhecimento, mas se tem também consciência de que esse tabu precisa ser superado", reforça. Na prática diária no hospital, o médico percebe ainda que muitas vezes os pacientes buscam acompanhamento por terem visto casos da doença em pessoas próximas. "Essa é a nossa oportunidade de ajudar o paciente. Fazemos os exames preventivos do câncer de próstata, mas também aproveitamos para consultas mais completas e focadas em doenças que também demandam prevenção, como o diabetes e a hipertensão".
Em 2020, o cenário é ainda mais complexo devido à pandemia de Covid-19. Segundo o estudo da SBU, 55% dos homens acima de 40 anos deixaram de fazer alguma consulta ou tratamento médico em função do novo coronavírus. Ao mesmo tempo, 57% afirmaram ter percebido um impacto negativo na saúde, incluindo 9% que consideram que a sua saúde está pior.
"Em nenhum momento os atendimentos pararam, mas os pacientes ficaram com medo da Covid-19 deixaram de comparecer", relata Sampaio. "Até fevereiro, conseguimos identificar a maioria dos casos em uma fase precoce, mas em outubro e novembro muitos pacientes chegaram com a doença avançada", avalia. Diante disso, o especialista reafirma a recomendação: todos os homens acima de 50 anos devem ir anualmente ao urologista. Aqueles com fatores de risco, precisam começar essa rotina mais cedo, por volta dos 45 anos.
O câncer de próstata em números
77% dos homens consideram que vão mais vezes ao médico do que seus pais iam na mesma idade. No entanto, 20% daqueles acima dos 40 anos admitem procurar ajuda apenas quando se sentem mal
10% dos homens acima dos 50 anos nunca realizaram o exame de PSA e 35% nunca passaram pelo exame de toque retal
Cerca de 10% dos homens após os 50 anos tem câncer de próstata. As chances crescem à medida que a idade avança, chegando a acometer cerca de 50% dos homens aos 75 anos
90% são as chances de cura se a doença for descoberta precocemente
65.840 brasileiros serão diagnosticados com câncer de próstata em 2020. Destes, 3.330 serão no Ceará
471 cearenses morreram de decorrência da doença entre janeiro e setembro deste ano. No mesmo período de 2019, foram 507 óbitos
Fontes: Instituto Lado a Lado; Inca; Sesa
Tirando dúvidas
Ainda cercado de tabus, o câncer de próstata é o segundo tumor mais comum entre homens no Brasil. A melhor forma de lidar com ele é tendo um diagnóstico logo nas fases iniciais. Por isso, O POVO reuniu alguns perguntas e respostas sobre a doença:
É uma glândula do sistema reprodutor masculino que pesa cerca de 20 gramas e se assemelha a uma castanha. Ela está localizada abaixo da bexiga e sua função é produzir o esperma. Em homens jovens, possui o tamanho de uma ameixa, mas aumenta com o avançar da idade.
É a multiplicação desordenada de células (neoplasia) da próstata, podendo ser benigna ou maligna. No Brasil, é o segundo tipo de câncer mais frequente nos homens, atrás apenas do câncer de pele não melanoma.
Na fase inicial, o câncer da próstata tem evolução silenciosa. Muitos pacientes não apresentam sintomas ou, quando apresentam, são semelhantes aos do crescimento benigno da próstata (dificuldade de urinar e necessidade de urinar mais vezes, por exemplo). Na fase avançada, em metástase, pode provocar dor óssea, sintomas urinários e insuficiência renal.
Assim como em outros cânceres, a idade é um marcador de risco. Tanto a incidência como a mortalidade do câncer de próstata aumentam exponencialmente após os 50 anos. Histórico de parentes próximos com a doença antes dos 60 anos é outro fator importante. Além disso, homens de ascendência negra têm maiores propensões a desenvolver a doença.
A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) recomenda que, mesmo na ausência de sintomas, homens a partir dos 45 anos com fatores de risco ou dos 50 anos sem esses fatores devem ir ao urologista para o exame de toque retal e o PSA, exame de sangue feito em laboratório.
O principal fator é ter um diagnóstico precoce, o que é garantido com idas anuais ao urologista. Entretanto, manter uma alimentação saudável, evitar consumo excessivo de bebidas alcoólicas, não fumar e ser fisicamente ativo contribuem para a melhoria da saúde em geral e podem ajudar na prevenção desta neoplasia.
Fontes: Sociedade Brasileira de Urologia; Ministério da Saúde; Inca
Os mitos que ainda cercam a doença
O POVO perguntou aos especialistas quais o principais medos e boatos que levam os homens a evitar os exames e os tratamentos contra o câncer de próstata
Só o exame de PSA é suficiente? | Não. O antígeno prostático específico (PSA) não é um marcador tumoral específico, ou seja, ele varia por outras razões além do câncer. Assim, o exame de sangue é complementar ao exame de toque retal. Um não dispensa o outro.
Se não tenho sintomas, está tudo bem? | Não. Grande parte dos casos de câncer de próstata são assintomáticos nas fases iniciais, aparecendo sintomas somente quando a doença está avançada
Vasectomia causa câncer de próstata? | Não. Estudos recentes indicam que não há qualquer correlação
O tratamento causa impotência sexual? | Parcialmente. Disfunção erétil e incontinência urinária podem surgir no pós-operatório, mas, em grande parte, as consequências podem ser revertidas. Tratamentos hormonais também podem impactar nesse aspecto, mas uma minoria dos pacientes precisará desse método
Onde procurar atendimento
Consultas e exames podem ser feitos de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todos os postos de saúde de Fortaleza e nas policlínicas. Já o tratamento final pode ser realizado (também de forma gratuita) nos seguintes locais: Hospital Geral de Fortaleza, Hospital Geral Dr. César Cals, Hospital Universitário Walter Cantídio, Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar, Santa Casa de Misericórdia e Instituto do Câncer do Ceará.
Além da próstata
Realizada por diversas entidades, a campanha Novembro Azul é dirigida a conscientizar a população masculina sobre a importância de construir uma cultura de autocuidado. Além do câncer de próstata, outras doenças comuns (outros tipos de câncer, hipertensão e diabetes, por exemplo) demandam acompanhamento médico periódico visando o diagnóstico precoce.