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Projetos de amônia verde podem reduzir a dependência de fertilizantes do exterior
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Projetos de amônia verde podem reduzir a dependência de fertilizantes do exterior

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As lavouras de soja são as que mais consomem o fertilizante russo no Brasil (Foto: Tony Oliveira)
Foto: Tony Oliveira As lavouras de soja são as que mais consomem o fertilizante russo no Brasil

Apostas dos estados do Nordeste para dar uma reviravolta na economia, os projetos de hidrogênio e amônia - principalmente - verdes são apontados como a principal via de redução da dependência do Brasil dos fertilizantes importados.

No ano passado, os fertilizantes (e adubos químicos) foram responsáveis por 5,2% das importações brasileiras. O percentual representa a movimentação de US$ 13,5 bilhões e tem na Rússia o principal fornecedor, o que abre mais um temor de retaliação pelo presidente Donald Trump (Estados Unidos) ao Brasil.

Mas, hoje, o país possui sete projetos em grande escala de hidrogênio e amônia com decisão final de investimento prevista para o próximo ano, segundo levantamento da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV). Destes, cinco estão localizados no Ceará, enquanto os outros dois estão em Pernambuco e Minas Gerais.

“Certamente a indústria de hidrogênio, metanol, amônia e fertilizantes verdes desenvolvidas no Brasil pode reduzir essa dependência das nossas importações de fertilizantes, sim. É bom destacar que o Brasil, apesar de ser um dos celeiros do mundo, importa 90% dos fertilizantes que usa hoje”, observa Fernanda Delgado, CEO da ABIHV.

Ela explica que, atualmente, o processo de produção dos fertilizantes em fábricas brasileiras envolve o gás natural, que chega “a um preço muito caro, muito distorcido”. Com as unidades de amônia verdes implantadas é possível ter “uma base mais competitiva do ponto de vista de custos”.

Ceará em destaque

Dos cinco projetos esperados para 2026 no Ceará, quatro planejam produzir amônia verde no Complexo do Pecém. A Qair projeta 1,6 milhões de toneladas por ano; Casa dos Ventos mais 900 mil toneladas/ano; a FRV, 400 mil toneladas/ano; e a Voltalia outras 250 mil toneladas/ano. Além delas, a European quer produzir 100 mil toneladas anuais no Complexo de Suape (PE).

Complexo do Pecém concentra maior parte dos projetos de amônia verde em desenvolvimento(Foto: FCO FONTENELE)
Foto: FCO FONTENELE Complexo do Pecém concentra maior parte dos projetos de amônia verde em desenvolvimento

“As indústrias que estão chegando no Nordeste tem aí o condão do mercado exportador para uma indústria sofisticada, complexa, de alto valor agregado, visando o mercado exportador, principalmente para o aço verde. São outras potencialidades”, diz Fernanda.

Os 3,2 milhões de toneladas de amônia visados pelas empresas com decisão de investimento no próximo ano ainda são acompanhados de outros dois esperados para 2027 e que envolvem mais 3,1 milhões de toneladas anuais.

Como funciona a amônia no processo dos fertilizantes?

Hoje, o Brasil importa principalmente os chamados fertilizantes nitrogenados, fosfatados e potássicos da Rússia. A amônia produzida pelas usinas a serem instaladas no Brasil, com destaque para o Nordeste, deve reduzir a importação deste primeiro tipo de fertilizante.

As lavouras de soja são as que mais consomem o fertilizante russo no Brasil(Foto: Wenderson Araujo/Trilux)
Foto: Wenderson Araujo/Trilux As lavouras de soja são as que mais consomem o fertilizante russo no Brasil

Isso porque a amônia é matéria-prima para a fabricação de fertilizantes nitrogenados, como a ureia, nitrato e sulfato de amônia. Os itens são aplicados em larga escala pelo agronegócio brasileiro, especialmente as grandes plantações de soja do Centro-Oeste e do Matopiba - área formada por Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

Além disso, as culturas de milho, cana-de-açúcar e algodão, também com produção em larga escala, utilizam os fertilizantes russos.

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