Sessenta famílias ocuparam um palacete antigo, na manhã deste domingo, 7 de setembro. Localizado na esquina das ruas General Sampaio com Pedro Pereira, no Centro de Fortaleza, o imóvel pertence à União e abrigava até 2003 o Museu das Secas.
A ocupação batizada de "Palestina Livre” é organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e faz parte de um movimento nacional para denunciar a falta de moradia. De acordo com o MLB, no Brasil todo, neste domingo, dia 7 de setembro, foram realizadas 20 ocupações em 17 estados.
Sob o lema "Não há independência, nem soberania sem direito à moradia", eles aproveitaram o Dia da Independência do Brasil para denunciar que mais de 8 milhões de famílias brasileiras esperam por um imóvel.
“Nós estamos ocupando para denunciar o déficit habitacional em Fortaleza e no Brasil e para reivindicar junto aos governos a construção de casas populares. O governo já prometeu 3 milhões de casas esse ano, mas não cumpriu. Também estamos em solidariedade com o povo que resiste em Gaza”, diz a nota distribuída pelo movimento.
O MLB afirma que mais de 60% dos trabalhadores brasileiros vivem com até um salário mínimo (R$ 1.518,00) por mês e não têm condição de pagar aluguel. “Nos últimos 12 meses, de acordo com o Índice FipeZAP, o preço do aluguel subiu 10,28%, acima da inflação que teve alta de 5,23% no mesmo período", destaca a nota.
Os organizadores informaram que o nome "Palestina Livre” foi escolhido para denunciar o genocídio contra o povo palestino realizado pelo Estado de Israel há 702 dias.
"A jornada de lutas também denuncia o genocídio do povo palestino, em que mais de 70 mil pessoas foram assassinadas pelo regime sionista israelense, 150 mil feridos, 2 milhões de deslocados em Gaza, de acordo com autoridades palestinas e órgãos das Nações Unidas. Além disso, 80% das edificações da Faixa de Gaza foram destruídas por Israel", diz a nota.
Segundo informou uma pessoa ligada ao movimento, que prefere não se identificar, as famílias que ocuparam o imóvel vieram de diferentes bairros de Fortaleza, tais como Edson Queiroz, Quintino Cunha, Sítio São João, Curió e Praia do Futuro. Entre as famílias, estão crianças pequenas.
Com sinais de abandono, o palacete de dois andares foi construído em 1907 para servir de residência para a família do coronel Antônio Frederico de Carvalho Motta (1856-1927), que foi vice-presidente do Estado do Ceará. Por isso, o imóvel ficou conhecido como Palacete Carvalho Motta.
A construção, hoje disfarçada em meio a fios elétricos dos postes e pichações nas paredes, une elementos neoclássicos e traços de art nouveau nos 1,3 mil metros quadrados do terreno.
Em 1909, o solar foi alugado à Inspetoria de Obras Contra as Secas (Iocs), que o compraria definitivamente em 1915. O local se transformou em Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e ocupou o prédio até o fim da década de 1970, quando as atividades foram transferidas para a sede da Avenida Duque de Caxias, onde está até hoje.
Naquele mesmo ano, o antigo palacete foi restaurado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e passou a dar lugar ao Museu das Secas, que abrigou um grande acervo de fotografias, plantas de açudes e equipamentos sobre a seca no Nordeste.
O espaço foi fechado ao público em 2003 e encontra-se bastante desgastado pelo tempo. Em 2020, o prédio foi incluído no Programa Revive, do Ministério do Turismo (MTur), com a possibilidade de receber investimentos por meio de parceria público-privada. No entanto, o plano não teve continuidade.
Em setembro do ano passado, a Superintendência do Patrimônio da União no Ceará chegou a anunciar uma parceria com a Secretaria do Trabalho e do Empreendedorismo do Ceará para que o imóvel passasse a sediar uma Casa do Trabalhador, concentrando atendimentos do Instituto de Desenvolvimento do Trabalhador (IDT) e do Sistema Nacional de Emprego (Sine). Mas o projeto também não andou.
A reportagem do O POVO tentou contato com os órgãos envolvidos, mas até o momento não obteve retorno.