Com a aproximação da COP30 as atenções se voltam para os impactos que o maior evento climático do mundo pode gerar nas economias locais. No Ceará, a agenda climática apresenta tanto desafios urgentes, quanto oportunidades estratégicas para a indústria, o comércio e os serviços.
A busca por uma transição energética justa, investimentos em tecnologias sustentáveis e a valorização da bioeconomia despontam como caminhos possíveis para alinhar crescimento econômico e responsabilidade ambiental.
Há uma semana, o Governo do Ceará, por meio da Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Sema), institui o Grupo de Trabalho de Transição Energética, para fortalecer a atuação da região Nordeste como líder nacional e ator global na transição energética.
A iniciativa surge para alinhar e preparar o Ceará para a participação da COP30. O GT é formado por:
Segundo Brigida Miola, secretária da Indústria da SDE, o GT é um passo estratégico para fortalecer a governança climática no Ceará. Ele vai convergir as políticas públicas, os setores produtivos e o sistema de inovação em torno de uma agenda comum de descarbonização.
"É uma iniciativa que reforça o papel do Estado como referência nacional e internacional na transição energética, integrando desenvolvimento industrial sustentável com segurança energética. É também um movimento decisivo para levarmos à COP30 propostas estruturadas, com base técnica sólida e compromisso real com a transformação do modelo econômico", destaca.
A primeira reunião oficial de trabalho ocorrerá na próxima segunda-feira, 23. Joaquim Rolim, gerente de Desenvolvimento Sustentável da FIEC, informa que a indústria cearense tem avançado de forma significativa na adoção de práticas ESG, com destaque para o programa de Certificação ESG-Fiec, iniciativas de economia circular e inovação, e o engajamento em ações sustentáveis.
No âmbito da agenda climática global, esse movimento é fortalecido pelo alinhamento aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), investimentos em energias renováveis e programas de capacitação promovidos pela entidade.
"O comprometimento com a sustentabilidade, aliado ao apoio institucional e à inovação, consolida a posição do Ceará como referência nacional em responsabilidade ambiental, social e de governança."
O presidente da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Danilo Serpa, diz que o setor industrial local enfrenta desafios tecnológicos, financeiros e culturais para atender às exigências ambientais globais, especialmente na descarbonização e na adoção de inovação sustentável.
"A transição não é apenas uma demanda ambiental, mas uma exigência mercadológica para manter competitividade e atração de investimentos. Para apoiar esse movimento, o Governo do Ceará, por meio do Fundo de Desenvolvimento Industrial (FDI), operacionalizado pela Adece, realiza ações", descreve.
O Fundo oferece incentivos fiscais que reduzem custos e estimulam a modernização produtiva com foco na sustentabilidade. Na política do FDI, destaca-se o Programa de Incentivos da Cadeia Produtiva Geradora de Energias Renováveis (PIER), que concede até 75% de diferimento do ICMS para projetos ligados a energia limpa; e o Programa de Atração de Empreendimentos Estratégicos (Proade), que oferece até 99% de diferimento do ICMS para setores como hidrogênio verde, siderurgia verde e bioeconomia.
Além disso, o FDI também beneficia a Indústria 4.0, promovendo automação, eficiência energética, gestão ambiental e rastreabilidade de carbono, fundamentais para acelerar a transição verde no Ceará.
Em outras atividades econômicas do Estado, como comércio e serviço, a agenda ESG também está em alta.
O vice-presidente do Sistema Fecomércio do Ceará, Luiz Fernando Bittencourt, confirma que a entidade adota a sustentabilidade como um eixo estratégico e desenvolve ações concretas nesse sentido, como a compra direta de alimentos de cooperativas da agricultura familiar, fortalecendo pequenos produtores e promovendo a economia local.
“A agenda ESG é uma pauta positiva, inclusiva e necessária para o setor de comércio, bens, serviços e turismo. Conscientizar sobre sua importância é essencial para manter os negócios ativos, acompanhar a mudança nos hábitos de consumo e atender a uma demanda cada vez mais exigente e diversa”, ressalta.
