Construtores cearenses vão utilizar a calculadora CECarbon, uma ferramenta online e gratuita para o setor da construção civil, para medir o consumo energético e o impacto das emissões de carbono em edificações, abrangendo materiais e processos. A medida visa diminuir o impacto ambiental tanto no canteiro de obras como também após as edificações prontas, ou seja, durante o uso dos imóveis.
A iniciativa é fruto de uma parceria do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE) com o sindicato de São Paulo. A nova tecnologia foi apresentada, ontem (terça-feira, 30 de setembro), durante o Seminário de Descarbonização realizado na Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).
A ferramenta serve de base para desenvolver políticas públicas e avaliar projetos de habitação. Ela calcula as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e o consumo de energia incorporados no uso de materiais, no transporte e na execução de uma obra.
“Essa calculadora faz o inventário de emissões de gases de efeito estufa das obras. Ela é baseada em metodologias internacionais e está alinhada aos relatórios de sustentabilidade", informa Lilian Sarrouf, coordenadora técnica do Comitê de Meio Ambiente do SindusCon-SP.
A CECarbon foi desenvolvida em parceria com a Secretaria Nacional de Habitação do Ministério das Cidades e a Agência de Cooperação Alemã para o Desenvolvimento Sustentável (GIZ). A sua utilização é recomendada pelo Ministério das Cidades e por programas como o IPTU Verde e o Selo Casa Azul.
Além da calculadora, o Sinduscon-CE lançou o Guia de Descarbonização na Construção. A publicação reúne orientações e estratégias para apoiar empresas e profissionais do setor na redução de emissões de carbono. O guia foi apresentado pelo diretor de suprimentos da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), Angel Ibanez.
Segundo ele, o uso de materiais como concreto e aço contribui significativamente para as emissões de gases de efeito estufa devido à sua produção intensiva em carbono. “Só o cimento responde por sete por cento de todas as emissões. Se a gente pensar em todos os prédios residenciais do planeta, tanto na sua fase de construção como na sua fase de uso é quase 1/3 de toda a emissão do CO2 emitida. Então daí a importância da gente ter ações que diminuam esse impacto tanto na fase de construção como na fase de uso também, diz Angel Ibanez.
O concreto e o aço representam quase 70% em emissões de carbono. Uma boa prática sugerida por Ibanez para reduzir esse impacto negativo, seria o uso de novas tecnologias que produzem cimento, concretos e aço mais eficientes. ”Esses produtos estão disponíveis, e é papel do construtor, do incorporador, buscar e aplicar essas práticas", pontua.
O especialista diz que apenas com essas iniciativas, seriam reduzidos de 15 a 20 por cento de toda a emissão de CO2 da obra. “É um volume bastante representativo", comenta.
O secretário de Urbanismo e Meio Ambiente de Fortaleza, João Vicente Leitão, afirma que as iniciativas do SindusCon-CE são muito importantes, principalmente, porque o setor de construção está crescendo muito no Ceará.
Paula Frota, vice-presidente de sustentabilidade do SindusCon-Ce, diz que o Guia é “muito mais do que uma publicação técnica; é uma ferramenta que vai ajudar bastante as construtoras e os profissionais do setor a reduzir as emissões de carbono mas de uma forma muito simples prática e descomplicada".
Sustentabilidade não é uma coisa inalcançável, inatingível, muito cara que precisa de muita tecnologia. A gente mostra através desse guia que, com pequenas ações e pequenas mudanças, a gente consegue reduzir bastante as emissões, conclui Paula Frota.
A construção civil consome cerca de 36% da energia global, é responsável por 38% das emissões globais de carbono, utiliza aproximadamente 50% dos recursos naturais extraídos globalmente, e estima-se que 8% de tudo o que é produzido em uma obra se torna desperdício, gerando cerca de 400 quilos de entulho por habitante.
Os dados são do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) que faz a seguinte projeção: se as práticas atuais continuarem, as emissões de gases de efeito estufa do setor podem aumentar em 50% até 2050, em comparação com os níveis de 2015.