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Para onde caminha a indústria do Nordeste
Economia

Para onde caminha a indústria do Nordeste

|PERSPECTIVAS| Com histórico de baixa industrialização, setor tem entre seus desafios a revitalização de segmentos tradicionais e avançar na estrutura da nova economia
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Cadeia produtiva das energias renováveis, incluindo o hidrogênio verde, é principal aposta da indústria da região (Foto: Samuel Setubal/Especial para O Povo)
Foto: Samuel Setubal/Especial para O Povo Cadeia produtiva das energias renováveis, incluindo o hidrogênio verde, é principal aposta da indústria da região

Com 15% dos estabelecimentos industriais do País e respondendo por 11,5% do Produto Interno Bruto (PIB) da indústria brasileira em 2022, a região Nordeste é apenas a terceira em termos de relevância nacional e também sofre os efeitos da chamada desindustrialização. Esse é o copo meio vazio da participação regional no segmento.

O copo meio cheio (tendendo a transbordar) vem do potencial que o Nordeste tem em energias renováveis, com a possibilidade de, não apenas, expandir sua participação econômica, como também para liderar o processo de reindustrialização.

O País que esteve na 10ª posição entre os maiores parques industriais do mundo em 2014, caiu para 15ª posição no ano passado, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O caso específico do Ceará, embora promissor, com aproximadamente 30 memorandos de entendimentos visando investir em hidrogênio verde, e novos polos industriais em desenvolvimento contrasta, contudo, com os resultados negativos que o setor vem apresentando no Estado.

Ano passado, por exemplo, a indústria cearense teve queda de 6,28%, enquanto o resultado nacional foi de elevação de 1,6%. O mau desempenho continuou no 1º trimestre de 2023, com queda de 1,61%, a sexta consecutiva.

O mesmo não se pode dizer do Nordeste. Para a economista e professora aposentada da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Tânia Bacelar, "houve um avanço interessante para a região. A gente ampliou o peso da região no VTI, que é o 'valor da transformação industrial', do Brasil.

Em 20 anos, o VTI do Nordeste que era de 7,5% passou a 10,5%. Ou seja, o Nordeste não se desindustrializou nesses anos. Na perda de dinamismo do Brasil, a região teve um dinamismo um pouquinho acima da média nacional".

Ela diz que "o Nordeste atraiu empreendimentos muito interessantes recentemente, em uma indústria que foi carro-chefe do desenvolvimento econômico nacional no século passado: a automotiva. A indústria automotiva que está fechando no Brasil é a antiga, que está no Sudeste. A nova está aqui".

A pesquisadora cita o caso da Stellantis (gigante que inclui marcas como Fiat e Peugeot) e da BYD, empresa chinesa que vem investindo forte em carros elétricos. As montadoras instalaram-se, respectivamente em Pernambuco e na Bahia.

Além da indústria automotiva, ela destaca a farmacêutica e a energética. "A gente não pode estar fora do debate do complexo econômico da saúde e quando a gente vai para o setor de energia, que é nitidamente uma vantagem competitiva do Nordeste, nós vamos ser exportadores de energia para o mundo. É isso que o Ceará, o Rio Grande do Norte e Pernambuco estão discutindo. São prioridades estratégicas para região", defende.

Para o analista de políticas públicas do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), Witalo Paiva, a movimentação em torno do hidrogênio verde, por exemplo, “é uma janela de oportunidades impressionante. Eu costumo dizer que se metade dos investimentos que estão sendo pensados se efetivarem, o Ceará tem condições de dar um salto enorme não só na economia industrial, mas na economia como um todo”.

Nesse sentido, o interesse crescente de investidores estrangeiros na produção de hidrogênio verde, especialmente no Ceará, é a principal, mas não a única razão para a confiança do setor industrial na região, que também aposta na parceria com governos municipais, estaduais e federal, para a criação de novos polos.

Somente no território cearense, quatro empreendimentos do tipo estão em fase de ampliação, construção ou planejamento, mais precisamente em Guaiúba, Maranguape, Maracanaú e Redenção.

De acordo com o presidente do Centro Industrial do Ceará (CIC), Marcos Soares, diferentemente do que ocorreu na década de 1960, com a implantação do distrito industrial de Maracanaú, ou no início deste século, com a criação do Complexo do Pecém (em São Gonçalo do Amarante) os novos polos surgiram com a necessidade de determinadas indústrias se transferirem de regiões urbanas com muito adensamento populacional para regiões que conciliassem boa estrutura logística com espaços amplos.

"Elas (as novas indústrias a se instalarem nesses polos) vão compartilhar não só a segurança como a logística e o desenvolvimento de produtos em modelos mais atuais utilizados, não só no Brasil como no mundo todo. São estruturas inovadoras com gestão, nas quais o industrial pode trabalhar a otimização de custos e de processos", concluiu Soares. 

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