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Avanço do mercado voltado para animais domésticos atrai atenção de novos segmentos
Economia

Avanço do mercado voltado para animais domésticos atrai atenção de novos segmentos

De olho em nicho que movimenta R$ 46,5 bilhões por ano, hotéis, restaurantes, shoppings e setor público investem em ambientes mais acessíveis para os bichos de estimação
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Hotéis, restaurantes e shopping centers de Fortaleza têm aderido ao conceito 'pet friendly' (Foto: (Thais Mesquita/OPOVO))
Foto: (Thais Mesquita/OPOVO) Hotéis, restaurantes e shopping centers de Fortaleza têm aderido ao conceito 'pet friendly'

Amigável. Essa talvez seja uma das palavras que passe pela cabeça do leitor ao imaginar a imagem de um animalzinho de estimação.

No caso de cachorros e gatos, essa sensação de se estar diante de um amigo acompanha a humanidade desde a pré-história, com registros de domesticação de cães variando entre 11 mil e 40 mil anos atrás. Já a domesticação dos felinos é mais recente, tendo ocorrido por volta de 5 mil a 12 mil anos atrás. E de lá para cá essa relação de amizade interespécies ganhou novos atores, tais como aves, répteis e peixes.

Pois, esses amigos de quatro patas (como também os de duas ou nenhuma pata, bem como os de nadadeiras), que por tanto tempo estiveram lado a lado conosco, em nossos lares, comunidades e diferentes civilizações, passaram, ao longo do século passado, cada vez mais por um processo de segregação em alguns ambientes, tais como restaurantes, hotéis, centros comerciais, vias públicas e meios de transportes.

No século XXI, principalmente, após o advento da pandemia de Covid-19, esse movimento começou a se inverter com a adoção crescente do conceito ‘pet friendly’. A expressão inglesa significa exatamente ‘amigável a animais de estimação (ou pets)’ e é aplicada a empresas, ambientes e até cidades que adotam políticas que tornem mais acessível e confortável a estadia dos bichinhos em determinado local, permitindo o convívio com seus respectivos tutores.

As razões para esse avanço do ‘pet friendly’ vão desde questões comportamentais, (relacionadas ou não aos movimentos de defesa dos direitos dos animais), até a questão econômica, afinal quando se considera o chamado ‘mercado pet’, estamos falando de uma cadeia produtiva que deve movimentar em 2021, somente no Brasil, R$ 46,5 bilhões, segundo projeção da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). O País, a propósito, é o sexto maior mercado global nesse segmento.

O diretor-técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) no Ceará, Alci Porto, lembra que as restrições à circulação de pessoas durante as duas ondas pandêmicas registradas entre 2020 e 2021, “geraram uma relação de afinidade maior com os animais de estimação. As pessoas tiveram com eles uma forma de relacionamento mais próximo. Foi perceptível que muitos consumidores, principalmente os que moram sozinhos ou os casais, procuraram mais ativamente os petshops para compra de produtos diversos para atender seus animais”.

Vale lembrar que o comércio e os serviços destinados aos ‘pets’ foram considerados essenciais na maior parte do Brasil, incluindo o estado do Ceará, desde o início da pandemia. Isso ajuda a explicar, em parte, porque o segmento teve crescimento de 13,5% no ano passado e projeta expansão maior para este ano: 13,8%, segundo a Abinpet. “Esse foi um indicador importante de aumento que o Sebrae teve acesso. É um sinalizador concreto de que as pessoas estavam de alguma forma mais apegadas aos seus animais de estimação. Isso se reflete em consumo e beneficia não só os petshops, mas também quem acolhe os pets”, avalia Porto.

Nesse sentido, esse movimento não passou despercebido de empresários e gestores públicos de Fortaleza. A cidade conta com pelo menos 10 shopping centers, 16 barracas de praia, 100 bares e restaurantes, além de 10 hotéis de grande porte, que adotam o conceito ‘pet friendly’. Entre pousadas e pequenos hotéis, a estimativa é que 35% desse tipo de estabelecimento já conte com algum tipo de estrutura ou serviço para receber animais de estimação que viajem acompanhados de seus tutores.

