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Por trás da rebeldia, um pedido de ajuda: como auxiliar adolescentes na lida com suas emoções
Ciência e Saúde

Por trás da rebeldia, um pedido de ajuda: como auxiliar adolescentes na lida com suas emoções

Em complexo processo de crescimento e desenvolvimento biopsicossocial, jovens precisam de apoio para entender e saber lidar com o que sentem
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Clivia e Julie e o cuidado constante com as redes sociais (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Clivia e Julie e o cuidado constante com as redes sociais

Movido por hormônios e a intensa necessidade de descobrir a vida, adolescentes são geralmente envolvidos em narrativas de rebeldia e de incompreensão. Por trás dessa ideia "subversiva", contudo, há indivíduos vivendo na linha tênua entre o sentir e o saber lidar com aquilo que se sente. O "grito rebelde", na verdade, não passa muitas vezes de um pedido silencioso de acolhimento e ajuda.

Pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Eca), encontra-se na fase da adolescência aquele que tem entre 12 e 18 anos. O Marco Legal: Saúde, um Direito do Adolescente, do Ministério da Saúde (MS) considera essa como sendo "a etapa da vida compreendida entre a infância e a fase adulta, marcada por um complexo processo de crescimento e desenvolvimento biopsicossocial (biológico, psicológico e social)".

De acordo com a psicóloga Fabíola Menezes Bessa, esse processo é responsável por um "tsunami de mudanças", que acabam desencadeando sentimentos que indivíduos que estão nessa faixa etária não compreendem e, por essa razão, acabam não sabendo como administrar ou agir diante deles. 

"(A adolescência) é uma fase de mudanças físicas/corporais desencadeadas pela produção acelerada de hormônios. Com tais mudanças, o adolescente já não reconhece mais seu corpo e perde a noção de esquema corporal, o que pode abalar o sentimento de autoestima. É uma fase de mudanças psíquicas/cognitivas, com o surgimento do pensamento abstrato", explica a especialista. 

Ainda de acordo com Fabíola, que atua como terapeuta de crianças e adolescentes, toda essa dinâmica experimentada acaba gerando "uma confusão de sentimentos", o que torna a adolescência uma "fase de muita instabilidade emocional e de vulnerabilidade para o desencadeamento de vários transtornos mentais, dentre eles os alimentares, de ansiedade, depressão e até mesmo esquizofrenia".

Fora toda essa "ebulição" de sentimentos, os indivíduos nessa faixa etária também estão mais propensos a tomarem atitudes arriscadas e impulsivas. Isso pode ser explicado por um outro fator biológico: durante a adolescência, a maturação (amadurecimento) do cérebro humano ainda está ocorrendo.

"O cérebro na adolescência ainda está em desenvolvimento e pode seguir até 24 ou 25 anos. É realmente um processo de amadurecimento mais longo, porque é onde as estruturas cerebrais estão sendo estimuladas (...) E isso fará diferença pro resto da vida", explica a neuropsicóloga Marleide de Oliveira.

Conforme a médica, que atua no Núcleo de Atenção à Infância e a Adolescência (Naia), do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), adolescentes alimentam mais o desejo pela aventura, uma vez que não têm noção dos riscos. "Eles ainda estão com esse cérebro imaturo, por isso eles têm incapacidade de pensar nas repercussões que suas ações podem ter no futuro", frisa a especialista.

Redes sociais podem impactar desenvolvimento

O fator biológico não é o único a influenciar a forma como adolescentes se sentem ou se expressam. De acordo com a neuropsicóloga Marleide de Oliveira, questões ambientais e sociais também podem ser fatores responsáveis pela maneira como esses indivíduos agem e constroem suas percepções de mundo.

Nesse contexto, um dos maiores desafios dos pais de adolescentes pode estar em algo que dita cada vez mais regras e costumes: as redes sociais. Com influenciadores esbanjando uma "vida perfeita" nas telas , essas plataformas se tornam armadilhas para quem ainda busca entender seu lugar no mundo.

