Estar isolado em casa, longe da família e de amigos, ou tendo de sair preocupado com uma possível contaminação. A pandemia do novo coronavírus trouxe para o dia a dia uma realidade até então não vivenciada. Com ela, uma série de questões de impacto psicológico. O momento pede equilíbrio para manter o controle emocional.
Diante do quadro, a palavra ansiedade é constante na rotina de muita gente. A designer Mirna Calixto, 31, conta que para ficar em casa, realizando o isolamento, criou mecanismo para desopilar. "Nos primeiros dias passava muito tempo lendo notícias, e minha ansiedade não tava mais dando conta. Depois tentei fazer algumas atividades para me distrair", lembra.
Contudo, tendo desenvolvidos sintomas leves que guardam semelhança com da covid-19, Mirna conta que a ansiedade se tornou mais presente. "Apesar de ser jovem, sabemos que ninguém está imune a complicações. Passa muita coisa pela cabeça. Atualizo minha médica dos sintomas para saber como proceder. Ela que tem me acalmado. Mas a ansiedade é inevitável", diz.
A situação é semelhante para a arquiteta Lia Aguiar, 30, que indica que os principais sentimentos que tem se tornado presentes são ansiedade, medo e raiva. Para combatê-los, Lia fez yoga em casa, boxe, cozinhava e lia.
Parte dos mecanismos de sobrevivência, a ansiedade e o medo são normais e inerentes aos seres humanos. É por causa deles que nos mantemos alerta e buscamos, por exemplo, nos precaver diante do risco de contaminação iminente. "Uma reação de estresse aguda é saudável quando nós conseguimos em alguns momentos estarmos mais alerta e em outros momentos conseguimos desligar. O indicador do que é saudável é essa alternância", aponta a psicóloga clínica Júlia Evangelista Mota Shioga.
Escolher fontes seguras de informação, reduzir a quantidade de vezes que acessa essas fontes ao longo do dia, criar rotinas, manter horários, fazer alguma atividade física e propor-se a realizar pequenos objetivos são algumas das dicas do médico psiquiatra David Martins, supervisor da Residência Médica em Psiquiatria do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto. "As pessoas têm que se desligar, e um método mais prático, até um pouco radical é desligar o telefone ou só a internet, desligar a televisão, para tentar se focar em outra atividade", ensina.
Para a psicóloga clínica Gabriela Nunes, outro fator estressante nesse período é a "impossibilidade do controle" e imprevisibilidade do que poderá vir a acontecer. "Há muito medo das consequências econômica, pessoal." O caminho, conforme Shioga, é manter a atenção voltada para aquilo que, mesmo com as mudanças repentinas, ainda são estáveis e se mantêm sob controle na vida. "Se antes eu tinha uma organização, um gerenciamento do tempo voltado para uma programação anual ou semestral, agora há uma mudança de foco e eu preciso me reconfigurar. Passo a me organizar pelas próximas horas ou nos próximos dias, no máximo", explica.
Daí, como apontam os especialistas, a necessidade de manutenção dos vínculos familiares e de amizade, mesmo que por meio de plataformas virtuais, vídeochamadas, computadores ou ligações telefônicas, porque é isso que irá dar à pessoa o senso de permanência dentro de tanta mudanças.
Shioga ainda indica que é preciso não se pressionar a ser produtivo, nem a consumir em demasia conteúdos que estão sendo ofertados. "Nós sabemos que não vai ser igual ao que era antes. A gente vai experienciar um estado de desconforto. Vão ter momentos em que você não estará a fim de fazer muita coisa, não vai estar alegre, vai ter raiva, e está tudo bem sentir isso, porque somos seres humanos e temos sentimentos. Quando a gente compreende a transitoriedade do que estamos vivendo, as coisas se tornam mais suportáveis", ensina.
Danos
O psiquiatra David Martins indica que estudos feitos com pessoas que trabalharam em surtos de síndromes agudas respiratórias mostraram que, após três anos, os trabalhadores ainda tinham sintomas de depressão, de transtorno do estresse pós-traumático, principalmente os que trabalhavam em hospitais, em primeiro lugar enfermeiras e depois médicos.
Onde procurar ajuda
Psicólogos Voluntários do Ceará
Atendimento para jornalistas que estão trabalhando na cobertura de notícias sobre a pandemia
Site: https://psicologosvoluntar.wixsite.com/psivoluntariosce
Instagram: @psicologosvoluntariosceara
Contato: psicologosvoluntariosceara@gmail.com
Grupo Criare
Psicólogos para atendimentos gratuitos por meio de marcação de consultas no site do grupo
Site: https://sites.google.com/view/grupocreare/
Conexão Afetiva
Plantão psicológico criado para a quarentena, com atendimento por WhatsApp.
