Desde que os aumentos acumulados no preço da carne bovina começaram a ser repassados para os consumidores, há uma semana, o consumo do produto já diminuiu até 10% no Ceará, de acordo com o Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas de Fortaleza (Sindicarnes). Em meio a altas, que já chegam a 50% no acumulado entre agosto e esta primeira semana de dezembro, os cearenses estão procurando outras opções de proteína, que também estão com valores maiores.
 Atualmente, o País está fora do período de safra do boi, que perdura pelo primeiro semestre, e a oferta já é normalmente diminuta neste período do ano, de entressafra. Além disso, a causa para preços elevados se dá porque o Ceará importa proteína bovina de frigoríficos de Goiás, Tocantins e Pará, que neste momento estão mais atentos para o mercado asiático, em especial a China.
O presidente do Sindicarnes, Everton da Silva, revela que mesmo entre os cortes de segunda, a queda no consumo chega a 6% nas últimas semanas depois da alta de preços. "O Brasil, que já tem uma grande exportação, começou a receber uma demanda da China e de outros países asiáticos com agressividade. Da noite pro dia, aumentou muito a exportação de carne e a procura ficou muito maior".
Com esse aumento, o cliente passa a procurar outras proteínas e essa maior demanda faz com que aconteça a natural regra da lei da oferta e demanda, que faz com que o frango e a carne suína tenham seu preço valorizado. O economista e membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Vicente Férrer, avalia que a variação já era esperada neste primeiro momento.
Neste momento, portanto, o consumidor nacional, salvas as proporções, praticamente concorre com os consumidores estrangeiros. Para o economista, os produtores brasileiros têm a oportunidade de abrir uma nova fronteira agropecuária, assim como aconteceu com os países do Oriente Médio e da Rússia.
"Esse mercado novo que abriu é muito positivo para o produtor brasileiro e pode se transformar num mercado definitivo e sólido. A opção por bens substitutos, ao mesmo tempo em que demanda mais dessas outras carnes, a lei da oferta e da procura faz os preços aumentarem mais", analisa.
Uma das líderes da bancada parlamentar da agropecuária, a senadora Kátia Abreu (PDT-TO) entende que o aumento do preço da carne não representa novo patamar e que o valor está abaixo do ideal. Para a ex-ministra da Agricultura, a arroba do boi gordo deve ficar mais barata nas próximas semanas.
Ela destacou ainda que a guerra comercial entre China e Estados Unidos abre perspectiva para que o país asiático busque outros parceiros no médio prazo. "Isso ampliou o mercado para o Brasil não só na área de carnes, mas em outras áreas também". (Com Agência Estado)
No frigorífico
TARCÍSIO PEDROSA,
gerente do frigorífico Super Baratão
Há mais de duas décadas no mercado de varejo de carnes, o gerente do frigorífico Super Baratão, na avenida Antônio Sales, Tarcísio Pedrosa, fala que percebeu mudanças no hábito de consumo dos clientes.
"O aumento foi relâmpago. Não deram tempo nem para o preparo do povo", ressalta ele ao destacar que até mesmo os empresários que realizaram pedidos para estoque notaram uma mudança significativa nos preços praticados nas últimas semanas, o que faz com que o repasse do reajuste seja inevitável.
Tarcísio comenta que os cortes que mais aumentaram de preço são justamente os mais consumidos pelo público. Mas algumas opções não tiveram o preço alterado de forma tão excepcional. E dá a dica: lagarto e coxão duro bovino ainda estão com valores com pouco ou nenhum reajuste.
A venda de opções suínas e frango aumentaram 30% desde a alta dos corte bovinos. "Está acontecendo muito de as pessoas optarem pela carne suína, frango. E agora chegou a vez desses produtos aumentarem de preço - o que já começou -, mas não de maneira tão violenta quanto a carne", revela sobre a mudança de hábito de consumo.
Histórico da elevação
RESPONSÁVEIS por metade da produção mundial de carne suína, desde agosto, a China enfrenta uma epidemia de peste suína africana.
ISSO FEZ com que o país e alguns vizinhos asiáticos aumentassem a demanda por exportações de carne bovina brasileira.
DE UM DIA para o outro, um aumento médio de 80% no preço do quilo das carnes chegou ao consumidor de Fortaleza. Em cortes nobres pesquisados, como o filé mignon, alcançou os 100%.
A ASSOCIAÇÃO Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel) está denunciando os valores dos repasses dos fornecedores para os estabelecimentos.
NOS ÚLTIMOS DIAS, preços das carnes de porco e frango quase dobraram no mercado brasileiro, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal.