Já pensou trabalhar em uma barraca de praia no litoral cearense tomando água de coco? Ou tendo à sua frente a bela paisagem de uma montanha nos Alpes franceses? Ou ainda, uma semana aqui e outra lá?
O chamado anywhere office (em tradução livre do inglês, trabalho de qualquer lugar), que era praticamente impensável para quem não trabalhasse com turismo ou fosse dono de uma grande multinacional, começou a ganhar mais espaço a partir da adoção quase forçada do home office (ou trabalho remoto), por conta da pandemia de Covid-19.
Nesse sentido, a maior aliada foi a tecnologia. Desde que se tenha acesso à internet, um notebook ou mesmo um aparelho de celular puderam se transformar em pequenos escritórios, quando boa parte do mundo adotava medidas de distanciamento físico, a fim de evitar a disseminação do vírus que já vitimou mais de 680 mil pessoas no Brasil.
Estima-se que até 9 milhões de brasileiros tenham trabalhado de forma remota em 2020, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mesmo com a melhoria nos índices epidemiológicos e o retorno gradual das atividades presenciais entre 2021 e 2022, muitas empresas e profissionais optaram por manter atividades remotas em algum grau.
De acordo com a gestora de pessoas e empresas, Mariana Furtado, que também é sócia-diretora da Fasi, "49% dos brasileiros sonham com o trabalho híbrido (parte presencial e parte remoto) e 92% considerariam deixar um emprego totalmente presencial por um modelo híbrido ou totalmente remoto".
Além disso, cerca de 56% das empresas, segundo Mariana, mantiveram o trabalho híbrido em alguma medida.
A partir da aceitação crescente desses formatos e do desenvolvimento tecnológico no ambiente corporativo, abriu-se espaço também para o anywhere office, em suas diferentes submodalidades, incluindo o chamado nomadismo digital, quando o profissional não apenas trabalha em uma cidade ou país para uma empresa de outra região, mas também muda de residência ou a alterna ao longo do tempo.
“Esses modelos de trabalho possibilitam que os colaboradores possam trabalhar de suas respectivas casas, de uma cafeteria, de um coworking (escritório compartilhado) ou de qualquer lugar do mundo onde estejam, negociando a necessidade de ir presencialmente à sede física da empresa em determinada situação”, explica Mariana.
“Os gestores dessas equipes precisam de competências diferentes dos líderes que fazem gestão presencial e estar muito antenados com relação à forma de comunicação até porque ela é muito assíncrona”, acrescenta.
Ou seja, as empresas e profissionais que adotam este estilo de trabalho têm de lidar não apenas com a distância, mas também com um modelo diferente de expediente.
“A questão não é a hora que o colaborador está lá disponível e, sim, as entregas que são feitas, independentemente do horário. Essa flexibilidade é muito boa. A gente tem clientes com colaboradores em outros países como o Canadá e o fuso horário é totalmente diferente. Isso funciona muito bem porque esse colaborador é acompanhado exatamente pela sua produtividade e não pela questão da carga horária”, exemplifica a gestora.
Para a psicóloga e diretora da RH Teplacon, Luciana Walraven, “de um modo geral este modelo aprimora a qualidade de vida das pessoas, visto que reduz o estresse com o deslocamento e possibilita a pessoa escolher o ambiente em que se sinta mais confortável para trabalhar e consequentemente produzir melhor. Adotar o anywhere office também reduz os custos da empresa, principalmente com infraestrutura, o que permite até mesmo remunerar melhor seu quadro de pessoal”.
Dentro dessa perspectiva, o anywhere office possibilitou também que muitas empresas pudessem se expandir contratando colaboradores de diversas cidades no Brasil e no Exterior.
Esse foi o caso, por exemplo, da Bionexo, empresa de tecnologia que oferece soluções digitais para gestão de processos na saúde.
Após adotar o modelo a companhia com sede em São Paulo, contratou profissionais de 97 cidades de diferentes regiões do País e conta, atualmente com 38% de seu quadro funcional composto por pessoas de fora daquele Estado.
A empresa também reduziu o número de pedidos desligamentos na comparação entre o 1º semestre do ano passado com o 1º semestre deste ano, passando de 26% para 9%, índice tido como baixo no segmento de tecnologia.
Para a diretora de Gente e Gestão da Bionexo, Patricia Piñeiro, isso acontece justamente porque “as pessoas têm mais autonomia para escolher a cidade que preferem morar, ficar mais perto da família e ter mais tempo livre”.
DICAS PARA APROVEITAR O ANYWHERE OFFICE
Separe o trabalho do lazer
Mesmo tendo flexibilidade, é bom reservar um horário só pra trabalhar e outro só pra curtir. Alternando o tempo todo entre tarefas e lazer, você acaba não fazendo nada direito – e ficando mentalmente exausto.
Saiba desconectar
Anywhere Office não quer dizer “anytime office”. Ou seja, não é porque você está fora do escritório físico, que precisa responder e-mails e mensagens do chefe ou dos clientes a qualquer hora. Estabeleça limites a você mesmo e aos outros e desconecte sem culpa.
Cuide da sua postura
Trabalhar na rede (ou na piscina, ou na grama...) é lindo nas redes sociais. Mas pode cobrar a fatura no seu corpo (especialmente na sua coluna) a médio prazo, então tenha atenção com sua postura ao executar suas atividades.
Seja realista
Uma casa onde você adoraria passar férias nem sempre é o melhor lugar pra trabalhar. Pense nisso na hora de fechar aquele pacote para se hospedar em uma casa em cima da árvore, mas com wi-fi precário.
Viagens: use com moderação
Por mais liberdade e autonomia que você tenha adquirido, nem todo momento é propício a viagens e a frequência delas nem sempre precisa ser grande para o seu modelo de trabalho, exceto quando você estiver pronto para dar um passo além e migrar para o nomadismo digital.
Fonte: The Summer Hunter