Site: https://www.conexaoafetiva.com.br/
A Chave da Questão
Produção de conteúdo com propósito de acolher e orientar, com vídeo-aulas no Facebook e Instagram
Instagram: @achavedaquestaoo
Facebook: https://www.facebook.com/achavedaquestaoo
CVV
Apoio emocional e prevenção do suicídio
Telefone: 188
Site: https://www.cvv.org.br/
Como cuidar da saúde mental em tempos de pandemia
População geral e pessoas em isolamento:
1. Se informe por fontes seguras: jornais, contas oficiais dos governos, das autoridades locais de saúde e da OMS. Lidar com fatos, e não boatos, pode ajudar a minimizar os medos. Mas procure atualizações de informações em horários específicos durante o dia, uma vez ou duas. O fluxo constante de informação pode fazer com que você se sinta ansioso ou angustiado.
2. Proteja-se e seja solidário com os outros. Ajudar outras pessoas em seu momento de necessidade pode beneficiar a pessoa que recebe apoio e também o ajudante. Por exemplo, cheque por telefone com vizinhos ou pessoas da sua comunidade que precisam de assistência extra.
3. Encontre oportunidades para amplificar histórias positivas e esperançosas e imagens positivas de pessoas locais que vivenciaram a covid-19. Por exemplo, histórias de pessoas que se recuperaram ou que apoiaram um ente querido e está disposto a compartilhar sua experiência.
4. Mantenha-se conectado e mantenha suas redes sociais. Mesmo quando isolado, tente manter suas rotinas diárias ou criar novas rotinas.
5. Durante os períodos de estresse, preste atenção às suas próprias necessidades e sentimentos. Faça atividades que você gosta e acha relaxante, exercícios regularmente, mantenha rotinas de sono e coma comida saudável.
Profissionais de saúde:
6. Cuide-se neste momento. Tente usar estratégias úteis de enfrentamento, como garantir recursos suficientes, descansar durante o trabalho ou entre turnos, comer alimentos suficientes e saudáveis, participar de atividades físicas e manter contato com familiares e amigos. Evite usar estratégias inúteis de enfrentamento, como tabaco, álcool ou outras drogas. A longo prazo, isso pode piorar seus problemas mentais e físicos.
7. Alguns profissionais de saúde podem, infelizmente, ter de evitar a família ou a comunidade. Isso pode tornar uma situação já desafiadora muito mais difícil. Se possível, permanecer conectado com seus entes queridos, inclusive através de métodos digitais, que é uma maneira de manter contato.
Pessoas com crianças:
8. Ajude as crianças a encontrar maneiras positivas de expressar sentimentos, como medo e tristeza. Pode ser por meio de alguma atividade criativa, como brincadeiras e desenho. As crianças sentem-se aliviadas se puderem expressar e comunicar seus sentimentos em um ambiente seguro e solidário.
9. Mantenha as crianças próximas aos pais e à família, se for seguro para a criança. Se uma criança precisar ser separada de prestador de cuidados primários, garantir cuidados alternativos adequados. Além disso, garanta que durante o período de separação, o contato regular com os pais e cuidadores seja mantido por chamadas por telefone ou vídeo ou por outra comunicação apropriada à idade.
10. Mantenha rotinas familiares tanto quanto possível ou crie novas rotinas, especialmente se as crianças devem ficar em casa. Proporcionar atividades apropriadas para a idade das crianças, incluindo atividades para a sua aprendizagem. Incentive as crianças a continuarem brincando e socializar com os outros, mesmo que apenas dentro da família.
11. Discuta sobre a covid-19 com seus filhos de maneira honesta e apropriada. Se seus filhos tiverem preocupações, abordá-las juntos pode aliviar a ansiedade. As crianças observam os comportamentos e emoções dos adultos em busca de dicas sobre como gerenciar seus próprios emoções em tempos difíceis.
Idosos:
12. A família precisa compartilhar fatos simples sobre o que está acontecendo e fornecer informações claras sobre como reduzir o risco de infecção. Repita as informações sempre que necessário. As instruções precisam ser comunicadas de forma clara, concisa e de maneira respeitosa e paciente. Também pode ser útil que as informações sejam exibidas por escrito ou em fotos.
13. Para o idoso: esteja preparado e saiba com antecedência onde e como obter ajuda prática, se necessário, como chamar um táxi, entrega de comida e solicitação de assistência médica. Certifique-se de ter até duas semanas de todos seus medicamentos regulares que você pode precisar.
14. Aprenda exercícios físicos diários simples para realizar em casa, em quarentena ou isolamento, para manter mobilidade e reduzir o tédio. Além disso, tenha atividades de limpeza, tarefas diárias, canto, pintura ou outras atividades.
15. Mantenha contato regular com os entes queridos.