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Agro 4.0: a tecnologia que conecta o campo à mesa do consumidor
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Agro 4.0: a tecnologia que conecta o campo à mesa do consumidor

No Ceará, 62% dos produtores já usam pelo menos uma tecnologia digital na produção, segundo estudo da Embrapa. No País, são 85%. A perspectiva é de que, se o Brasil ampliar a conectividade, o agronegócio possa injetar mais de R$ 47 bilhões na economia nos próximos anos
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Imagens de produção Itaueira (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Imagens de produção Itaueira

O campo vem sendo palco de diversas transformações digitais nos últimos anos. É o chamado Agronegócio 4.0, que revoluciona a performance das culturas, trazendo mais economia ao produtor, maior racionalidade no uso de recursos e informação ao consumidor. Não à toa, o setor representa hoje 30% do PIB brasileiro. Percentual que pode ser ainda mais expressivo, de pelo menos mais 4,5%, se o Brasil conseguisse atingir 50% de cobertura de conectividade no setor. Hoje é de 23%. O que poderia gerar um adicional de cerca de R$ 47 bilhões na economia do país.

É o que mostra o estudo Cenários e Perspectivas da Conectividade para o Agro, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ/USP) e apresentado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

 

Para o coordenador de Inovação do Sistema CNA/Senar, Matheus Ferreira, não há dúvidas de que haverá um esforço grande para que essas projeções sejam cumpridas. E vários fatores contribuem para isso: do avanço em infraestrutura para a chegada do 5G no Brasil à necessidade cada vez mais premente de garantir segurança alimentar para a crescente população mundial. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) estima que a produção de alimentos deve crescer em 80% até 2050 para suprir a demanda dos quase 10 bilhões de habitantes no planeta.

“E o Brasil, como grande exportador de alimentos, terá importante papel. Então, entendo que é totalmente possível avançar esse aumento de participação do agronegócio no PIB nos próximos anos”, afirma Matheus.

Ele reforça que se há um tempo atrás essa inserção no Agronegócio 4.0 poderia ser vista como um luxo, hoje é uma necessidade, até mesmo pensando na sobrevivência do produtor no mercado. “Hoje temos uma realidade em que as margens das atividade rurais têm reduzido muito e para conseguir ter lucro é preciso aumentar escala e produtividade. E para isso precisa de tecnologia.”

Quando traz isso para a realidade do Ceará, as boas perspectivas não são diferentes. Em 2020, dos três setores que compõem o PIB, a agropecuária cearense apresentou excelente resultado, fechando com crescimento de 10,31%, enquanto que o índice nacional ficou em 2%, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).


Mas, é claro que, quando se fala de inovação no agronegócio, seja no Ceará ou no Brasil, como em outros setores econômicos, o grau de inserção de novas tecnologias pode variar muito a depender da região da produção, do porte da empresa e mesmo do tipo de produto.

Empresas maiores e com foco em exportação - a fruticultura irrigada cearense é um exemplo - costumam ter um alto nível de inovação embarcada em seus processos. A questão da competitividade, rigoroso padrão de qualidade exigida internacionalmente e a pressão global para que as empresas tenham um olhar mais atento para suas práticas ambientais, sociais e de governança (ESG, na sigla em inglês) são fatores que impulsionam este cenário, reforça o executivo de desenvolvimento setorial da GS1 Brasil, Nilson Gasconi.

Itaueira Agropecuária S/A
Itaueira Agropecuária S/A (Foto: Drawlio Joca/Divulgação)


O uso de drones, mapeamento de áreas por satélite, tecnologias para plantio, irrigação e pulverizações com alta precisão, software de planejamento e gestão das fazendas, além de ferramentas de rastreabilidade que guardam toda a história daquele produto até chegar ao consumidor são algumas das aplicações tecnológicas que estão sendo utilizadas para melhorar a performance em todos os estágios de produção.

