Em 2021, quem apostou em oito de dez tipos de aplicação em renda fixa teve rendimento médio real negativo, mas o ano que se aproxima traz novas perspectivas para o investidor comum.
Isso porque a tendência de novas altas na taxa básica de juros, a Selic, pelo Banco Central (BC) permanece e as incertezas do ano eleitoral trazem volatilidade para as aplicações em renda variável, notadamente àquelas feitas em ações na Bolsa.
Na última quarta-feira, 8, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu elevar a Selic de 7,75% para 9,25% e já sinalizou novo aumento de 1,5 ponto percentual a ser instituído na próxima reunião da entidade, a ser realizada já em 2022.
Com isso, a taxa básica de juros chegaria a casa dos dois dígitos, após ter chegado a apenas 2% entre 5 de agosto de 2020 e 16 de março de 2021. O objetivo principal das sucessivas altas é conter a disparada da inflação, que no acumulado do corrente ano já chega a 8,24%, mas essas decisões geram um efeito cascata em toda a economia, inclusive nos diversos tipos de investimento.
Para o fundador do Yubb Investimentos, Bernardo Pascowitch, “ainda não é possível dizer se isso será o suficiente porque ainda existe uma pressão inflacionária global. Nesse cenário cheio de desafios, o investidor deve diversificar a sua carteira. Vale aumentar a posição renda fixa, para aproveitar a alta dos juros, lembrando que a renda fixa deve ser usada para conservar o patrimônio”.
Já o analista de investimentos da Arêa leão, João Lucas Pinheiro Frota, adverte que “qualquer decisão de investimento vai depender, principalmente, de dois fatores. O primeiro é o prazo de investimento, ou seja, quando a pessoa vai precisar desse dinheirinho. É um ano, são dois anos ou são dez? Isso é importante ter em mente. O outro fator é o nível de aceitação ao risco que esse investidor está disposto a correr”.
Nesse sentido e com um panorama de imprevisibilidade econômica, ele afirma que “a renda fixa também está ficando mais atrativa, principalmente, por causa da inflação que está subindo bastante e o Banco Central está sendo obrigado a aumentar a taxa Selic em uma velocidade bem alta. Então, a sugestão é que quem espera um prazo mais curto para obter o retorno do investimento e menos aceitação ao risco deve apostar mesmo na fixa”.
Por sua vez, o sócio da Messem Investimentos e CFP (sigla inglesa para Planejador Financeiro Certificado), Felipe Guerra, ressalta que “a gente está vendo um novo ciclo de alta na taxa de juros, depois de um ciclo longo de queda, no qual a renda fixa tradicional foi muito penalizada. Tanto o investidor que investia em CDB, quanto o que investia na poupança ou em fundos atrelados à Selic tiveram rentabilidades reais negativas, ou seja, perda no poder de compra”.
Ele alerta, contudo, que ainda é cedo para falar em ganhos com a renda fixa. “A inflação acumulada nos últimos 12 meses continua acima de 10%. Ou seja, esse aumento na taxa de juros dá uma melhorada na questão da rentabilidade nominal e gera uma menor perda de rentabilidade real, mas ela ainda existe”, pontua. Cautela à parte, Felipe Guerra, aponta indicativos positivos para quem optar por esse tipo de investimento ao analisar os dados mais recentes de inflação.
“Nós tivemos uma deflação do IGP-DI e tivemos uma alta no IPCA menor do que a esperada. Isso é uma sinalização de que a inflação começará a cair. A perspectiva é que, em 2022, nós tenhamos uma inflação na casa de 4,5% a 5%, e uma taxa de juros na casa de 11% a 12%. Isso varia, justamente, por causa da inflação. Se ela cair mais rapidamente, então há uma necessidade menor de aumento de juros. Na prática, para o investidor que vai colocar os seus recursos em renda fixa tradicional, quanto mais rapidamente a taxa de inflação cair mais significativos serão os ganhos”, resume.
Para os analistas ouvidos por O POVO, contudo, a grande incerteza eleitoral e a polarização política que tem se refletido também na economia brasileira podem alterar bruscamente esse cenário mais favorável à renda fixa.