As práticas ambientais, sociais e de governança, ou de ESG, organizadas de forma estratégica são as novas exigências no mundo dos negócios na atualidade. Seja nas relações entre empresas, como também com fornecedores, mas, principalmente, com o consumidor que deseja transparência e propósito na hora da compra. Prova real desta transformação são os índices da Bolsa de valores. Desde a criação do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), em 2006, ele teve alta de 269%, já a B3, bolsa de valores oficial do Brasil, cresceu 200% em igual período. O que já estava sendo trabalhado no mundo há cerca de duas décadas acelerou com a pandemia.
Com toda essa transformação, as empresas brasileiras, especialmente as cearenses, precisam se adaptar rapidamente aos novos tempos. Especialmente quando o assunto são exportações em geral e de energias renováveis, como no caso do hidrogênio verde que é a nova aposta do Estado. Para apoiar as micro, pequenas, médias e grandes empresas do Ceará, a Federação das Indústria do Estado do Ceará (Fiec) lançou ontem o Programa ESG-Fiec.
Além de disseminar a cultura de sustentabilidade para a indústria, apoiará políticas de redução dos impactos ambientais, valorização do capital humano e estruturas sólidas de governança corporativa. Para que as empresas sejam reconhecidas pelas boas práticas um selo com chancela da Fiec, acreditado pela Bureau Veritas S. A, foi criado.
“Hoje várias empresas do Ceará já fazem esse trabalho de ESG mas não existe alguém para certificar e isso é importante. Vamos fazer isso de uma forma correta. Nós iremos dar o Selo Fiec para que a empresa se sinta acolhida, porque ela está fazendo aquilo porque já está no DNA dela. O futuro que está chegando na Fiec. Somos a primeira federação do Brasil a ter um programa e estamos tentando mudar uma mentalidade”, disse Ricardo Cavalcante, presidente da Fiec, que não abriu os investimentos ou as metas para essa inovação.
Para a empresa estar adapta a participar do programa é preciso ter todas as licenças em dia; tributos federais e obrigações trabalhistas regulares; e empregados em contratação de acordo com a lei. Desta forma, ela preenche um formulário de autoavaliação disponibilizado pela federação que tem como base 68 indicadores de natureza ambiental, social e de governança. Ao término desta etapa um relatório informará se ela está apta a seguir para certificação.
Toda temática está pautada nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS), que fazem parte da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável adotado pelo pacto global da Organização das Nações Unidas (ONU), atualmente são 17 objetos. Para o evento inaugural, o CEO e fundador da consultoria Ideia Sustentável, Ricardo Voltolino explanou sobre as agendas necessárias e os desafios a serem enfrentados para essa adaptação e transformação na cultura empresarial brasileira.
É preciso ter estratégias de diversidade e inclusão, cuidar da saúde integral dos colaboradores e ter respeito aos direitos humanos em toda cadeia de valor. Elaborar um impacto social mais estratégico e envolvimento dos colaboradores, ter inovação para uma economia de baixo carbono e nova liderança, mais ética, cuidadora e ecocêntrica.
Segundo dados da pesquisa realizada pela Deloitte, 74% dos empresários nacionais esperam aumentar os orçamentos de ESG em 2022 e 86% acreditam que criar indicadores não financeiros ajuda na transparência com o público. Entre os três pilares do ESG os que já têm mais indicadores são governança, ambientais e, por último, sociais. “É um caráter de urgência, mandatório e estratégico ter agendas sobre o tema com CEOs e conselheiros, os investidores estão atentos”, ressaltou Voltolini.
A coordenadora de Relações Corporativas da Diageo, Adailma Mendes, avaliou que o lançamento do Programa ESG Fiec é um grande avanço para todo o setor industrial do Ceará. "Ganhamos uma iniciativa que terá crivo e uma discussão qualificada e contínua para a necessidade de se agir pelas diretrizes de ESG. Estar dentro de comportamentos ideais de respeito ao meio ambiente, de preocupação com as questões sociais e de boa governança não é mais uma postura de quem vai à frente, digo empresas. Precisamos nos reinventar, nos remodelar e nos engajar para termos um futuro“, ressaltou.
