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Extrema pobreza atinge pior patamar no Ceará em 2021
Economia

Extrema pobreza atinge pior patamar no Ceará em 2021

Desigualdade| Levantamento do IBGE mostra que 15,1% da população cearense estava na extrema pobreza.
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REVERSÃO do quadro depende de políticas públicas de médio e longo prazo (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA REVERSÃO do quadro depende de políticas públicas de médio e longo prazo

No Ceará, mais de 1,4 milhão de indivíduos sobreviveram em 2021 com menos de US$ US$ 1,90 PPC, ou R$ 168 por mês. O número de pessoas na extrema pobreza representa 15,1% da população do Estado, segundo a Síntese de Indicadores Sociais divulgada nesta sexta-feira, dia 2, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o maior nível desde o início da série histórica, iniciada em 2012, e o sétimo pior indicador do País.

A pesquisa também mostrou que 4,3 milhões de cearenses, 46,8% da população do Estado, vivem na pobreza, com menos de US$ 5,50, equivalentes a R$ 486 mensais per capita.

Entre 2020 e 2021, houve aumento de cerca de 537 mil pessoas extremamente pobres e de 596 mil pessoas pobres.

Para João Mário França, diretor-geral do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), o resultado "realmente não é surpreendente", e ele explica os motivos. Tanto os níveis de extrema pobreza, como os de pobreza, no Estado do Ceará, segundo ele, vinham apresentando uma trajetória decrescente desde a série de 2012, acompanhando o ritmo do Brasil.

"Isso ocorreu até 2015, quando veio aquela forte recessão econômica. Naquele momento, diminuiu um pouco o efeito da queda na extrema pobreza e aquilo atrapalhou, digamos assim, esse processo de queda."

A pandemia, em 2020, por sua vez, segundo França, traz um momento paradoxal, em que os auxílios emergenciais diminuem o grupo de extrema pobreza e pobreza em todo o país, e o Ceará também acompanha esse movimento.

"Aquele valor de R$ 600, em algumas famílias de R$ 1,2 mil, fez com que houvesse uma redução muito grande da extrema pobreza no Brasil como um todo, consequentemente no Nordeste e no Ceará."

Porém, ele conta que com a descontinuidade do benefício nos primeiros meses de 2021, mesmo sem o final da pandemia e, depois, com a redução do auxílio emergencial para R$ 400, quando se vivia ainda uma crise sanitária, com o mercado de trabalho ainda não totalmente recuperado e o setor de serviço ainda sofrendo muito.

"Então, era natural que no ano de 2021 viesse esse recrudescimento da extrema pobreza. Esse número elevou no Ceará, mas elevou também no Nordeste e no Brasil."

Reversão de quadro passa por educação

Sobre 46,8% da população do estado estar em situação de pobreza, o especialista destaca que a reversão do quadro necessita de medidas de médio e longo prazo, que o Estado já está colocando em prática, como o investimento em educação.

Ele lembra que é necessário melhorar a educação desde a primeira infância, para que se tenha cada vez mais resultados positivos, como os que o estado vem obtendo na educação fundamental, no Ensino Médio.

"A longo prazo, as pessoas vão estar melhores qualificadas, vão conseguir melhores empregos, melhores rendas e também melhorar a dinâmica do mercado de trabalho cearense, inclusive atraindo setores para a economia. É um processo que que eu olhando aqui, pelo quadro atual, vejo que o Ceará está na direção certa, tanto na educação como na questão de tornar a economia cearense mais dinâmica, mais competitiva, atraindo empresas com maior tecnologia, aumentando a produtividade e a geração de oportunidades."

França comenta que com a continuidade do Bolsa Família que já está sinalizada, no valor de R$ 600, para o próximo ano, também é importante se preocupar com as outras dimensões da pobreza, que vão além da questão de renda.

"A questão de acesso à educação, acesso à saúde, saneamento básico, a questão de acesso digital. Então, é preciso começar a analisar a pobreza ou extrema pobreza, não só por aspectos monetários, mas pela multidimensionalidade que envolve essa questão."

E no caso da extrema pobreza, como é o caso das pessoas em situação de rua, ele destaca que ações que garantam a segurança alimentar precisam ser feitas com urgência. "É importante também tentar identificar quem são essas famílias, fazer algum tipo de recenseamento e identificar para que possam ser incluídas nos programas sociais do Governo Federal e, assim, transformando essa realidade social." (Colaborou Irna Cavalcante)

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