Em setembro, por exemplo, a Secretaria de Turismo de Fortaleza, em parceria com a Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (SCSP), o próprio Sebrae-CE, além da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis no Ceará (ABIH-CE) e da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes no Ceará (Abrasel-CE) lançou um projeto que tem por objetivo transformar a capital cearense na primeira cidade ‘pet friendly’ do Brasil.

“Esse é um mercado fantástico, uma vez que o Brasil tem quase 150 milhões de pets. Nunca se investiu tanto em petshops como agora. Você não vê nos IPOs (oferta pública inicial de ações na Bolsa) nenhuma loja de brinquedo, mas vê petshops. Então, sermos o primeiro município do País a ter uma política pública exclusiva para esses animais é um diferencial turístico enorme”, exalta o secretário de Turismo de Fortaleza, Alexandre Pereira.

Na ocasião de lançamento do projeto, o prefeito da Capital, José Sarto, já havia destacado que pretendia “tornar Fortaleza uma referência na proteção animal” e “desenvolver políticas que também beneficiem fortalezenses que têm pets”.

Com ou sem investimento do poder público, o que a nossa reportagem pôde apurar com representantes de diferentes cadeias produtivas é que o movimento ‘pet friendly’ veio para ficar. Animais e seus tutores agradecem!

O MERCADO PET FRIENDLY

Significado

Local "amigável''/acessível aos animais de estimação. O conceito, no entanto, não se refere aos lugares onde os pets podem apenas entrar, mas àqueles em que o ambiente esteja preparado para recebê-los bem e proporcionar conforto.

Principais características de um estabelecimento pet friendly

- Equipe de atendimento treinada e com conhecimentos básicos sobre os animais;
- Ter bebedouros com água fresca em diferentes locais do estabelecimento;
- Oferta de saquinhos e lixeiras exclusivas para as fezes dos pets;
- Locais reservados para os pets, onde possam ficar à vontade com seus tutores.

Estabelecimentos em Fortaleza

- 10 hotéis
- 10 shopping centers
- 16 barracas de praia
- 23 creches/cachorródromos
- 100 bares e restaurantes

UNIVERSO PET NO BRASIL 

- 141,6 milhões de animais de companhia
- 55,1 milhões de cães
- 40 milhões de aves
- 24,7 milhões de gatos
- 19,4 milhões de peixes ornamentais
- 2,4 milhões de outros animais, especialmente répteis e pequenos mamíferos

Movimentação financeira

- Volume financeiro movimentado em 2020: R$ 40,8 bilhões
- Crescimento (2020 em relação a 2019): 13,5%
- Projeção de crescimento (2021 em relação a 2020): 13,8%
- Volume financeiro movimentado em 2021 (projeção): R$ 46,5 bilhões
- Valor médio mensal gasto em cuidados com cães: R$ 340
- Valor médio mensal gasto em cuidados com gatos: R$ 197

Percentual de receita por tipo de produto

- 76% (alimentos)
- 17% (produtos veterinários)
- 7% (produtos de higiene e bem-estar)

O Brasil no mercado pet global

- 2º maior mercado de alimentos para cães
- 3° maior mercado de alimentos para pets em geral
- 6° maior mercado de produtos pets em geral

Outros dados

- Empregos gerados: 2 milhões
- 272 mil estabelecimentos compõem essa indústria
- 65% dos domicílios rurais e 41% dos domicílios urbanos têm, pelo menos, um cão
- Em média 44,3% dos domicílios brasileiros têm um cão
- 42% dos donos de animais já deixaram de frequentar estabelecimentos não pet friendly

Fontes: Petz/Sebrae/Abinpet/IPB/Radar Pet/Euromonitor International

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