A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) acompanha “com preocupação” a falta de energia para a conexão de data centers (armazenam e processam dados) no Brasil. Em entrevista exclusiva ao O POVO, Carlos Baigorri, presidente da autarquia federal, conta que monitora os acontecimentos relacionados ao segmento com atenção.
“O desenvolvimento da tecnologia vai exigir cada vez mais data centers, razão pela qual o governo tem um projeto de atração de data centers, justamente para viabilizar serviços e aplicações de nuvem e inteligência artificial”, justifica o interesse.
Em janeiro, a Casa dos Ventos, que planeja a instalação de um equipamento do tipo na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Ceará, teve a conexão negada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) pela falta de infraestrutura de transmissão de energia que suportasse a demanda de consumo do equipamento.
A empresa até protocolou um pedido administrativo para suspender os efeitos da decisão, que valia para dois projetos, o Data Center Pecém II e o Iracema Amônia Verde, ligado ao hub de hidrogênio do Governo do Ceará na ZPE.
Porém, em abril, esse recurso foi indeferido pelo superintendente de Regulação dos Serviços de Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Carlos Alberto Calixto Mattar.
As medidas não trazem novidades sobre fornecimento de energia elétrica no Nordeste, mas ligaram um sinal de alerta no setor de tecnologia e chamou a atenção da Anatel.
Baigorri ressalta, no entanto, que o papel da Agência de Telecomunicações é de acompanhamento. Não faz parte da alçada da autarquia agir para promover a conexão dos data centers, porque é da competência da Aneel.
“A gente vê esse cenário com preocupação porque os projetos do setor elétrico têm um tempo de maturação que são mais longos que o do setor de tecnologia. Mas este é um assunto que é da alçada do setor elétrico”, reforça.
O presidente da Anatel acrescenta que mantém conversas com a Aneel neste trabalho de acompanhamento para se manter informado sobre os acontecimentos e por estar ciente de que “no setor elétrico, a disponibilidade de energia parece ser o principal gargalo”.
Em Fortaleza, no próximo dia 23, para discutir “o futuro dos data centers no Brasil” durante o Ceará Tech Hub, Baigorri destaca ainda o potencial da capital cearense na economia digital brasileira.
“Fortaleza se destaca como principal hub da América do Sul em termos de recepção e conectividade em cabos submarinos internacionais. Essa característica capacita a cidade para ser também um hub de tecnologia, de data centers e acaba trazendo uma série de benefícios econômicos e sociais para a cidade”, destaca.
A cidade conta com 17 cabos submarinos de fibra óptica que conectam o Brasil com Europa, Américas Central e do Norte e África. Com ponto de conexão na Praia do Futuro, o município ainda é alvo de investimentos para data centers, como os já instalados da V.Tal e da Angola Cables.
Os investimentos somam milhões de reais e exigem mão de obra capacitada de altos salários para instalação e manutenção, gerando os impactos econômicos e sociais mencionados pelo presidente da Anatel.
Estes aspectos devem permear as falas de Baigorri no próximo dia 23 no “Ceará Tech Hub: O Futuro dos Data Centers”, que acontece no Espaço Lô 142 (Av. Pessoa Anta, Centro, Fortaleza) e reúne ainda José Roberto Nogueira (CEO da Brisanet), Rodrigo Abreu (ex-CEO da Oi e atual Operating Partner da Pátria Investimentos) e Igor Lucena (CEO da Amero Group), além do deputado federal Danilo Forte (União–CE) e Roberto Campos Neto (ex-presidente do Banco Central).