Os envelopes com as propostas para a construção da Usina de Dessalinização do Ceará foram abertos ontem e o consórcio liderado pela construtora Marquise tinha a melhor proposta, segundo os critérios. A licitação, do tipo menor preço, contou ainda com a participação de outras três empresas e a Marquise propôs R$ 118,1 milhões por ano para receber a concessão e realizar a obra de construção. O investimento previsto para a usina é de R$ 3,2 bilhões nos próximos 30 anos.
O consórcio Águas de Fortaleza é liderado pelo grupo Marquise S/A e conta com as participações de PB Construções Ltda e Abengoa Água S/A. Após a abertura das propostas, foi realizada, ainda ontem, a avaliação das propostas pela Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) que deve anunciar posteriormente o resultado definitivo para a vencedora. Ainda precisam ser avaliados outros critérios técnicos dos projetos. Inicialmente, a abertura das propostas seria em 1º de setembro, no entanto, por conta da pandemia, foi adiado para ontem, conforme antecipou o Blog Jocélio Leal.
De acordo com ata da reunião realizada ontem, o resultado do julgamento das propostas será divulgado em sessão pública a ser marcada. O documento ainda revela que outros três consórcios de empresas fizeram propostas. A Cobra Brasil Serviços, Comunicações e Energia S/A ofereceu R$ 119,9 milhões; o consórcio GS Inima propôs R$ 120,4 milhões; e o consórcio composto pela Sacyr Concessões e Participações do Brasil, Sacyr Concesiones, S.L e Sacyr Agua, S.L propôs R$ 172,9 milhões. Vale lembrar que a GS Inima foi a responsável pelos estudos da Usina de Dessalinização.
"A companhia informa que as próximas fases do processo licitatório são a análise da proposta comercial e, posteriormente, da habilitação do participante que ofertar a melhor proposta. A empresa ou consórcio vencedor somente será conhecido após a realização dessas duas etapas", afirma a Cagece em nota.
Na prática, o valor da proposta comercial é o principal item de avaliação do certame, daí a importância deste primeiro resultado, mas não é o único quesito avaliado. O projeto prevê que a usina será construída no bairro Praia do Futuro, em Fortaleza, e terá capacidade de produção de 1 m³/s. Faz parte da estratégia do Governo do Estado de diversificar a matriz hídrica de Fortaleza e Região Metropolitana e pode elevar em 12% a oferta de água e beneficiar cerca de 720 mil pessoas.
O diretor da Marquise Infraestrutura, Renan Carvalho, destaca que esse é um grande projeto, tanto em pioneirismo quanto em relevância social. "Levar abastecimento de água para pessoas é promover saúde e dignidade, ainda mais para essa região que historicamente sofre com constantes secas".
A doutora pela Universidade de São Paulo (USP) e coordenadora do mestrado em Gestão Ambiental do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), Waleska Eloi, avalia que podemos considerar a dessalinização como o futuro do abastecimento de água potável. "A escassez hídrica é uma realidade para muitas regiões do mundo. Até por usar água limpa e devolver à natureza com menor qualidade de pureza, já temos um déficit. E essa função da dessalinização é um processo que observo como caminho para reverter esse cenário de escassez. Temos exemplos como Israel, que praticamente é abastecido por isso".
Waleska ressalta que, na análise do projeto, é preciso atenção a pontos importantes, como o que será feito com os resíduos de salmoura, que têm grande concentração de sódio e o descarte no meio ambiente marinho pode ser danoso pelo alto nível de salinidade ao qual seriam expostos. (Colaborou Irna Cavalcante)