“A identificação global do produto é digamos o RG daquele produto, é o que vai justamente diferenciar o que aquela empresa oferece no mercado. E muitas empresas no Ceará vêm trabalhando neste sentido, para tornar o processo mais eficiente, elevar a produtividade e melhorar a qualidade do produto”, explica Gasconi.

Mas, de modo geral, o uso de tecnologia no campo vem crescendo em todas as esferas. A pesquisa Agricultura Digital no Brasil, feita em parceria pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) revelou que, em 2020, 62% dos produtores cearenses já utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio na produção agrícola. No Brasil, esse percentual é de 85%.

Talita Adeodato, gerente agrícola da Fazenda Nutrilite, em Ubajara (CE)
Talita Adeodato, gerente agrícola da Fazenda Nutrilite, em Ubajara (CE)

Maior fazenda de acerola orgânica fica em Ubajara

O Brasil tem hoje mais de 90 variedades de acerolas, 95% de todas as conhecidas no mundo. E a maior parte delas está em Ubajara, no Ceará. Fruto de muito investimento em pesquisa, desenvolvimento e inovação como os que estão feitos na Fazenda Amway Nutrilite, considerada a maior fazenda orgânica de produção de acerola no mundo.

Apesar dessa ser uma cultura relativamente recente, quando se olha para fruticultura de grande volume, este é um segmento que tem crescido a passos largos nas últimas décadas. E os números da unidade cearense impressionam: São 1.300 hectares e mais de 200.000 pés de acerolas, que produzem 10.000 toneladas de acerola orgânica; 50.000 mudas produzidas ao ano em um viveiro de 42 hectares; 112 produtores integrados; 280 empregos diretos. A capacidade de processamento da fruta é de 15.000 toneladas ao ano e 1.200 tonelada de processamento de pó.

Com muita tecnologia de ponta embarcada em seus processos, a fazenda detém um dos maiores bancos de germoplasma de acerola, com mais de 100 variedades em estudo. A maior parte delas é cultivada apenas para fins de pesquisa, mas foram esses investimentos que possibilitaram escolher duas das melhores variedades, com maior concentração de vitamina C, para crescer no mercado, explica a gerente agrícola da Fazenda Nutrilite, Talita Adeodato.

Ela explica que a empresa foi pioneira na colheita mecanizada de acerola, processo que começou em 2009 e foi consolidado em 2012. Também faz uso de estações meteorológicas, sistemas de irrigação com sensores e plataformas inteligentes de gestão.

"O que nos fez chegar na melhor configuração de pomar, e assim, por exemplo, identificar o período ideal de colheita, quando tem melhor teor de vitamina C e consequentemente também reduzir custo de produção."

Tudo é extremamente controlado: umidade, temperatura e luz. Para se ter uma ideia do que isso significa na prática, bastam, por exemplo, três dias de atraso na colheita para fazer com que a acerola fique 100% madura e assim perder metade do potencial de vitamina C contida na fruta.

Outra preocupação é também disseminar tecnologia e novas técnicas de cultivo, com pegadas Agro 4.0, também aos pequenos produtores de quem também absorve a produção. Mesmo aqueles que ainda estão em fase de semi-mecanização. "Ter uma rede de produção integrada é fundamental para a qualidade do produto".

 

Agtechs

O que são?

AgTech consiste em uma empresa do tipo startup com foco em atividades voltadas para o agronegócio.

- Hoje no Brasil, o cenário das agtechs é bem representativo no ecossistema, ocupando o terceiro lugar (11,8%) entre os segmentos mais comuns de startups, ficando atrás apenas de educação (17,3%) e saúde e bem-estar (17,1%), segundo a Associação Brasileira de Startups (Abstartups)

- São mais de 1,5 mil Agtechs no Brasil, de acordo com o Radar Agtech 2020/2021

- A maior parte delas, 47,8%, foca em soluções para depois que o produto sai da fazenda

- 43,8% visam melhorar o planejamento e a produtividade dentro da fazenda

- 13,33% desenvolvem soluções para a etapa anterior à produção, como melhoramento de insumos

Fonte: Abstartups e Radar Agtechs Brasil 2020-2021

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