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Acionistas críticos cobram presidente da Fraport por desmatamento em Fortaleza
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Acionistas críticos cobram presidente da Fraport por desmatamento em Fortaleza

O Conselho da Confederação dos Acionistas Críticos encaminhou e-mail questionando a empresa alemã, administradora do Aeroporto de Fortaleza, sobre denúncias de desmatamento ilegal
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TERRENO desmatado no entorno do Aeroporto Internacional de Fortaleza (Foto: AURÉLIO ALVES)
Foto: AURÉLIO ALVES TERRENO desmatado no entorno do Aeroporto Internacional de Fortaleza

Acionistas críticos da Fraport AG cobraram a administradora de aeroportos alemã devido à repercussão do desmatamento da Floresta do Aeroporto, em Fortaleza. O grupo é formado por 29 entidades de defesa dos direitos humanos e meio ambiente.

“Podemos ainda confiar no senhor como presidente do conselho executivo?”, questionaram, em carta aberta, em relação ao presidente do conselho executivo companhia, Dr. Stefan Schulte.

O Conselho da Confederação dos Acionistas Críticos encaminhou os mesmos pontos por e-mail, para a empresa, sobre a realização de supressão vegetal de 46 hectares em terreno onde seria construído um centro logístico na área concedida à Fraport Fortaleza, no Aeroporto Internacional Pinto Martins.

A licença ambiental da Aerotrópolis, terceirizada da Fraport, e responsável pelas obras, foi suspensa pela Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Sema), por meio da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace).

Vistorias realizadas após a retirada da área verde apontam que o manuseio da fauna local foi realizado inadequadamente e que o desmatamento excedeu os limites autorizados inicialmente, impactando até mesmo uma Área de Preservação Permanente (APP) próximo de um curso d'água.

Christian Russau, membro do conselho, é um dos signatários da carta. Ele fez uma publicação no site dos Acionistas Críticos relembrando que em 2024 e 2025 eles buscaram a diretoria da Fraport questionando diretamente a gestão do Aeroporto de Fortaleza.

O primeiro caso havia sido motivado pela derrubada de vegetação para organização de um festival de música ao ar livre para apenas alguns dias. Christian se refere ao Fortal, que acabou não sendo realizado no local após a repercussão negativa.

Ele relata que a Fraport AG informou, à ocasião, que qualquer atividade só seria realizada nas dependências do aeroporto “se todas as autorizações legais necessárias tivessem sido obtidas”.

E afirma: “Foi o que a Fraport AG declarou de forma ousada e aberta na Assembleia Geral de Acionistas, em maio de 2025. Menos de quatro meses depois, o desmatamento está ocorrendo nas dependências da Fraport em Fortaleza sem as autorizações legais necessárias”.

No documento aberto, os acionistas destacam a extrema perplexidade ao “tomar conhecimento do desmatamento ilegal de áreas de Floresta Atlântica em estágio médio a avançado de regeneração”, conforme relatado em parecer assinado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), agência ambiental federal brasileira.

Os acionistas ainda dizem possuir em mãos o laudo original do Ibama e compartilham as três conclusões principais:

  1. A vegetação de Mata Atlântica suprimida encontrava-se em estágio médio a avançado de regeneração (Por lei, a preservação de área verde deveria ser ou de 30%, ou 50%, respectivamente)
  2. A empresa realizou o desmatamento fora da área autorizada pela licença de supressão de vegetação (ASV)
  3. Foi constatada a destruição de uma Área de Preservação Permanente (APP) próximo de um curso d’água

A carta ainda relata que, em 27 de maio deste ano, o presidente do Conselho Executivo da Fraport AG, Dr. Stefan Schulte, “respondeu explicitamente” às perguntas dos acionistas sobre desmatamentos ilegais anteriores no terreno do Aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza, afirmando:

“Se houver, atividades de desmatamento no terreno do aeroporto só são realizadas quando todas as autorizações legais necessárias estão devidamente emitidas.”

O e-mail finaliza lembrando de declaração de Schulte na reunião do Conselho da Fraport AG em que disse: “No fim das contas, o que vendemos é confiança”.

“Podemos ainda confiar no senhor como presidente do conselho executivo?”, finaliza o texto dos acionistas críticos.

O POVO entrou em contato com a Fraport Fortaleza para questionar a repercussão do caso. Também procurou a Aerotrópolis, terceirizada responsável pelo projeto de construção do espaço logístico, com projetos de armazéns, um shopping center, um hotel e estacionamentos.

Por meio de nota, a Fraport Brasil - Fortaleza informa que não tem corresponsabilidade com o caso de desmatamento ilegal. Confira a íntegra da nota abaixo:

Como já esclarecido em diferentes momentos, a Fraport Brasil, concessionária do Aeroporto Pinto Martins, possui um contrato de cessão de uso de área com a Aerotrópolis Empreendimentos S/A, responsável pela construção e viabilidade do projeto de centro logístico, incluindo a obtenção de todas as autorizações legais, ambientais e específicas, além da atração de investidores e parceiros para o projeto.

Os contratos comerciais da Fraport Brasil com empresas que atuam na área do Aeroporto regem a responsabilidade de cada empreendedor quanto às autorizações legais para o exercício das atividades comerciais objeto de cada contrato.

As relações com investidores da Fraport são geridas diretamente pela matriz da empresa na Alemanha, e não cabe à subsidiária brasileira comentar a respeito.

Reforçamos que o aeroporto segue em crescimento, com a abertura de novas operações comerciais, incremento de rotas e destinos, e atuando em conjunto com o setor de turismo para promover o desenvolvimento econômico de Fortaleza e do Estado do Ceará, incluindo o aumento do número de passageiros.

 

A Aerotrópolis Empreendimentos S.A. respondeu que seu projeto está em conformidade com a legislação ambiental e que mantém diálogo aberto com as autoridades e com a sociedade. Confira abaixo a íntegra da nota:

A Aerotrópolis Empreendimentos S.A. informa que o empreendimento logístico em implantação no sítio aeroportuário de Fortaleza observa integralmente os limites e prescrições da Licença de Instalação nº 62/2023, emitida pela Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE), com todas as condicionantes cumpridas e devidamente comprovadas.

Relatórios técnicos confirmam que a área do projeto não constitui floresta primária, mas vegetação secundária antropizada, sem configuração de Área de Preservação Permanente (APP). Também foi constatada a inexistência de nascentes, olhos d’água ou cursos hídricos naturais, havendo apenas acúmulo superficial de águas pluviais, condição que não configura corpo hídrico nem APP, conforme o Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) e resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama).

Além disso, o Plano de Manejo e Monitoramento da Fauna foi conduzido com o acompanhamento de biólogos especializados, garantindo o remanejamento seguro das espécies e a adoção de medidas preventivas que superaram as exigências originais da licença.

A Aerotrópolis reitera seu compromisso com a legalidade, a transparência e a preservação ambiental, mantendo diálogo aberto com as autoridades e com a sociedade e permanecendo à disposição para quaisquer esclarecimentos adicionais.

Quem são os Acionistas Críticos da Fraport

O Conselho da Confederação dos Acionistas Críticos reúne atualmente 29 organizações e iniciativas que criticam as corporações e defendem os direitos humanos, a paz e a proteção ambiental e climática. 

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