Há cerca de um ano, duas amigas resolveram se juntar para participar de feiras de empreendedorismo e vender seus produtos feitos com a técnica Amigurumi Em japonês (編みぐるみ), significa "bicho de pelúcia tricotado ou de crochê". A palavra é uma combinação de "ami" (編み), que significa tricô ou malha, e "nuigurumi" (縫い包み), que se refere a bonecas de pelúcia. Essa técnica japonesa consiste em criar pequenos bonecos, geralmente animais, através do tricô ou crochê. — um estilo específico de crochê voltado à criação de bonecos e figuras tridimensionais.
A dupla formada por Cássia Sena, 54, e Enizan Silva, 51, faz parte do grupo de empreendedores acima dos 50 anos que participam, nesta quinta-feira, 31, de capacitações promovidas pelo Sebrae Ceará.
A paixão pela técnica surgiu ainda na pandemia, quando os filhos começaram a pedir bonequinhos para Cássia, que já produzia tapetes, toalhas e cortinas.
“Fiz um dinossauro horroroso, o primeiro. Minha filha andava com ele até hoje na bolsa, mas perdeu. Aí comecei a tomar gosto pelos amigurumis, sabe? Fazer os personagens, encantar. Porque você olha e se encanta. Então não tem como. A gente que faz, se encanta. Fica tudo tortinho, mas a gente ama”, conta, entre risos.
Histórias como a de Cássia e Enizan ilustram o que os dados já indicam: o empreendedorismo entre pessoas com mais de 50 anos é uma realidade no Brasil — e tende a crescer nos próximos anos. É o que afirma o superintendente do Sebrae Ceará, Joaquim Cartaxo, ao destacar a importância de iniciativas voltadas à chamada “economia prateada”.
Segundo ele, a atuação do Sebrae nesse campo busca não apenas fomentar novos negócios, mas também acompanhar as mudanças no perfil etário da população brasileira.
“Mesmo aquelas pessoas que se aposentam continuam ativas, abrindo seus próprios negócios. Muitas vezes é um servidor público que se aposenta e usa essa nova fase da vida para empreender, como forma de complementar a renda. Outros simplesmente continuam inseridos no mercado”, observa Cartaxo.
Para além do aspecto econômico, ele ressalta que há uma transformação demográfica em curso: “Estamos vivendo uma inversão da pirâmide etária. Hoje, no Brasil, há mais pessoas com mais de 50 anos do que jovens com até 17. Isso traz implicações importantes para o futuro da população economicamente ativa, que está diminuindo. É uma pauta que requer debate.”
“Esse evento tem esse propósito: discutir não apenas o empreendedorismo na faixa 50+, mas também temas que envolvem a sociedade como um todo, como a transição ecológica, a transição etária e a transição tecnológica”, explica o diretor superintendente.
Coordenadora do projeto, a empreendedora Mônica Arruda detalha que a ação faz parte do programa nacional Sebrae Plural, voltado à diversidade e à inclusão produtiva. Um dos públicos prioritários são justamente as pessoas com mais de 50 e 60 anos, que buscam iniciar ou fortalecer empreendimentos próprios.
“O objetivo do evento é trazer conteúdo, promover conexões e mostrar exemplos reais de empreendedores que já estão no mercado, para inspirar outras pessoas que desejam realizar seus sonhos por meio do empreendedorismo”, afirma Mônica. “Há muitas oportunidades, tanto para essas pessoas empreenderem quanto para empresas oferecerem produtos e serviços direcionados a esse público.”
Um dos maiores obstáculos, para ela, é a autoconfiança. “Um dos grandes desafios é a autoestima — acreditar que é possível realizar sonhos mesmo após os 50. Essas pessoas têm uma experiência de vida riquíssima e muitas vezes querem continuar ativas, ter uma renda própria ou complementar sua renda. Mas, mais do que isso, querem realizar projetos que ao longo da vida profissional não conseguiram colocar em prática. E esse é o momento.”
Ela reforça que o foco principal do evento é a inspiração, e não a venda. “Não é exatamente um evento comercial. Queremos mostrar os negócios que já existem e inspirar outros. A partir daí, o Sebrae oferece jornadas de capacitação, atendimento com consultorias e todo o suporte necessário para quem quiser continuar nessa jornada empreendedora.”
Esta é a segunda edição do encontro. No ano passado, cerca de 300 pessoas participaram. Em 2025, o número de inscritos se aproximou de mil. A programação foi distribuída entre auditório, oficinas e feira, com circulação estimada de até mil pessoas ao longo do dia. (Colaborou com esta matéria Fabiana Melo).
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A programação foi distribuída entre auditório, oficinas e feira, com circulação estimada de até mil pessoas ao longo do dia