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Festival promove imersão na cultura alimentar indígena em Fortaleza
Farol

Festival promove imersão na cultura alimentar indígena em Fortaleza

Evento promovido pelo Mercado AlimentaCE promoveu rodas de conversas, barracas de comidas e exposição para apresentar a culinária indígena do Ceará
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FESTIVAL aconteceu na Estação das Artes (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS FESTIVAL aconteceu na Estação das Artes

Tapioca, mungunzá, beiju são alimentos que estão presentes na alimentação do cearense - e do nordestino - e foram herança da cultura indígena na região. Apesar de convivermos com esses produtos,  muitas vezes não percebemos como eles refletem uma cultura milenar.

Para trazer essa visibilidade, o Mercado AlimentaCE promoveu, neste sábado, 19, o Mbur Tapi’óka - Festival de Cultura Alimentar Indígena do Ceará no Complexo Cultural Estação das Artes, em Fortaleza. O evento reuniu representantes de 15 etnias do estado e promoveu uma imersão na cultura alimentar indígena.

Além de se deliciar com os pratos típicos apresentados, os visitantes participaram de rodas de conversas com mestres da cultura, uma exposição fotográfica, feira de artesanato e até atividade de pintura corporal indígena.

O festival teve início às 14 horas, mas o público aumentou no fim da tarde, com um clima de passeio e imersão. A maioria dos visitantes estavam circulando para conhecer cada espaço. Mesmo quem não sabia sobre o evento, mas estava na Estação das Artes, passava nos estandes de comida ou na exposição fotográfica.

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Roda de Conversa abordou transferência dos saberes indígenas

O culto à cultura ancestral foi uma temática bastante abordada no festival, especialmente na roda de conversa “Ancestralidade e Sabores: A transmissão dos Saberes da Cultura Alimentar Indígena”.

Os convidados cacique Pequena, cacique Sotero, cacique João Venâncio e a pajé Raimunda Tapeba relembraram os alimentos que marcaram sua vida e trabalho e como a relação mudou nas últimas gerações.

“Ninguém sabia o que era arroz, macarrão…era só farinha e pamonha”, detalhou cacique Pequena durante sua fala sobre as tradições do povo Jenipapo-Kanindé.

Os convidados também abordaram as diferenças nas tradições culturais entre povos litorâneos e povos que vivem em zona de mata.

Alimentos como produções das comunidades indígenas

Os estande fixos de alimentos do mercado AlimentaCE dividiram espaço com as barracas de produtos indígenas que ocuparam o local hoje. Desde alimentos típicos como mungunzá, até produtos como bolo de macaxeira, lambedores e mel.

Houve quem preferisse continuar as escolhas tradicionais, como o churrasco ou o cachorro quente que está presente no espaço todos os dias. Mas alguns preferiram provar as iguarias como as farofas, escondidinho de mandioca e até o Mungunzá de Gavião.

Vanderson Cavalcante, líder do povo Potiguara de Crateús - a cerca de 355 quilômetros de Fortaleza - trouxe um prato típico do seu povo para a exposição gastronômica: o escondidinho de carne de sol com macaxeira.

Ele aproveitou para destacar a importância do evento: “Este evento é importante para dar visibilidade para o que produzimos na nossa aldeia”.

Da mesma etnia de Vanderson, Glória Potiguara trouxe um prato conhecido como Mungunzá de Gavião.

“É uma receita da minha mãe e tem esse nome curioso, mas não está relacionado com a ave. A gente sempre morou no sertão e achávamos essa ave bonita e resistente, assim como nós, e associamos o nome da ave ao prato”, explica.

A tapioca como atração principal

A “Casa da Tapioca” foi uma das atrações principais do evento. Antes da abertura do espaço às 17 horas, as pessoas já faziam fila para entrar. O objetivo do espaço é simular uma casa de farinha, com as tapiocas tradicionais com leite de coco sendo feitas no local.

E o serviço era gratuito e self-service, bastava chegar ao local para consumir uma tapioca fresquinha.

A professora universitária Juliana de Matos Oliveira já costuma frequentar a Estação das Artes e aproveitou o espaço já que “sente uma afeição pela temática indígena” e faz parte do Núcleo de Estudos Afrobrasileiro e Indígena do Instituto Federal do Ceará (IFCE).

Exposição fotográfica une alimento e memória

Fruto de pesquisas do próprio Mercado, a exposição fotográfica “Amí – Alimento e memória dos povos indígenas do Ceará” também foi lançada neste sábado. 

Com fotografia do coletivo Lab Cinema Lutas, composto por Byya Kanindé, Lidiane Anacé, Henrique Tabajara e Iago Barreto, a exposição retrata as culturas alimentares de dez comunidades indígenas do estado. São 30 fotografias expostas na plataforma da Estação das Artes.

 

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