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Com vetos de Bolsonaro ao teto do ICMS, compensação ao CE cairá para R$ 30 milhões
Economia

Com vetos de Bolsonaro ao teto do ICMS, compensação ao CE cairá para R$ 30 milhões

| Combustíveis | Foi vetado o trecho que garantia aos estados manter os gastos com saúde e educação. Compensação do CE sairá R$ 460 milhões para R$ 30 milhões
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EDUCAÇÃO seria uma das principais áreas afetadas pela queda na arrecadação, estima Sefaz (Foto: Fabio Lima)
Foto: Fabio Lima EDUCAÇÃO seria uma das principais áreas afetadas pela queda na arrecadação, estima Sefaz

Já passava das 21 horas quando uma edição extra do Diário Oficial da União (DOU) oficiava a sanção, com vetos, do projeto de lei que define um teto para o ICMS sobre combustíveis, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo. O presidente Jair Bolsonaro vetou a principal medida de compensação das perdas dos estados incluída pelo Senado e referendada na Câmara. Com as mudanças, os repasses da União para o Ceará servirão para cobrir apenas 1,38% dos prejuízos causados com o projeto.

O que ficou de fora da lei do teto do ICMS? 

O veto mais sentido pelos estados é relacionado à previsão de que a União compensasse os estados e municípios para que mantivessem os gastos mínimos constitucionais em educação e saúde na comparação com o que estava em vigor antes de a lei do teto passar a valer.

Mas também foi vetada compensação da perda de receitas para os cinco Estados sem dívida com a União, que seria feita em 2023, com recursos da Compensação Financeira pela Exploração Mineral (CFEM) e com a priorização na contratação de empréstimos da União.

Dessa forma, a compensação será feita apenas para Estados que estão endividados com a União, por meio do abatimento da dívida, quando a perda de arrecadação com o ICMS ultrapassar 5%, na comparação com 2021. Esse ressarcimento será feito de forma temporária, durante seis meses.

Segundo a titular da Secretaria da Fazenda do Ceará (Sefaz-CE), Fernanda Pacobahyba, a recomposição que o Estado receberia cairá de R$ 460 milhões nos próximos seis meses para R$ 30 milhões. A perda calculada com a aprovação supera R$ 2,1 bilhões. A Sefaz-CE deve recalcular as perdas dos municípios cearenses.

A garantia de manutenção da verbas foi condicionante para aprovação do projeto no Senado e tratada nos estados como contenção de dano maiores em relação ao texto que veio da Câmara.

Em outra frente, o Governo também começou a articular no Congresso mudanças significativas na PEC dos Combustíveis, recuando da promessa de compensar os estados que zerassem o ICMS sobre o diesel e o gás de cozinha. A prioridade agora é turbinar os programas sociais. As mudanças ocorrem a 100 dias das eleições.

O valor do Auxilio Brasil subiria de R$ 400 para R$ 600. Pacote prevê ainda uma bolsa- caminhoneiro de R$ 1 mil mensais e o aumento no vale-gás a famílias de baixa renda (hoje, de R$ 53 a cada dois meses).

Os benefícios também só valeriam até o fim deste ano e serviriam para atenuar as pressões dos preços vistas pelo presidente Jair Bolsonaro como ameaças à reeleição.

“A gente quer que chegue à ponta o beneficio. Não adianta dar RS 30 bilhões, e os Estados, insensíveis à população, não zerarem (o ICMS). Se a gente tivesse a compromisso dos Estados em zerar, talvez esses auxílios emergenciais fossem desnecessários", afirmou ontem o líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ).

Projeto de redução dos combustíveis

Na época da tramitação do PLP 18 no Senado, o Governo anunciou que zeraria os impostos federais sobre gasolina e etanol se os estados aderissem à alíquota zero para diesel e gás de cozinha. A primeira parte  foi mantida na sanção do texto, mas a promessa de uma compensação de perdas via PEC dos Combustíveis não. Os estados não eram obrigados a aderir.

Para Fernanda Pacobahyba, neste ponto em específico, o recuo representa certo alívio, já que os R$ 29,6 bilhões não compensariam as perdas caso os estados zerassem os tributos estaduais. Desta forma, os estados estariam desobrigados a aderir à proposta. Mas critica a sanção do projeto de lei do ICMS, definindo como um atentado ao federalismo brasileiro.

"Na prática, para o estado do Ceará, teremos apenas a compensação das dívidas da União. Para o Ceará são irrisórias, da ordem de R$ 5 milhões por mês. Em seis meses são apenas R$ 30 milhões de compensação".

 

GOVERNO Federal projetava que fixação do teto do ICMS sobre combustíveis em 17% poderia reduzir em até R$ 1,65 o litro da gasolina e em R$ 0,76 o do óleo diesel; mas o que se viu foi um novo reajuste.
Foto: Thais Mesquita
GOVERNO Federal projetava que fixação do teto do ICMS sobre combustíveis em 17% poderia reduzir em até R$ 1,65 o litro da gasolina e em R$ 0,76 o do óleo diesel; mas o que se viu foi um novo reajuste.

Quais áreas serão mais impactadas ?

