Representantes das entidades dos setores exportadores cearenses avaliam como importante o plano anunciado pelo governo federal para mitigar os efeitos da tarifa de 50% cobrada pelos Estados Unidos, mas acreditam que o plano poderia ter avançado mais.
O diretor do Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Ceará (Sindfrio), Paulo Gonçalves, da Compex Indústria e Comércio de Pesca e Exportação, diz que sente falta de uma solução para o longo prazo. “Ajuda bastante, mas não resolve”, diz Gonçalves. Por isso, ele defende que o governo negocie para reverter o tarifaço.
O Ceará é um dos estados mais impactados pela taxação em vigor desde o dia seis deste mês. Para se ter uma ideia, entre janeiro e julho deste ano, os Estados Unidos responderam por 53,6% das exportações totais do estado. E 56% do pescado cearense são destinados aos Estados Unidos.
“A gente esperava a liberação de impostos retidos, como o da Lei Kandir. Não adianta oferecer crédito, porque lá na frente a gente vai ter de pagar. E os juros de 10% podem ser baixos aqui no Brasil, mas no mercado internacional essa taxa é alta. A gente vai só ficar endividado”, afirma Paulo Gonçalves.
Agricultura e Pecuária
O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Amílcar Silveira, lamenta a ausência da devolução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), prevista na Lei Kandir.
“A gente tinha uma expectativa que a Lei Kandir fosse antecipada. Talvez fosse a melhor forma de socorrer as empresas nesse exato momento. Então, é preciso vermos quais são os impostos que vão ser beneficiados, porque tem alguns que incidem nas exportações, feito PIS e Cofins, afirma.
Na avaliação dele, a busca por novos mercados em substituição ao norte americano, uma das ações da Medida Provisória Brasil Soberano, não se constrói da noite para o dia.
São décadas talvez, porque o mercado americano é um mercado muito exigente. De todas as formas, é aguardar para ver o que é que vai acontecer, comenta.
Rochas ornamentais
O presidente do Sindicato das Indústrias de Mármores e Granitos do Estado do Ceará (Simagran), Carlos Rubens Alencar, diz que ainda não teve condições de examinar as medidas e prefere aguardar a publicação da Medida Provisória para fazer uma avaliação mais detalhada. “A priori, me pareceu muito acanhado”, opina.
Calçados contemplados
A Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) elogia as medidas Segundo o presidente-executivo da entidade, Haroldo Ferreira, o pacote "contemplou, em parte, as solicitações da indústria calçadista nacional".
Ferreira afirma que a entidade segue na expectativa de novas medidas voltadas à manutenção de empregos.
De acordo com a associação, o calçado exportado para os Estados Unidos é predominantemente comercializado na modalidade private label, com desenvolvimento e marca do cliente. Por isso, "não é um calçado que pode ser redirecionado para outros destinos no curto prazo".
Apesar disso, a Abicalçados diz corroborar "a necessidade de novos acordos comerciais, especialmente para potencializar a inserção dos produtos industrializados no mercado externo".
Micro e Pequena Indústria
Joseph Couri, presidente do Sindicato da Micro e Pequena Indústria (Simpi Nacional), também avalia positivamente as medidas anunciadas pelo presidente Lula.
Couri destaca que as pequenas empresas, que estão no centro das políticas de apoio, são o "elo mais fraco" da cadeia produtiva, e que o foco nas micro e pequenas indústrias foi essencial. No entanto, ele alerta que as medidas atendem apenas a 65% das exportações, com 35% ainda sendo afetadas pela tarifa de 50%.
Medidas importantes
Para o economista e CEO da Unipar BR Consultoria, Eduardo Neves, a criação de linhas de crédito com garantias, o novo Reintegra, o diferimento de tributos e a prorrogação do regime de drawback oferecem oportunidade de alívio financeiro às empresas, especialmente às exportadoras.
“A simplificação das compras públicas é algo positivo, pois estimula o consumo dos produtos e contempla a participação de pequenas e médias empresas”, considera.
De acordo com ele, a câmara de acompanhamento de empregos pode ajudar a preservar postos de trabalho, “desde que tenha agilidade e sensibilidade para propor ajustes conforme a evolução do cenário”.
Já a busca por novos mercados, analisa o economista, é estratégica, mas seus efeitos são mais perceptíveis no médio prazo.
“Para enfrentar os desafios imediatos, o caminho mais eficaz é a negociação direta e pragmática, sem viés político”, recomenda.