Empresas parceiras do novo Centro de Excelência para Transição Energética Professor Jurandir Marães Picanço Júnior, as companhias Aeris Energy, GIZ (sociedade alemã para cooperação internacional, na sigla em alemão), Siemens e Maersk veem as energias renováveis, em especial o hidrogênio verde (H2V), como uma área estratégica para os seus futuros negócios tanto no Ceará quanto fora do Estado.
O empreendimento da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) foi lançado na rede Sesi Senai ontem, 5, em unidade localizada no bairro Barra do Ceará, em Fortaleza. O objetivo do local é servir como uma referência na qualificação de pessoas no setor de energias renováveis, com foco no H2V, em meio a equipamentos modernos, práticas aprimoradas e cursos atualizados, em parceria com grandes empresas.
O diretor de qualidade da Aeris Energy, Douglas Souza, enxerga a empresa atuando com o H2V futuramente por meio da fabricação de componentes na indústria “offshore”, isto é, referentes à produção de energia no mar. “Neste momento, a gente não enxerga ainda uma entrada na fabricação de hidrogênio, por exemplo, mas sim de componentes, como pás para geradores ‘offshore’ que podem gerar hidrogênio verde”, disse.
“A gente vê que tem um potencial de crescimento ainda muito grande e a gente vê uma tendência enorme no ‘offshore’, que são os geradores instalados no mar. Isso é uma coisa que ainda depende muito de regulamentação, uma parte jurídica, licenciamento ambiental, mas a gente vê que é um potencial ainda maior que o ‘onshore’ (em terra), principalmente quando ligado ao hidrogênio verde”, acrescentou Souza.
A visão do potencial é compartilhada pelo líder da equipe do componente de capacitação na GIZ, Klaus Albrechtsen, o qual citou que a grande necessidade do continente europeu por energia fomenta o negócio. “O hidrogênio serve para armazenar energia, transportar energia daqui para Europa, então tem muito potencial aqui”.
Outro ponto destacado por Albrechtsen é o baixo custo do hidrogênio verde no Brasil ao ser comparado a outros países, o que seria uma vantagem competitiva, tendo em vista que o mercado de H2V está no início da sua trajetória de desenvolvimento por enquanto. “Eu acho que, mais barato, nenhum país vai vender do que o Brasil”, afirmou.
De acordo com dados da Clean Energy Latin America (Cela), o custo nivelado de hidrogênio verde variou de US$ 2,87 a US$ 3,56 por quilograma em 2023 no País. Os valores poderiam ser ainda menores se forem implementadas otimizações técnicas e incentivos fiscais e regulatórios, eventualmente atingindo uma faixa de US$ 1,69 a US$ 1,86 por quilograma, segundo projeções da Cela.
A pauta de H2V também é discutida pela Maersk Training, conforme o diretor geral Patrick Modolo. “Está sendo conversada como parte da nossa estratégia a nível global em termos de capacitação para geração e logística de novas fontes de energia. Como todos os nossos programas, buscaremos disponibilizar essas capacitações de maneira global”, pontuou.
“Entendemos que existem sinergias de demandas na parte de geração eólica, geração fotovoltaica, logística – particularmente com o Porto do Pecém, onde a APM Terminals opera – e futuramente de hidrogênio verde. Entendemos que era um momento importante também para trazer as capacitações internacionais”, complementou.
Já o gerente geral de automação de processos e instrumentação da Siemens, Julio Cunha, destacou que as capacitações no Centro de Excelência são um mecanismo fundamental para que a empresa não envie pessoas para qualificações em São Paulo, por exemplo, mas que traga os profissionais para se qualificarem no Ceará.
“A gente vai fazer toda a automação que faz a transição do hidrogênio, então é isso que a Siemens vai fazer com a digitalização. Nós vamos trazer, não simplesmente a planta no mundo real, mas a gente vai trazer ela no mundo virtual também, para que a gente possa fazer todas as simulações sem que tenha problemas no mundo físico. Essa é a ideia, a gente simula, testa e implementa”, detalhou.
Homenagem a Jurandir Picanço Jr.
O engenheiro mecânico e eletricista Jurandir Picanço Junior inspirou o nome do Centro de Excelência para Transição Energética devido ao seu trabalho pioneiro e intenso na área de energias renováveis no Ceará. O especialista, que é consultor de energia da Fiec, já presidiu a Companhia Energética do Ceará (Coelce), bem como atuou como secretário da Ciência e Tecnologia do Ceará e como professor da Universidade Federal
do Ceará (UFC),
entre outros.
Em entrevista ao O POVO, Jurandir Picanço Junior relatou ter ficado honrado com a homenagem. "O Ceará realmente se destaca dentro desse cenário da transição energética pelo seu potencial natural, mas agora também pelo potencial das pessoas que estão fazendo o que é para ser feito. Isso demonstra realmente o pioneirismo que o Ceará está tomando dentro desse cenário", afirmou.