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Sob pressão do tarifaço, exportadores de manga do Ceará avaliam até absorver taxação
Economia

Sob pressão do tarifaço, exportadores de manga do Ceará avaliam até absorver taxação

| Estratégia |A Finoagro - exportadora de manga com propriedades no Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco - detalha impacto, já que afeta 30% de seu mercado
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PRODUÇÃO de manga no Brasil é impactada com tarifaço de 50% imposto pelo governo dos EUA  (Foto: Aurelio Alves)
Foto: Aurelio Alves PRODUÇÃO de manga no Brasil é impactada com tarifaço de 50% imposto pelo governo dos EUA

A imposição de tarifas de 50% para a entrada da manga brasileira no mercado dos Estados Unidos fará com que o principal produtor cearense da fruta busque renegociar contratos e até aceite absorver o custo extra. Ao O POVO, Adriano Thielke, gerente geral de Operações da Finoagro, confirma que quase 2 mil toneladas de produção a partir do Ceará podem são afetadas.

A avaliação é de que esse momento é uma crise que deve ser remediada por vias diplomáticas, de forma que o setor produtivo não "pague a conta", apesar de reconhecer que é difícil definir qualquer cenário futuro agora.

Daniel explica que a Finoagro - empresa do Grupo Vicunha - já trabalha com importadores dos EUA há mais de 20 anos e que, para a empresa, é prudente "sofrer" por uma safra a ver o fechamento de um mercado que representa 30% de suas exportações.

A maior parcela de clientes internacionais, quase 70%, são do mercado europeu, além de parcelas menores com destino ao Canadá e Oriente Médio. E a exportação de quase todo esse montante ocorre via Porto do Pecém.

O executivo também pondera os investimentos necessários para obter a permissão de enviar produtos aos EUA, o investimento já realizado e a expectativa de retorno desses aportes. Portanto, defende que vender aos Estados Unidos não é uma atividade que o exportador entra e sai facilmente.

"A Finoagro foi uma das pioneiras na exportação para os Estados Unidos, há mais de 20 anos, desde o Rio Grande do Norte. Para exportar para aquele mercado, é necessário todo um protocolo de certificações, realizar o tratamento térmico da fruta, que demanda um investimento muito grande em packing house (casa de embalagem, na tradução literal)".

E reitera: "Relações comerciais não são descartáveis. Necessitam de anos de trabalho para gerar um relacionamento entre produtor, importador e toda cadeia, inclusive logística".

Para o empresário, o governo brasileiro precisa se esforçar na abertura de diálogo para inclusão da manga e de outros produtos alimentícios na lista de exceções à tarifa de 50%. Atualmente, a Finoagro emprega um total de 1,5 mil trabalhadores rurais no pico de produção em toda sua área plantada, sendo 200 deles no Ceará.

Caso o mercado americano se inviabilize e os produtores de frutas direcionem o excedente de produção para outros mercados, como o europeu, Adriano teme que isso afete as frutas brasileiras de maneira geral, com crise de preço.

Já em relação aos pacotes de ajuda anunciados pelos governos estaduais e federal, que começam a ser regulamentados, ele avalia que ainda é cedo para entender se o que está sendo ofertador vai suprir a necessidade do mercado e se o acesso será possível a todos.

Por outro lado, observa que o direcionamento dos produtos normalmente exportados ao mercado interno pode não surtir o efeito esperado por aspectos culturais e de preço, já que o valor agregado da manga exportado tornaria o produto em um "premium".

"O cearense em geral gosta muito da manga coité. Se, além da coité, eu passar a ofertar no supermercado uma manga Tommy, manga Palmer, manga Keitt e manga Kent, que são variedades de exportação, forçaria o consumidor a iniciar um consumo que ele - em grande parte - nem conhece ainda. E isso não vai acontecer do dia para noite, requer investimento e trabalho, além da vontade governamental".

Apesar de considerar o direcionamento inviável, entende como positivo o movimento brasileiro em defesa de seus produtos e espera que o cidadão em geral passe a conhecer mais sobre a capacidade produtiva do País.

"As pessoas deveriam conhecer mais o que as pessoas lá no campo estão fazendo. Às vezes trago caixas de fruta e distribuo para amigos, pessoas da cidade e algumas instituições e as pessoas se surpreendem com a qualidade da nossa fruta", ressalta.

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O sertão nordestino é a principal fonte de produção de manga para exportação no Brasil. A representatividade do Vale do São Francisco, nos estados da Bahia e Pernambuco, se destaca, quando das mais de 250 mil toneladas exportadas pelo Brasil, aproximadamente 240 mil toneladas saem de lá.A outra parcela importante das exportações diz respeito a estados como São Paulo, Rio Grande do Norte e Ceará. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), organizados no Observatório da Manga, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).Na safra 2023/2024, o Ceará colheu o equivalente a 43 mil toneladas, com valor de produção de R$ 628 milhões, valor similar ao do Rio Grande do Norte, segundo relatório do Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste (Etene), do Banco do Nordeste (BNB).No caso da Finoagro, que tem sede no estado do Rio Grande do Norte, mantém propriedades no Vale do São Francisco, em Pernambuco, e no Ceará, mais precisamente nos municípios de Quixeré e Beberibe.O primeiro município, possui tradição na produção de frutas, com outras propriedades instaladas. Mas o caso de Beberibe representa um diferencial inovador, pois a região é reconhecida pela produção de castanha de caju, sendo uma experiência até então exitosa com a manga para exportação.Adriano Thielke, gerente geral de Operações da empresa, explica que a produção dessa planta é toda exportada, a maioria para a Europa, sendo uma parte destinada também aos Estados Unidos. Na última safra, foram mais de 6 mil toneladas produzidas, com aproximadamente 2 mil toneladas destinadas aos norte-americanos.O empresário conta que a experiência no Ceará tem sido positiva, o que motiva um planejamento para realização de novos investimentos no aumento da capacidade de produção e até mesmo em aporte para que o tratamento térmico das mangas destinadas aos EUA ocorra também em Beberibe, já que atualmente o processo é centralizado na sede da empresa no Rio Grande do Norte."O último investimento da empresa foram em duas propriedades no Ceará. Adquirimos já com área plantadas, mas as quais a empresa gostaria muito de investir, pois são áreas relativamente pequenas que tem potencial de crescimento", aponta.No entanto, em meio ao tarifaço, esses planos podem ser postergados. Segundo o empresário, o investimento necessário para implementar um packing house é na faixa de R$ 20 milhões, para instalar estrutura de galpão e maquinário. "Num contexto como o de hoje, fica muito difícil para o investidor tomar essa decisão".Adriano continua, explicando que o investidor precisa da confiança para que o aporte se justifique e, hoje, não há essa segurança. Ainda assim, avalia que o olhar da empresa não é pessimista e encara o atual momento como mais uma crise a ser superada."O investimento para instalação de um packing houve é muito alto, então a operação do Ceará ainda não tem um porte que permita esse investimento. Não ainda, mas para o futuro faz parte de nossos planos a expansão da área de plantação que justifique um investimento maior", comenta.

 

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