Bolsas de valores na Europa e na Ásia despencaram ontem diante da previsão de desaceleração da economia dos Estados Unidos. No Japão, o recuo chegou a 12,4%. O dólar que chegou a bater a casa dos R$ 5,85, fechou o dia em alta moderada, na casa de R$ 5,74.
Especialistas avaliam que caso o cenário de recessão dos EUA se confirme, o Ceará, como estado exportador de matéria-prima, pode sofrer impactos.
A análise é do economista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Ricardo Coimbra, o qual indica que o complexo siderúrgico cearense, bem como a parte de calçados e frutos do mar podem ter um ritmo menor de exportações, o que, possivelmente, geraria reflexos sobre o ritmo de produção estadual para o mercado externo.
Mas o economista e sócio da SM Consultoria, Sérgio Melo, tem uma visão mais otimista para o Ceará. Ele acredita que o Estado deverá ser pouco ou nada afetado pela possível recessão, “pois as exportações, em sua maioria, são de produtos primários que eles (EUA) necessitam. Se houver redução (das exportações), será pequena.”
Os Estados Unidos são o principal destino das exportações cearenses, representando cerca de 34,8% do total. Os principais setores exportados para lá incluem ferro e aço, calçados, peixes e crustáceos e preparações de produtos hortícolas, segundo a pesquisa “Ceará em Comex”, da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), em maio.
Além disso, outros setores destinados à economia nacional ou local não deverão sofrer tantos impactos no Ceará, conforme Ricardo Coimbra, como os combustíveis minerais e óleos. O especialista esclarece que novas dinâmicas e projeções poderão surgir à medida que os fatos forem acontecendo, cabendo observação.
O especialista de investimentos da GTF Capital, Felipe von Eye Corleta, explica que o último relatório do mercado de trabalho norte-americano – divulgado no dia 2 de agosto –, denominado ‘payroll’, mostrou uma taxa de desemprego maior do que o esperado, em 4,25%, e disparou um sentimento de medo em torno de uma recessão econômica.
Os dados do payroll indicam que os EUA criaram 114 mil novos empregos formais em julho, muito abaixo da expectativa do mercado de 170 mil novos postos. Já os salários no país subiram 0,2% no sétimo mês do ano, também ficando aquém dos 0,3% esperados, de acordo com relatório do Itaú BBA no último domingo, 4.
Os mercados globais reagiram negativamente ao contexto dos Estados Unidos, com o índice japonês Nikkei registrando a menor queda diária desde outubro de 1987, em 5 de agosto. O recuo foi de 12,4% em Tóquio, a 31.458,42 pontos.
Felipe von Eye Corleta explica que os mercados entraram em modo "vendedor agressivo" depois do payroll ruim e do Banco Central do Japão começar a elevar suas taxas de juros. “Em um país (Japão) que deve décadas de câmbio estável e inflação baixa, isso reverte em parte o ‘carry trade’ (investidores pegam empréstimos no Japão e investem em outros lugares).”
O Brasil também deverá ser afetado por uma possível baixa na economia dos EUA. O especialista da GTF Capital disse notar um movimento de queda expressivo nas commodities brasileiras, o que impacta a balança comercial e a arrecadação federal. O curto prazo também pode ser negativo em câmbio e em ativos financeiros por conta da fuga ao risco.
No médio e longo prazo, os impactos se relacionam mais com a balança comercial e os riscos fiscais, explica Felipe. “As perspectivas à frente são de um início rápido de um ciclo de corte nas taxas de juros nos Estados Unidos e, caso os dados econômicos sigam vindo fracos, de continuidade da realização das bolsas”, isto é, de baixa performance.
O Itaú BBA estima que o Banco Central dos EUA (Federal Reserve, em inglês) inicie um ciclo de cortes de juros em setembro na hipótese de os dados econômicos não surpreenderem, e esclarece que, se o país for em direção a uma recessão, um aumento da aversão ao risco pode comprometer o fluxo para países emergentes, como o Brasil. (Com Agência Estado)
Exportações cearenses por setor no acumulado do ano até maio
Setores: Valor FOB (US$) | Variação anual (%)
Fonte: Ceará em Comex (Fiec) | Maio de 2024
Exportações cearenses por país de destino no acumulado do ano até maio
Países: Valor FOB (US$) | Participação do total (%)
Fonte: Ceará em Comex (Fiec) | Maio de 2024
Dow Jones e S&P 500 têm pior dia desde 2022
As bolsas de Nova York fecharam em forte queda ontem em meio ao temor de recessão nos Estados Unidos. A debanda global do risco, que se estendeu desde a sessão asiática, levou Dow Jones e S&P 500 a registrarem as maiores perdas diárias desde setembro de 2022.
O índice Dow Jones caiu 2,60%, aos 38.703,27 pontos, o S&P 500 declinou 3,00%, aos 5.186,33 pontos e o Nasdaq fechou em queda de 3,43%, aos 16.200,08 pontos.
O índice VIX, uma espécie de "termômetro do medo" em Wall Street, bateu o maior nível desde março de 2020, à época do choque inicial da pandemia de covid-19. Perto do fechamento, o índice saltava 64,90%, a 38,57 pontos.
As ações em Wall Street enfrentaram pressão aguda desde abertura, quando o Nasdaq chegou a cair cerca de 6%. No final da manhã, o avanço do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) de serviços medido pelo instituto ISM chegou a tirar os índices acionários das mínimas intraday, mas a tentativa de recuperação não conseguiu se consolidar.
Entre ações individuais, Nvidia perdeu 6,36%, em meio a relatos de que a empresa pretende adiar o lançamento de seu chip voltado para inteligência artificial. Apple recuou 4,82%, depois da notícia de que a Berkshire Hathaway anunciou reduzir as participações na empresa. (Agência Estado)
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No Brasil, o contraponto ao mau humor generalizado veio dos papéis do Bradesco. Os resultados do banco - em particular a queda na inadimplência - levaram as ações saltarem 8,30% (ON) e 7,59% (PN)