II Fórum ESG O POVO
O II Fórum ESG O POVO
traz como tema a COP30
Data: 25 de junho
Horário: A partir das 13h
Local: Auditório da Fiec na Avenida Barão de Studart, 1980, Aldeota
Link para inscrições grátis no QR Code
Convergência Agenda ESG e COP30
A convergência entre a COP30 e a agenda ESG brasileira é resultado direto do histórico de preservação de recursos naturais estratégicos, segundo Talita Martins, mestre em Direito Ambiental e desenvolvimento sustentável, com certificação internacional em ESG e CEO da Equos Consultoria ESG. "Agora, com legitimidade, o Brasil tem a oportunidade de cobrar dos demais países o devido financiamento climático e pressionar pela revisão das regras do Artigo 6 do Acordo de Paris, com foco na justiça climática e na operacionalização dos mercados de carbono", ressalta.
Para que essa convergência se concretize, ela explica que é preciso evoluir internamente. Enfrenta-se, ainda, desafios estruturais na regularização ambiental básica, o que limita o avanço para os critérios voluntários do ESG e que, globalmente, estão se tornando exigências regulatórias.
Para ela, a transição energética exige muito mais do que investir em fontes renováveis. É preciso repensar a lógica de produção, implementar economia circular, integrar critérios ambientais nas decisões de investimento e garantir rastreabilidade.
Diante desse cenário, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) lançou, em março, a Sustainable Bussiness COP30 (SB COP) - Ação Empresarial pelo Desenvolvimento Sustentável. Com o apoio do governo federal e da Organização das Nações Unidas (ONU), o movimento global quer assegurar uma transição justa, ampliando acesso à energia, saneamento e capacitação profissional; reforçar cadeias de valor sustentáveis, com foco em economia circular e bioeconomia.
Academia deve estar inserida na discussão socioambiental, diz especialista
A realização da COP30 em território brasileiro amplifica a pressão por critérios ESG nas cadeias produtivas globais. Empresas que conseguirem antecipar essa transição sustentável estarão em posição privilegiada para capturar mercados internacionais em expansão, atrair investimentos verdes crescentes e desenvolver tecnologias com alto potencial de exportação.
"Para isso, é crucial que o Brasil invista massivamente em educação científica e tecnológica, formando pesquisadores, engenheiros e técnicos especializados em tecnologias verdes, além de promover a alfabetização científica da população, criando uma sociedade mais consciente e preparada para os desafios ambientais", afirma Célio Fernando, economista, vice-presidente da Academia Cearense de Economia.
Segundo o especialista, este contexto transformador exige das indústrias brasileiras uma visão estratégica de longo prazo, onde o imperativo ambiental se converte em vantagem competitiva sustentável. A educação de qualidade e acessível torna-se o alicerce fundamental desta estratégia, garantindo que o Brasil desenvolva autonomia tecnológica, reduza a dependência de conhecimento externo e forme uma classe trabalhadora altamente qualificada capaz de impulsionar a inovação em todos os setores da economia verde.
"O investimento em pesquisa e desenvolvimento, ancorado em universidades e institutos de pesquisa fortalecidos, é essencial para que o país não apenas absorva tecnologias sustentáveis existentes, mas principalmente para que se torne um exportador de soluções ambientais inovadoras."
Para ele, a criação de centros de excelência em biotecnologia, energia renovável, economia circular e tecnologias limpas, integrados a programas de formação técnica e superior, permitirá ao Brasil desenvolver propriedade intelectual própria e liderar mercados emergentes da economia verde global.
"A convergência entre a COP30, as iniciativas regionais, como as do Ceará, e o movimento global de neoindustrialização sustentável cria um cenário único para o Brasil consolidar sua posição como potência verde mundial", defende o economista.