"(As redes sociais) Podem, sim, desencadear aumento de ansiedade, depressão, problemas de sono, falta de concentração, isolamento social, obesidade. A dificuldade de aprendizagem tem sido bem recorrente dessa questão de ficar muito tempo nas telas, e isso tem gerado muito desconforto das famílias", diz a neuropsicóloga do HSM.

De acordo com Fabíola Menezes, esses transtornos podem ser impulsionados pelas imagens geralmente expostas nas redes sociais, "de corpos perfeitos e pessoas que parecem não enfrentar dificuldades". "A partir do momento em que os adolescentes percebem que não conseguem alcançar tal ideal, podem experimentar sentimentos de frustração inadequados e insatisfação", frisa a psicóloga e terapeuta.

Em contraponto, a especialista destaca que a tecnologia digital também pode ter influência positiva sobre o desenvolvimento do adolescente e servir como uma ferramenta de busca de informações, um meio de entretenimento e até uma forma de melhorar a dificuldade de interação social. No entanto, é preciso ter um controle para que os benefícios tecnológicos não se transformem em malefícios.

"(Os pais) devem estar muito atentos aos tipos de conteúdos que são acessados pelos filhos e estabelecer um tempo limitado de acesso, incentivando os jovens a realizarem outras atividades que são importantes para o seu desenvolvimento. É fundamental que os pais orientem os filhos de modo consistente em relação a todas essas questões, prevenindo-os sobre os riscos, os casos de pedofilia e outras atividades criminosas que podem ocorrer nas redes sociais", defende ainda a especialista.

Na casa de Clivia Geritza Alves, de 47 anos, o cuidado com o uso excessivo dessas plataformas é tema de conversas. A troca sobre o assunto é feita com a filha dela, Julie Alves, de 13 anos— uma adolescente que ama dançar e que gosta de se inspirar nas danças que viralizam em aplicativos como o Tik Tok.

"Atualmente, é bastante difícil ter o controle absoluto (sobre o uso desses meios), mas conversamos muito com ela e explicamos as consequências do mal uso das redes sociais. Mesmo assim ainda temos o cuidado de olhar o celular para ficarmos mais tranquilos", conta a assistente administrativo.

A atenção de Clivia é redobrada visando à saúde mental da filha. "Julie é muito ansiosa, seja no período de provas, apresentações de trabalhos, viagens, ou seja, tudo que foge um pouco da rotina faz com que ela fique muito apreensiva", conta a mãe da adolescente.

Já na residência de Elisângela Alves, de 40 anos, o consumo de redes sociais é um pouco diferente, mas as telas ainda são presentes. O filho dela, Guilherme Alves, de 15 anos, por conta própria não faz uso de aplicativos como Instagram, Facebook ou X (antigo Twitter), e prefere consumir jogos, vídeos ou filmes.

A assistente social conta que o filho acompanha alguns narradores de jogos pelo Youtube, mas que o jovem ainda não se deixou influenciar pelo comportamento deles de uma forma que pudesse preocupá-la. "Até o momento, não precisei limitar o tempo de uso (do adolescente referente as telas)", conta.

Adolescentes precisam contar com o apoio da família

Nesse processo de crescimento e desenvolvimento biopsicossocial, com fatores internos e externos influenciando no comportamento e nas decisões — o adolescente precisa de ajuda para entender e saber lidar com suas próprias experiências emocionais. O núcleo familiar é fundamental para esse fim, pois é o responsável por criar um ambiente saudável para que o indivíduo consiga se desenvolver. 

De acordo com a psicóloga Fabíola Menezes, essa fase da adolescência costuma trazer muitos desafios para os jovens e para suas famílias, sendo necessária uma "flexibilidade de ambas as partes".

"Os pais precisam encontrar um equilíbrio entre as atitudes de cuidar e, ao mesmo tempo, ajudar a abrir caminho para que os filhos amadureçam e conquistem sua autonomia e independência. Ao mesmo tempo que devem orientar e alertar os filhos sobre todos os riscos que os cercam, os pais devem estimular a capacidade deles de pensarem por si mesmos e tomar as decisões que já estão ao alcance deles", orienta.

