Não era um julgamento qualquer, já se sabia disso desde o começo. No banco dos réus estavam Jair Bolsonaro e outros militares de alta patente, entre os quais generais, de modo que era inevitável vê-lo como um acerto de contas histórico, embora não fosse por isso que o ex-presidente estava sendo processado. Era por tentativa de golpe de Estado, uma expressão intangível para a maioria dos brasileiros, que talvez não compreendam sua gravidade.
Afinal, não havia tanques nas ruas, ouvi de uma vizinha logo no início das sessões do STF que magnetizaram a audiência ao longo de duas semanas. Sem armas, não há ameaça, complementou com o dedo em riste, sem entender que o plano não havia sido concluído e que previa inclusive assassinato e prisão de autoridades, tais como ministros e chefes de Poderes.
Claro que há quem olhe para tudo isso e não se convença de que as reuniões com a cúpula das forças armadas tinham finalidade antidemocrática, como até mesmo os fardados acabaram entendendo depois de umas poucas rodadas discutindo GLO e estado de sítio com Bolsonaro.
Há quem examine o quadro e não veja nada além de uma "turba descoordenada" ou "bravatas" e "choro de perdedor", como Luiz Fux, cujo voto de 13 horas não foi capaz de abalar sequer um fio de sua basta cabeleira - imagine-se o resultado de uma ação penal na qual os próprios réus cuidaram em produzir provas contra si mesmos, documentando cada passo do tutorial golpista como se estivessem batizando etapas de um projeto.
O resultado foi 4 a 1, um placar elástico no futebol e também num colegiado de magistrados que estão decidindo se um ex-mandatário deve sofrer sentença de prisão por ter investido contra o regime. O STF concluiu inequivocamente que sim, Bolsonaro é culpado, devendo cumprir pena de 27 anos e três meses, parte dos quais em regime fechado. E, novamente, é como se o país retrocedesse para reparar erros de 40 anos atrás.