Com apenas um projeto, o Ceará é responsável por 70% (R$ 4.225 bilhões) do investimento de R$ 5,9 bilhões do primeiro leilão do País para contratação de reserva de capacidade de potência e energia para usinas termelétricas, realizado ontem.
O empreendimento foi o da usina termoelétrica a gás natural do consórcio Portocem, que foi elaborado pela Ponte Nova Energia, e vendido para a norte-americana Ceiba Energy, grupo apoiado pelo Fundo de Investimentos em Energia Denham Capital.
A Ponte Nova Energia, empresa integrada nas áreas de energia, infraestrutura e gestão de negócios, que desenvolveu o projeto da Portocem. A empresa já desenvolveu outros projetos, como a TermoLuma e térmicas a carvão para o empresário Eike Batista.
O leilão realizado pelo Ministério de Minas e Energia movimentou R$ 57,3 bilhões, com deságios atingindo 15,34%. Foram 132 projetos e 50.691 megawatts (MW) de potência.
Mas finalizou em 17 vencedores, com preço médio de R$ 824 mil por MW/ano e potência contratada para abastecer o Sistema Interligado Nacional (SIN) em 4.632 MW, cujo Ceará correspondeu a 1.473,69 MW (31,8%) ou 1,47 gigawatts (GW). O início do suprimento da energia está previsto para 2026 e 2027, com contratos de vigência de 15 anos.
Isso significa que o Complexo do Pecém terá uma usina termoelétrica a gás natural ocupando uma área de 29,78 hectares, ou 30 campos de futebol. Tem potencial nominal de 2.189,6 MW, o suficiente para abastecer 1/4 da demanda do Estado.
O empreendimento marca a transição do Ceará para fontes de energia menos poluentes, com o uso de gás natural em substituição ao carvão e a utilização da água do mar, em lugar dos reservatórios, para o arrefecimento do processo de produção.
Maia Júnior, secretário do Desenvolvimento Econômico e Trabalho, diz que tanto a aprovação do regulamento que abre o mercado de gás natural no Ceará, quanto este projeto de térmica a gás geram a possibilidade de um hub do combustível no Estado.
"O volume de gás que essa termelétrica vai consumir vai permitir a implantação de um polo de regaseificação de GNL (Gás Natural Liquefeito) permanente no Pecém", complementa Adão Linhares, secretário Executivo de Energia e Telecomunicação da Secretaria da Infraestrutura do Ceará.
Ele frisa que hoje o sistema está substituindo a matriz hidrelétrica por eólicas e solares no Nordeste, mas que essa mudança precisa de uma base térmica.
Conforme O POVO apurou com fontes do mercado energético, a expectativa é que haja ainda fim do monopólio da Petrobras. O Ceará até então era abastecido de GLP por um navio da estatal, o Golar Winter, que foi retirado em março deste ano do Pecém e levado à Bahia durante a maior crise energética dos 91 anos no Sudeste. Apesar de retornar ao Porto, a embarcação é considerada uma solução paliativa e tem fim com o contrato da Petrobras em 2023.
Neste cenário, surge ainda uma oportunidade de atrair grupos como Shell, VP, Total etc. para entrarem no polo de regaseificação no Estado e consequentemente baratear o combustível natural, distribuído pela Companhia de Gás do Ceará (Cegás), para empresas, condomínios e automóveis.
Atualmente, são 2,5 gigawatts em construção em até quatro anos e a expectativa é que o Ceará dobre sua oferta de energia. "Depende mais de agenda do governador para anunciar o protocolo do hub de gás natural", diz Maia.
De prospecções na área de energia, além da francesa Total, que celebrou protocolo de intenções com o governo, há negociações com a Shell, a Britz Petróleo e a dinamarquesa Ørsted. "Temos trabalhado ainda duas indústrias chinesas na área de energia offshore (geração no mar)."