Ainda segundo a psicóloga, o mais importante é que pais estejam sempre disponíveis para estabelecer um diálogo aberto com os filhos. Isso deve ser feito respeitando a autonomia dos jovens e dando o espaço que eles "precisam para a afirmação de sua individualidade e identidade". 

Conversa é a base da relação que Clivia Geritza tem com a filha Julie. A assistente administrativo conta que, sempre que observa a adolescente calada, a chama para conversar e saber o que está acontecendo. 

"A educação que tentamos repassar é que acima de tudo somos os melhores amigos dela (pai, mãe e irmã), ou seja, que ela pode nos contar tudo e dessa forma vamos dando exemplos de nossas vidas e de experiências reais. O que não pode esquecer é que a vida é um grande desafio e ter em mente que toda escolha na vida tem suas consequências, sejam boas ou ruins, isso irá depender do que escolher", diz.

O diálogo também é a chave para aproximar Elisângela Alves do filho Guilherme. Na ausência de palavras, o segredo passa a ser outro: comida. "Quando percebo ele mais quieto, espero o momento certo para conversar. E geralmente quebro o silêncio convidando para um lanche", relata a assistente social. 

Dicas de como lidar com a "temida" adolescência

Nessa fase da vida, não é apenas os adolescentes que devem passar por mudanças. De acordo com Fabíola Menezes, os pais precisam adotar um novo posicionamento educativo em relação aos filhos. É preciso, segundo a especialista, que responsáveis parem de tratar esses indivíduos como crianças — deixando de tomar todas as decisões por eles e permitindo que se sintam independentes. 

Mudanças podem ser difíceis para os pais, principalmente porque na fase da adolescência, segundo explica a psicóloga, jovens tendem a se afastar progressivamente da família, "na busca de uma maior independência e na tentativa de encontrar sua identidade", aproximando-se mais de outros grupos sociais.

"O mais importante é que os pais estejam atentos às atividades dos filhos. Não podemos simplesmente dizer que as mudanças de comportamento (dos adolescentes), por si só, são sinais de dificuldades porque a adolescência é uma fase de múltiplas mudanças. Entretanto, os pais devem ficar atentos para alguns comportamentos que podem trazer riscos para o adolescente", orienta ainda a especialista.

Comportamentos dos adolescentes que devem alertar pais:

  • Consumo excessivo de álcool e drogas;
  • Jogos eletrônicos em excesso;
  • Tempo demais gasto com a tecnologia;
  • Compras excessivas;
  • Isolamento social excessivo;
  • Permanência fora de casa por longos períodos, muitas vezes sem aviso, com celular desligado.

Uso excessivo de telas é assunto em família

Na casa de Clivia Geritza Alves, de 47 anos, o uso excessivo dessas plataformas é discutido. A troca sobre o assunto é feita com a filha, Julie Alves, de 13 anos, que gosta de se inspirar nas danças que viralizam em aplicativos como o Tik Tok.

"É difícil ter o controle absoluto, mas conversamos muito com ela e explicamos as consequências do mal uso das redes sociais. Mesmo assim ainda temos o cuidado de olhar o celular para ficarmos mais tranquilos", conta a assistente administrativo.

A atenção de Clivia é redobrada, principalmente, visando a saúde mental da filha. "Julie é muito ansiosa, seja no período de provas, apresentações de trabalhos, viagens. Tudo que foge um pouco à rotina, faz com que ela fique muito apreensiva", conta a mãe da adolescente.

Já na residência de Elisângela Alves, de 40 anos, o consumo de redes sociais é diferente, mas as telas ainda são presentes. O filho dela, Guilherme Alves, de 15 anos, prefere consumir jogos e vídeos.

A assistente social conta que o filho acompanha alguns narradores de jogos pelo Youtube, mas que o jovem ainda não se deixou influenciar pelo comportamento deles de uma forma que pudesse preocupá-la. "Até o momento, não precisei limitar o tempo de uso", pontua.

Comportamentos dos adolescentes que devem alertar pais

Consumo de álcool e drogas;

Excesso de tempo gasto com jogos eletrônicos e tecnologia;

Compras excessivas;

Isolamento social;

Permanência fora de
casa por longos períodos, muitas vezes sem aviso, com celular desligado.

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