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Do dólar à guerra: o que mexe no prato do cearense e do brasileiro
Economia

Do dólar à guerra: o que mexe no prato do cearense e do brasileiro

|TENDÊNCIAS| Preços dos alimentos sofrem influência de fatores que incluem sequelas da Covid sobre a economia global, mercado de commodities e conflito russo-ucraniano
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Fatores internacionais influenciam preço do trigo e do pão (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Fatores internacionais influenciam preço do trigo e do pão

Se o tradicional café com bolo de milho ficar mais em conta ou o frango frito ficar mais salgado saiba que há muito mais fatores envolvidos que as questões climáticas que afetam as lavouras ou as granjas.

Pelo menos sete dos 12 produtos da cesta básica em Fortaleza, por exemplo, são ou têm como principal insumo as commodities, mercadorias de baixo valor agregado, mas que exercem grande influência sobre a economia mundial, tais como a soja e o trigo, assim como são afetadas por variáveis que vão da flutuação da moeda à guerra entre Rússia e Ucrânia.

De acordo com a última Nota de Conjuntura divulgada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), entre os 14 principais produtos agropecuários brasileiros oito tiveram alta no 1º trimestre e seis tiveram queda.

No mesmo estudo, a entidade indicou tendência de alta para três produtos, de queda para outros quatro e cenário mais incerto para as demais commodities analisadas.

Esse relativo equilíbrio entre o número de mercadorias com aumento ou redução de preços no mercado ajuda a explicar, em parte, a diminuição da pressão inflacionária no 1º trimestre de 2023, na comparação com período equivalente de 2022.

Enquanto nos três primeiros meses deste ano, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) foi de 2,09%, no ano passado esse percentual foi de 3,20%.

Para o pesquisador associado do Ipea, Diego Ferreira, “essa inflação observada em todos os países no ano passado foi muito potencializada por choques externos dessas cadeias produtivas pela Covid e pelo conflito Rússia-Ucrânia”.

Impacto da guerra

Sobre o impacto da guerra, o estudioso afirma que o preço dos alimentos no Brasil, especialmente os derivados do trigo, só não foi maior devido a um entendimento entre os dois países em conflito.

O chamado Acordo do Mar Negro permitiu a continuidade da exportação desses insumos, a despeito dos confrontos militares.

“A gente espera que esse acordo, que foi prorrogado agora por mais seis meses, consiga ainda dar uma estabilidade para os preços dos grãos e isso facilite diversas cadeias, que estão relacionadas com eles”, projeta Ferreira.

Ele acrescenta que, embora o impacto do conflito sobre o preço dos alimentos tenha sido atenuado, “algumas commodities estão com um nível baixo de produtividade e uma demanda crescente”, o que ainda pode gerar alta no preço de determinados produtos, tais como a soja, as carnes de porco e de frango, bem como o leite.

Por outro lado, o supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) no Ceará, Reginaldo Aguiar, avalia que “o boom de commodities deu uma acomodada e os preços internacionais estão caindo. Isso é uma coisa que pode ser determinante para o aumento da oferta interna e preço mais compatível no Brasil”.

Sobre o caso específico da Grande Fortaleza, ele observa que “de fevereiro a março, nós observamos uma queda generalizada de preços. Aliás, há certos movimentos de alta ou baixa que acontecem, às vezes, no País inteiro”.

Nos meses citados, aliás, houve queda no preço da cesta básica em 13 de 17 capitais pesquisadas pelo Dieese.

Aguiar pondera, contudo, que “mesmo que os preços dos alimentos não estejam se elevando tanto agora, eles não cabem ainda no orçamento das famílias”. Em abril, a propósito, a tendência de queda se inverteu e a cesta básica ficou mais cara em 14 capitais, incluindo a cearense, conforme o próprio Dieese. Já o IPCA acumulado no ano, entre os meses de janeiro e abril, ficou em 2,72%, ante 4,29% em período equivalente de 2022.

Aguiar vê, contudo, margem para retomada do movimento de queda registrado no 1º trimestre, inclusive por conta da cotação do dólar que iniciou o ano em R$ 5,36 e fechou em R$ 4,94 no pregão de ontem. Vale lembrar que praticamente todas as commodities têm variações de preço que acompanham os valores desses produtos em dólar.

Assim para que tanto o café com bolo quanto o frango frito citados no início da reportagem fiquem mais em conta é preciso um cenário favorável nas lavouras e granjas, mas também na economia global como um todo.

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PRINCIPAIS PRODUTOS AGRÍCOLAS NO BRASIL

Produtos agrícolas

Preços domésticos - comparação 1º tri 2023/1º tri 2022

Soja: -12,80%

Milho: -12,30%

Trigo: -5,10%

Algodão: -25,90%

Café: -23,70%

Boi gordo: -16,20%

Carne suína: 28,70%

Carne de frango: 13%

Ovo: 23,60%

Leite: 23,90%

Arroz: 26,40%

Batata: 10%

Laranja: 16,10%

Banana: 4,90%

Preços domésticos - comparação 1º tri 2023/4º tri 2022

Soja: -8,90%

Milho: 0,50%

Trigo: -7,40%

Algodão: -2,10%

Café: 4,30%

Boi gordo: -1,70%

Carne suína: -0,90%

Carne de frango: -11,40%

Ovo: 7,80%

Leite: 6,70%

Arroz: 5%

Batata: -10,10%

Laranja: 11,40%

Banana: -33,10%

Inflação acumulada no ano - Brasil (1º tri/2023)

Soja: -7,15%*

Milho: 1,29%

Trigo: 0,03%**

Algodão: -0,21%***

Café:-3,32%

Boi gordo: 0,03%****

Carne suína: 4,57%

Carne de frango: 0,52%

Ovo: 3,39%

Leite: 3,99%

Arroz: 7,54%

Batata: -20,99%

Laranja: -2,03%

Banana: -6,16%

Perspectivas

Soja:Negociações de contratos de exportação de soja sinalizam preços maiores

Milho: Preços para exportação estão inferiores aos praticados em bolsas da mercadoria

Trigo: Colheita favorece as exportações. País deve-se tornar o 11º maior exportador mundial

Algodão: Crescimento dos estoques mundiais seria um fator de pressão sobre os preços

Café: À medida que o grão da nova safra for disponibilizado, os preços tendem a cair

Boi gordo: Vendas externas devem seguir como fator de alguma sustentação dos preços domésticos

Carne suína: Para os próximos meses, a expectativa é de recuperação nos preços da carne suína

Carne de frango: Setor acredita em alta de preços domésticos da proteína avícola nos próximos meses

Ovo: Expectativa é que os preços da proteína se acomodem em patamares menores

Leite: Setor prevê que os preços aumentem, fundamentados na limitação da produção

Arroz: Com preços mais elevados, pode haver maior atratividade pela cultura

Batata: Produtividade baixa pode contribuir para evitar novas quedas nos preços

Laranja: Segundo trimestre deve ser de preços domésticos em queda para a laranja

Banana: Oferta deve crescer um pouco, o que pode pressionar os preços

*Considerada a inflação do óleo de soja
**Considerada a inflação da farinha de trigo
***Considerada a inflação de itens de vestuário
****Considerada a inflação média dos cortes bovinos

Fontes: Ipea/Sidra/IBGE

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