O Banco do Nordeste (BNB) avalia ampliar sua participação no mercado de capitais para complementar fontes de recursos, segundo o economista-chefe da instituição, Rogério Sobreira, o que abre a possibilidade de maior emissão de títulos no mercado externo ou interno.
A companhia já é uma sociedade de capital aberto, com economia mista e ações ordinárias nominativas escriturais negociadas na Brasil, Bolsa, Balcão (B3), sendo regularmente registrado na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Com um percentual de 55,38%, a União Federal conta com mais da metade de participação na estrutura societária do banco, o qual utiliza de diversas fontes de recursos, tanto institucionais como de mercado, para fornecer financiamentos e realizar investimentos.
A ampliação no mercado de capitais seria necessária para auxiliar na expansão dos negócios do banco, bem como o apoio a novos setores da economia, a exemplo dos investimentos sustentáveis e do programa governamental Nova Indústria Brasil.
“O mercado de capitais é uma das opções, mas não é a única”, afirma Rogério, detalhando, ainda, que o banco atua em um modelo que combina diferentes fontes de recursos, incluindo o próprio mercado, a concessão direta de crédito, parcerias e organismos multilaterais.
“O importante é construir esses canais, ter uma noção clara de quais são os custos para, então, acomodar esses recursos adicionais naqueles setores, segmentos e atividades que são compatíveis com essa estrutura de custo dos novos fundings que o banco vai buscar”, diz.
Atualmente, a principal fonte de recursos do BNB é o Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), que aplicou um volume histórico de R$ 21 bilhões no fim do primeiro semestre de 2024 e tem a previsão de aplicar R$ 47,32 bilhões no ano todo de 2025.
A perspectiva de Rogério Sobreira é que o FNE siga crescendo e alavanque os desembolsos do banco, mas o desafio é ampliar o número de pessoas que possam ter acesso ao microcrédito, disponibilizado nos programas Crediamigo e Agroamigo.
“O banco tem que estar bem posicionado para expandir o microcrédito, mas, ao mesmo tempo, evitar um crescimento de inadimplência por força de uma eventual expansão de fraude ou falta de informação, por exemplo”, cita em entrevista ao O POVO e ao Guia Econômico na rádio O POVO CBN.
O economista-chefe esclarece, todavia, que o contexto de inadimplência está controlado. O índice no Nordeste tem seguido a trajetória de queda nacional, o que reflete um crescimento ou retomada da economia.
O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil apresentou um crescimento trimestral de 1,4% no segundo trimestre deste ano, superando as estimativas do mercado, algo que Rogério vê com curiosidade: “o mercado acreditava que a economia estava se acomodando.”
“Quando olhamos os dados e as curvas, todos eram ascendentes. Então, o mercado foi surpreendido, mas não deveria ter sido, porque esses macrodados já indicavam que a economia estava forte no segundo trimestre”, detalha.
O economista-chefe atribui o relaxamento do nível de contração da política monetária – com queda na taxa básica de juros brasileira (Selic) para 10,50% ao ano –, bem como a política fiscal, à expansão da demanda no País, com reflexos positivos na economia.
Questionado se a reforma tributária poderia impactar o BNB, Rogério diz que poderia haver reflexo no FNE, a depender do que for aprovado no Congresso Nacional, que analisa as leis complementares, mas nada significativo. Todavia, a situação ainda é incerta.
Isso porque alguns setores estão sendo beneficiados com alíquotas mais baixas e outros não, o que poderia influenciar o perfil da demanda por crédito do banco, criando, possivelmente, uma dificuldade para alocar os recursos.
“Isso representa, paradoxalmente, um problema, mas é um bom problema, relacionado ao desembolso e à contratação das operações de crédito. Ainda estamos no estágio inicial desse processo, e o esqueleto inicial da reforma pode estar muito distante do resultado final”, ressalta.
*Colaboraram Irna Cavalcante e Beatriz Cavalcante