No Ceará, 72,2% das rodovias federais que cortam o Estado estão de regulares a ótimas. É o que revela o Panorama Logístico do Ministério dos Transportes.
De acordo com o levantamento, 42,5% das malhas estão em situação regular, 20,2% em condição ruim e 7,6% em péssima, enquanto 27,2% são consideradas boas e 2,5% ótimas.
Outro dado relevante apontado pelo estudo é que o Ceará é a unidade do Nordeste com 9% do volume de investimentos públicos federais em 2025, enquanto há uma concentração na Bahia (27,6%) e Maranhão (21,1%).
No Nordeste, o modo rodoviário ainda é responsável pelo principal escoamento da produção e distribuição interna. A região possui a maior extensão de rodovias federais pavimentadas do país (20,6 mil km), equivalente a 31,1% da malha nacional.
Apesar da ampla cobertura, a qualidade na região nordestina é um gargalo significativo. Isso porque cerca de 70% requer algum nível de intervenção.
“Essa situação reforça a necessidade de modernização e duplicação de trechos estratégicos”, indica o levantamento.
“Se considerarmos o histórico de levantamentos feitos pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) nas rodovias do estado do Ceará, a condição funcional destas tem se mantido nesse patamar de classificação (com mais da metade regulares, ruins ou péssimas)”, analisa Francisco Heber Lacerda de Oliveira, doutor em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
De acordo com ele, apesar de iniciativas feitas pelos órgão gestores na melhoria da infraestrutura rodoviária, as ações parecem não ter surtido os efeitos esperados pela sociedade e pelos usuários mais diretamente.
“Diante disso, pode-se supor que os baixos investimentos tenham influenciado esses resultados”, pontua Francisco Heber.
Os estudos técnicos e científicos, avalia o pesquisador, têm concluído que os investimentos em projetos, implantação, manutenção e reabilitação das rodovias guardam relação direta com seu ciclo de vida.
“Ou seja, a falta de investimentos ao longo do tempo proporciona uma degradação precoce da infraestrutura. Por consequência, têm-se os aumentos das adversidades, como os acidentes e os custos logísticos”, diz.
Os principais corredores — BR-101, BR-116, BR-316 e BR-230 — formam uma rede que conecta áreas produtoras e centros urbanos aos portos e as demais regiões do Brasil, rede esta fundamental para a integração regional e no escoamento da produção agrícola, mineral e industrial, além de ser essencial para o fomento do turismo.
Na terça-feira, 14, autoridades, especialistas e representantes do setor produtivo se reuniram, em Fortaleza, para discutir a infraestrutura logística do Nordeste, com foco na identificação de gargalos e em propostas para ampliar a competitividade regional.
“Um dos objetivos do Ministério dos Transportes é ampliar a participação do modal ferroviário no transporte de cargas, e um dos caminhos adotados foi a renovação antecipada da concessão da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). Esse é um caminho fundamental para sustentar as indústrias que já estão no Nordeste e outras que poderão se instalar aqui”, afirma o secretário-executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro.
Com uma população que representa cerca de 27% do Brasil, o Nordeste tem apresentado crescimento econômico consistente, com o PIB da região atingindo 3,8% em 2024, acima da média nacional de 3,5%.
No entanto, segundo avalia o Ministério dos Transportes, a participação da região na economia brasileira permanece estável em torno de 14% nas últimas duas décadas, indicando a necessidade de avanços na infraestrutura para impulsionar o desenvolvimento local.
O próprio ministério reconhece que as principais rotas de escoamento da região, como as rodovias BR-101 e BR-116, concentram grande parte do tráfego de cargas, mas ainda enfrentam limitações que comprometem a eficiência logística.
A carência de conexões ferroviárias e a necessidade de modernização da malha rodoviária são desafios reconhecidos pelo Governo Federal, que vem investindo na expansão e na melhoria desses modais.
Um dos grandes projetos estruturantes para a região é a ferrovia Transnordestina, com 1,2 mil quilômetros de extensão e investimento total de R$ 14,9 bilhões.
A ferrovia ligará Eliseu Martins (PI) ao Porto do Pecém (CE), com um ramal até Suape (PE), atravessando 53 municípios. A expectativa é que o projeto reduza custos logísticos e amplie o escoamento de grãos, minérios e produtos industriais.
“Com a implementação dos projetos ferroviários, a produção mineral ganhará destaque, a produção agrícola superará gargalos logísticos, haverá redução de custos e novas possibilidades de expansão, o que trará mais competitividade e produtividade para o Nordeste”, informa George Santoro.
Após enfrentamentos contratuais que atrasaram sua execução desde 2006, a obra ganhou novo fôlego com o Novo PAC.
Desde 2022, o trecho entre Salgueiro (PE) e Suape (PE) está sob responsabilidade da Infra S.A., enquanto a concessionária Transnordestina Logística S.A. (TLSA) concentra esforços na conclusão do eixo que liga o Piauí ao Ceará.
A previsão é que a primeira operação da Transnordestina ocorra ainda em 2025, no trecho de 580 quilômetros entre o Terminal Intermodal de Cargas de Bela Vista (PI) e Iguatu (CE), passando pelo interior de Pernambuco.
“Estamos com seis lotes de mais de 50 quilômetros em andamento. Até o final do ano, contrataremos os dois últimos da Fase 1. Nossa expectativa é que, em 2027, possamos entregar toda essa primeira fase já em operação comercial”, pontua o diretor-presidente da Transnordestina Logística, Tufi Daher, ao reforçar o ritmo acelerado das obras.
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Investimentos públicos por Estado em 2025
Estado / Montante investido (R$ milhões) / % do total
Bahia (BA) / 755,6 / 27,6 %
Maranhão (MA)/ 576 / 21,1 %
Ceará (CE) / 247,2 / 9,0 %
Piauí (PI) / 241,6 / 8,8 %
Paraíba (PB) / 223,9 / 8,2 %
Rio Grande do Norte (RN) / 215 / 7,9 %
Pernambuco (PE) / 201,4 / 7,4 %
Alagoas (AL) / 143,8 / 5,3 %
Sergipe (SE) 35,1 / 1,3 %
Regional/outros / 94,9 / 3,5 %
Fonte: SIGA Brasil, 2025.