Fernanda acrescenta que as perdas com ICMS colocam em risco investimentos públicos e repasses aos municípios, além do Fundeb (fundo de desenvolvimento da educação básica). Ela ainda diz que a medida coloca em risco políticas sociais estaduais, como o Cartão Mais Infância Ceará, que beneficia 150 mil famílias pobres com parcelas mensais de R$ 100.

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REDUÇÃO DE IMPOSTOS

O PLP 18, sancionado ontem, estabelece um limite de cobrança do ICMS em produtos relacionados a combustíveis, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo ao classificá-los como itens essenciais. A mudança proíbe os estados de cobrarem ICMS acima da chamada "alíquota geral, que varia de 17% a 18%. Hoje, o ICMS dos combustíveis pode chegar a 35%. No Ceará, é 29%. Os estados podem perder em torno de R$ 100 bilhões em arrecadação com a mudança.

LEI ELEITORAL

Apesar do aval da equipe econômica à ideia de implementar o "voucher" para caminhoneiros de R$ 1 mil (que é uma medida de benefício nova), há dúvida se a medida fere a legislação eleitoral.

Pec dos Combustíveis têm restrições legais e fiscais

Na avaliação do doutor em Direito Constitucional, membro do Instituto Brasileiro de Direito Tributário (IBDT) e colunista do OP , Hugo Segundo, é importante destacar que o ICMS é um imposto estadual, principal financiador dos estados e que pelas regras do pacto federativo, a PEC dos Combustíveis proposta pela União seria inconstitucional por ser uma intromissão sobre as finanças dos estados.

Sobre o PLP 18, ele avalia que tratar combustíveis e energia como itens essenciais, para efeito de tributação, é positivo. Mas, do ponto de vista prático, surtirá pouco efeito ao consumidor.

"Beneficiar o Auxílio Brasil deve ser bem melhor do que diminuir o ICMS, pois não havia garantia nenhuma de que o preço dos combustíveis cairia na bomba. O estado perderia arrecadação, a União gastaria muito compensando os estados e a possibilidade dos preços não caírem seria grande".

O problema é o momento em que a proposta chega ao Congresso. Especialistas alertam que a criação de uma bolsa-caminhoneiro de até R$ 1 mil por mês a 100 dias das eleições, por exemplo, esbarra em restrições jurídicas e fiscais. As movimentações têm sido acompanhadas de perto por membros do Tribunal de Contas da União (TCU), órgão que fiscaliza o uso do dinheiro público, segundo fontes ouvidas pelo Estadão.

O plano em análise neste momento é usar os R$ 29,6 bilhões previstos na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Combustíveis e que seriam destinados, inicialmente, à compensação de Estados que zerassem o ICMS sobre diesel e gás até dezembro deste ano.

Diretor da Instituição Fiscal Independente, Daniel Couri avalia que, ainda que a criação da bolsa-caminhoneiro possa ser questionada pela proximidade da eleição, do ponto de vista fiscal ela seria permitida desde que o benefício fosse criado por uma PEC, que é a intenção do governo.

"Pode-se argumentar que esse novo auxílio aos caminhoneiros fere a legislação eleitoral, mas isso pode ser resolvido via PEC", diz. "Agora, continua sendo um gasto fora do teto de gastos - isso porque já era extrateto se esse valor fosse usado para compensar os Estados, só muda o destino do dinheiro. O governo não tem espaço fiscal para gastar R$ 30 bilhões."

A preocupação, avalia Couri, é que, ainda que as propostas tenham data de validade - até o fim do ano -, há grandes chances de se tornarem gastos permanentes. Um exemplo é o próprio Auxílio Brasil, que inicialmente teria o valor de R$ 400 apenas em 2022; mas, em abril, uma medida provisória tornou esse piso permanente.

A legislação determina que, em ano de eleições, fica proibida a distribuição gratuita de bens ou benefícios pela administração pública. As únicas exceções são programas sociais que já estejam em curso. Fora isso, é preciso que o governo publique um decreto de "estado de calamidade pública" ou de "situação de emergência". (Com AE)

 

Avanço na aprendizagem para retomada

Representantes do Governo do Ceará participaram de seminário sobre o Plano de Retomada das Atividades Econômicas e Comportamentais e definiram como desafio ao Estado a retomada da aprendizagem. Prejudicada pela pandemia, a educação foi definida como eixo central para que o Estado alcance êxito em seus planos econômicos.

Segundo a titular da Fazenda estadual, Fernanda Pacobahyba, os números do balanço do Estado são muito bons, mas não conseguem dar "a exata dimensão do quanto sofreram nossas crianças e adolescentes em termos educacionais", que precisa ser recuperado com rapidez.

O titular da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e do Trabalho (Sedet), Maia Jr., mostrou a evolução do trabalho de atração de grandes negócios ao Ceará e a necessidade de o Estado estar preparado tanto em infraestrutura e governança, quanto em capital humano. Ele lembra que a internacionalização prevista para a economia do Ceará nos próximos anos exige um olhar além das fronteiras do Brasil. E a formação dos cearenses está inserida nisso.

O evento contou ainda com palestras do coordenador do Plano de Retomada, Flávio Ataliba; do titular da Seplag, Ronaldo Borges; e do deputado federal Mauro Benevides Filho, dentre outros.

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