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Ameaças à democracia refletem em relações comerciais do País no Exterior
Economia

Ameaças à democracia refletem em relações comerciais do País no Exterior

Embora considerem improvável uma ruptura institucional, especialistas em comércio exterior avaliam que instabilidade prejudica atração de investimentos estrangeiros
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Presidentes da República, Jair Bolsonaro, e do TSE, Luís Roberto Barroso, protagonizaram nas últimas semanas uma das mais tensas crises institucionais desde a redemocratização (Foto: Revista Fórum/Arquivo/Reprodução)
Foto: Revista Fórum/Arquivo/Reprodução Presidentes da República, Jair Bolsonaro, e do TSE, Luís Roberto Barroso, protagonizaram nas últimas semanas uma das mais tensas crises institucionais desde a redemocratização

As últimas semanas foram marcadas por uma crescente tensão política envolvendo, principalmente, os presidentes da República, Jair Bolsonaro, e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, em torno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estipulava o chamado “voto impresso”. Por mais de uma vez, o chefe do Executivo chegou a afirmar que as eleições de 2022 poderiam não acontecer, caso o projeto não fosse aprovado. Como pano de fundo, xingamentos, ‘alfinetadas’ e um controverso desfile militar.

As declarações foram rechaçadas por alguns dos principais nomes do mercado, tais como os presidentes da Itaúsa, Alfredo Setubal, e do Credit Suisse, José Olympio Pereira, que assinaram um manifesto em defesa do atual sistema de votação com urna eletrônica, conjuntamente com um grupo de grandes empresários e outros representantes da sociedade civil. Tendo obtido 79 votos a menos que o necessário para avançar, a “PEC do Voto Impresso” foi derrotada em votação no plenário da Câmara dos Deputados, na última quarta-feira, 10.

As polêmicas entre os Poderes seguem, contudo, e já começam a despertar a atenção internacional, além de gerar preocupação em quem depende da boa imagem do Brasil para exportar ou para atrair investimentos do capital estrangeiro. Diante do quadro atual, O POVO ouviu especialista em comércio exterior e em relações internacionais para avaliar os eventuais danos econômicos já ocorridos, por conta do acirramento do conflito político, ou dos que poderiam ocorrer, em uma situação extrema que configurasse ruptura democrática.

 

 

Para Francisca Grostein, professora de Administração-Comércio Exterior do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), da Universidade Presbiteriana Mackenzie (SP), “essa tensão sinaliza um ambiente de insegurança nos negócios. Essa insegurança institucional afasta tanto investidores nacionais como os estrangeiros, neste momento em que o Brasil busca justamente uma atração de investimentos para aumentar a produção, o emprego e a renda. Então, essa tensão se mostra bastante prejudicial e poderá também afetar negativamente, num segundo momento, as exportações de produtos brasileiros”.

Por sua vez, a economista Eufrasina Campelo enxerga pouco reflexo imediato para o comércio exterior, mas avalia que uma eventual ruptura institucional teria graves consequências econômicas. “O Brasil vende produtos de base primária, de baixíssimo conteúdo tecnológico agregado. Conflitos políticos ressaltam para o mundo nossas fragilidades e instabilidades, porém pouco impactam nas exportações. Contudo, o País é signatário de vários tratados internacionais que partem da premissa democrática. Nesse sentido, estaríamos nos excluindo dos blocos político-econômicos que mais movimentam recursos no planeta”, ressalta.

O ex-presidente da Câmara Setorial de Comércio Exterior da Agência de Desenvolvimento do Ceará (Adece), Roberto Marinho, concorda que a crise entre Executivo e Judiciário não deve influenciar os resultados das exportações, no curto prazo. Porém, ele observa a existência de um “estresse” no mercado, derivado da tensão política. “Ele acontece em um momento no qual a gente ainda nem saiu de uma pandemia, que causou um verdadeiro tsunami em todas as relações comerciais. Você vê que o frete atingiu preços altíssimos, que faltam contêineres e isso tudo reflete em custo, em tempo e no ânimo de quem trabalha no setor”, enumera.

Já Paulo Wrobel, professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), diz que a hipótese de uma escalada autoritária causaria grande insatisfação internacional, mas vê pouca margem para sanções econômicas ao País. “Isso ocorreria porque o Brasil é um país relevante e, às vezes, nós nem nos damos conta. Por exemplo, nós somos o segundo maior exportador de alimentos do mundo. Nós também estamos nos transformando em grandes exportadores de petróleo, ou seja, nós somos um país fundamental para o comércio global nos próximos 40 anos”, explica.

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