Fortaleza sediará o Seminário Política Industrial para o Setor de TICs para discutir o fortalecimento da indústria de tecnologia da informação e comunicação (TICs) no Ceará e no Nordeste.
Dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) mostram que o Estado possui apenas cinco empresas habilitadas e 18 projetos conveniados com instituições de ensino e pesquisa locais, evidenciando o potencial de expansão para o setor na Região.
O evento acontece na sede da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), nos dias 5 e 6 de junho, e é uma realização conjunta com a P&D Brasil e o deputado federal André Figueiredo (PDT-CE).
O seminário visa divulgar as oportunidades geradas pela Lei de TICs (Lei de Informática) — considerada a principal política industrial para o desenvolvimento tecnológico do setor no Brasil.
Para o deputado André Figueiredo, o Ceará possui um cenário favorável para o avanço da indústria de tecnologia, com “vantagens competitivas importantes: uma localização geográfica estratégica, uma base acadêmica sólida com universidades e institutos de pesquisas bem posicionados nacional e internacionalmente na área tecnológica” e uma “grande rede de educação profissional e tecnológica capilarizada por todo o Estado”.
Apesar disso, ele reconhece que “ainda carecemos de uma política estruturada e de longo prazo para atração de investimentos no setor”.
Segundo o parlamentar, é necessário “estimular uma cultura empreendedora e de inovação entre os nossos jovens”, além de “melhorar a ambiência de negócios, reduzir burocracias, ampliar o acesso a crédito, especialmente capital de risco, e apoiar iniciativas que incentivem a permanência dos nossos talentos no Estado”.
Uma das novidades que impulsionam esse cenário na busca por expandir as empresas habilitadas e os projetos no Ceará é a atualização recente da legislação, por meio da Lei 14.968/2024, que ampliou os benefícios fiscais para empresas das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Sobre a medida, Figueiredo aponta que, foi relator da nova Lei de TICs, a atualização da legislação busca justamente enfrentar gargalos como a alta burocracia, a concentração de investimentos em poucas regiões e a ausência de projetos colaborativos.
Ele observa que, no Ceará, mesmo com vantagens como “o maior entroncamento de cabos submarinos do país e uma baixa latência proporcionada por nossa geografia privilegiada”, o potencial ainda é pouco aproveitado.
“Poderíamos ser um dos maiores clusters de datacenters do mundo, mas esbarramos na falta de infraestrutura energética e na dificuldade de atrair empresas de base tecnológica para formar um verdadeiro ecossistema de inovação”, afirma
Sobre o crédito financeiro de 17% para empresas do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, o deputado avalia que, embora seja “uma medida positiva, importante e necessária para mitigar os desequilíbrios históricos, ela ainda é insuficiente diante da profundidade do fosso regional”.
Para ele, “as desigualdades no setor de tecnologia exigem mais do que incentivos fiscais — precisam de políticas estruturantes que reconheçam e valorizem as potencialidades locais”
Agora, companhias reconhecidas pela Lei de Informática podem usufruir de um crédito financeiro de 17%, melhorando a competitividade e estimulando a instalação e o fortalecimento de negócios de base tecnológica fora do eixo Sul-Sudeste.
O seminário reforça a necessidade de o Brasil consolidar uma agenda de apoio à tecnologia nacional, reconhecendo o setor como estratégico para o desenvolvimento econômico e para a soberania tecnológica do país.
A expectativa é reunir cerca de 300 participantes, incluindo executivos de empresas, representantes de startups, universidades, centros de pesquisa, bancos de desenvolvimento, agências reguladoras, parlamentares e integrantes do governo.
Figueiredo também alertou para os riscos de o Brasil continuar dependente de tecnologias importadas. “Estamos vivendo a era da economia do conhecimento, em que colonizadores e colonizados são definidos pela capacidade — ou incapacidade — de produzir tecnologia”, afirmou.
Ele defendeu investimentos robustos e contínuos em educação, ciência, tecnologia e fortalecimento da indústria nacional, a exemplo do que ocorreu com a China e, no Brasil, com o agronegócio. “Precisamos aplicar o mesmo modelo ao setor tecnológico, fortalecendo a indústria nacional de software, hardware e semicondutores”
Entre as autoridades convidadas estão os ministros do MDIC e MCTI, além de presidentes de entidades como Finep, ABDI, Softex, Embrapii e RNP, reforçando a relevância nacional do debate.
A realização do seminário acontece em um momento de fortalecimento do ecossistema de inovação no Ceará, impulsionado por iniciativas como o UFC TechHub — primeiro hub de inovação vinculado a uma universidade pública no Brasil, fruto da parceria entre a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Neo Ventures, com apoio da Fiec.
Para a Fiec, a criação do TechHub é um exemplo concreto de como a conexão entre academia, mercado e sociedade pode transformar conhecimento em soluções de impacto. “Deixamos de engavetar projetos de pesquisa e passamos a torná-los realidade”, destaca a entidade em nota.
O hub busca gerar tecnologias que tragam benefícios sociais, ambientais e econômicos, além de fortalecer o empreendedorismo e a competitividade do Estado.
Por fim, o deputado destacou outras ações parlamentares em tramitação, como os projetos que propõem o descontingenciamento de fundos como o Funttel e a Condecine, além de políticas voltadas à economia criativa e à indústria audiovisual nacional. “Temos capital humano qualificado, universidades fortes e uma cena cultural vibrante. Cabe ao poder público criar os instrumentos para transformar esse potencial em oportunidades concretas”, concluiu.
O seminário, portanto, se soma a esse movimento, e a busca dos participantes é em consolidar o Ceará como polo de desenvolvimento tecnológico e inovação, não só para o Nordeste, mas para todo o País.