A venda da Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste Lubnor (Lubnor), localizada em Fortaleza, atinge hoje, 25, o prazo limite estabelecido em contrato para a transferência de gestão sem que nenhuma medida seja tomada pela proprietária da usina. O silêncio e a inércia reforçam a ideia de que o ativo não será de propriedade da Grepar e permanece com a Petrobras.
O negócio foi anunciado em meados de 2022, quando a operação de US$ 34 milhões foi revelada. No entanto, enfrentou resistência desde o primeiro dia. Além das críticas dos petroleiros, que projetavam um valor bem superior para a unidade, a Prefeitura de Fortaleza se opôs ao negócio, levando a questão para a Justiça por ser proprietária de 30% do terreno da refinaria.
Mas a transação teve sequência, passou por análise do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e está apta a ser executada desde agosto deste ano. Porém, a Petrobras adiou o prosseguimento sucessivas vezes e despertou a insatisfação da compradora.
A Grepar não comentou sobre a transação. A empresa é uma Sociedade de Propósito Específico (SPE), tem como societária a Grecor Participações - do ramo de investimentos - e foi criada exclusivamente para fazer a aquisição da Lubnor.
Procurada pelo O POVO, a Petrobras não respondeu até o fechamento desta edição. Mais uma vez o silêncio reforça os boatos de que a venda será cancelada, como o presidente da companhia, Jean Paul Prates deu a entender quando foi interpelado sobre o assunto em março de 2023.
"Não sei se vai ser vendido ou não, isso vai ser revisto, a gente vai decidir. O que está assinado, será cumprido, o que não está será revisto", disse.
O POVO apurou que não há movimentação na refinaria para a mudança de comando, como a escolha entre os funcionários de ficarem ou serem transferidos a outra unidade da Petrobras no Brasil. "A 'rádio peão' está dizendo que segunda-feira (27 de novembro) vai sair comunicado", revelou uma fonte.
Ricardo Pinheiro, consultor em energia, acredita que o sigilo sob a transação desenha um possível desinteresse também pela Grepar para fechar o negócio. "A retomada do processo de venda está muito prejudicada. Os indicadores de retorno já foram tão modificados. Mudam muito rápido. Eu trabalhei no processo de valuation da Lubnor em 2019 e eram totalmente diferentes do que são hoje", afirmou.
A falta de mão de obra qualificada capaz de operar a usina também se impõe como um gargalo decisivo, analisa Pinheiro. Ele cita a refinaria Clara Camarão, no Rio Grande do Norte, vendida para a 3R Pretoleum, como exemplo. Capaz de processar 40 mil barris de petróleo por dia, a planta está paralisada há quase seis meses.
"Não consegui formar um quadro de funcionários para operação segura e colocou em manutenção. Uma coisa inconcebível de acontecer", critica.
Pinheiro ressalta que a mão de obra formada pela Petrobras tem de sete a 15 anos de formação e experiência, com salários altos e opção de emprego além das usinas. Quando uma empresa privada assume a operação sem manter os benefícios, os profissionais saem e a operação fica comprometida pela falta de pessoal capacitado.
A Lubnor conta com profissionais desse calibre, diz ele, uma vez que a operação acontece desde os anos de 1960. A planta conta com 0,4 quilômetros quadrados de área onde produz 235 mil toneladas/ano de asfaltos e 73 mil metros cúbicos por ano de lubrificantes naftênicos, a partir do processamento diário de 8 mil barris por dia de capacidade. Além de produtora, é também distribuidora de asfalto para nove estados das regiões Norte e Nordeste. (Colaborou Lennon Costa)
Porte
A refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste é a principal fornecedora do Nordeste e também envia produção para os estados do Amazonas, Amapá, Pará e Tocantins