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O presidente Lula enfrenta o que talvez seja o seu pior momento desde que voltou ao Planalto, em 2023. Às voltas com uma sucessão de problemas que, conjugados, desgastam-no em um ano decisivo para a reeleição, o chefe do Executivo tem de lidar com um cenário mais complexo e sem dispor de tantas ferramentas como nos mandatos anteriores.
De um Congresso movido a emendas a uma oposição diferente daquela representada pelo PSDB (e com aliados já começando a ensaiar uma pulada de cerca, como se notou em Kassab), Lula se vê acossado pelas circunstâncias.
Nelas se incluam a inflação que corrói o poder de compra dos consumidores e o aumento da taxa de juros básicos, a Selic. Ao abacaxi econômico, soma-se o problema eminentemente político, com a ala bolsonarista da Câmara e do Senado mantendo o governo sob artilharia intensa.
É nesse ambiente que a equipe palaciana comete erros em série. Dois deles foram autoinfligidos, aliás, ocasionando duas crises: a do Pix e a da intervenção no preço dos alimentos, ambas exploradas à exaustão nas redes sociais, ainda uma frente de disputa na qual Lula e seus ministros patinam, sem estratégia, tampouco discurso.
Como agravante, o presidente se sabota ao adotar, por exemplo, a continuidade do sigilo para documentos relacionados a gastos, uma promessa de campanha desde logo descumprida.
Tudo isso ajuda a entender como o mandatário vem erodindo rapidamente a gordura conquistada no pós-8 de janeiro, perdendo sustentação até no Nordeste, território tradicionalmente inclinado a aprovar governos de esquerda.
A conclusão parece óbvia: não é que Lula e sua gestão se comunicam mal. É o governo que não vai bem mesmo. Sidônio Palmeira, o novo chefe da Secretaria da Comunicação, sequer começou a trabalhar de fato. Veja-se o caso do Pix. O governo encomendou campanha publicitária para desfazer a mentirada inventada por Nikolas Ferreira (PL-MG). Até agora, mais de dez dias depois, já desfeita a medida da Receita, a peça publicitária não ficou pronta.