Atualmente, a agenda em ESG está diretamente ligada ao plano que a Diageo elaborou com o objetivo de impactar de maneira positiva o planeta pelos próximos anos, até 2030: “Sociedade 2030: Espírito do Progresso”. Trata-se de um conjunto de 25 metas alinhadas as ODS. Essas metas correspondem a três áreas principais: promoção do consumo responsável de álcool; promoção da diversidade e inclusão; e sustentabilidade em toda a cadeia, do grão ao copo.
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Afinal de contas o que é ESG ou ASG?
Essas três letrinhas ganharam notória atenção e vêm sendo pauta de discussões internacionais e nacionais. Elas representam um movimento mundial que lidera a necessidade iminente dos governos, empresas e da sociedade civil em adotar práticas sustentáveis relacionadas a fatores ambientais, sociais e de governança. Mais do que um conjunto de conceitos ou práticas, elas representam um movimento que promove e exige uma mudança cultural e comportamental com ações estruturadas e integradas para o bem comum.
O “E” environmental ou ambiental, representa o conjunto de ações adotadas pelas organizações para minimizar o impacto de suas operações no meio ambiente e na utilização de recursos naturais. O “S” social, diz respeito a como as organizações se relacionam com fornecedores, clientes, colaboradores, comunidade e demais stakeholders. Já o “G” governance ou governança, demonstra o quanto as organizações estão preparadas, engajadas e comprometidas em adotar práticas e condutas de sustentabilidade, fundamentadas na transparência dos seus atos, na prestação de contas e na equidade, sobretudo com a sociedade e com os seus investidores minoritários.
O impacto das nossas ações enquanto empresas, governantes e sociedade civil ao longo dos anos, vem resultando em números alarmantes e em projeções não otimistas. De acordo com dados de 2021 da Unicef, cerca de 35% da população mundial não tem acesso a água tratada e 43% não contam com serviços adequados de saneamento básico, sendo possível constatar que dez milhões de pessoas morrem anualmente em decorrência de doenças intestinais transmitidas pela água.
Em relação a desigualdade energética, o secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou durante o discurso de abertura do Diálogo de Alto Nível sobre Energia da 76º sessão da Assembleia Geral da ONU, que “quase 760 milhões de pessoas ainda não têm acesso à eletricidade e cerca de 2,6 bilhões de pessoas não têm acesso a meios de cozinhar limpos. E a forma como produzimos e usamos energia é a principal causa da crise climática”.
As questões que essas três letrinhas representam são complexas e urgentes, pois cada dia em que continuamos inertes, contribuímos com o aumento do nível de emissões de CO2 e por sua vez com o aquecimento global, pois as atividades simples do nosso dia a dia, o perfil de consumo dos produtos e serviços e por sua vez dos processos industriais, representam diariamente milhares de emissões de CO2, o que chamamos recentemente de pegadas de carbono.
Como forma de estruturar, potencializar e viabilizar soluções com impactos mundiais para essas questões surgiu a Conference of the Parties (COP). Em sua última reunião, em Glasgow, no Reino Unido, a 26ª Conferência das Partes sobre Mudança Climática da ONU (COP 26), reuniu representantes de 196 países signatários do Acordo de Paris.
Durante a pauta estabeleceram, dentre outras questões, metas de redução de emissões de carbono até 2030 visando manter a temperatura média global abaixo de 1,5°C; a cobrança de ações imediatas e efetivas dos Estados membros da Convenção-Quadro das Nações Unidas, para evitar um série de catástrofes climáticas; a estipulação de iniciativas para que os governos, empresas e toda a sociedade trabalhe em conjunto visando o desenvolvimento sustentável; e a mobilização de finanças para as nações mais pobres se adaptarem às mudanças climáticas e reduzir as emissões.
Surge a partir daí, a Agenda 2030, estabelecendo um plano de ação para trabalhar o alcance dos 17 objetivos de desenvolvimento sustentável e das 169 metas estabelecidas com a finalidade de erradicar a pobreza e promover condições de vida digna a todos, melhorando as condições de preservação do nosso planeta.
Por fim, cabe a nós enquanto organizações e sociedade ética e responsável, incentivar e acompanhar o cumprimento das ações estabelecidas na Agenda 2030, buscando se aprofundar e se engajar nas frentes que levarão nosso planeta a melhores condições de vida em todos os aspectos, a todas as gerações futuras.
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