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Batman Zavareze e a arte que afeta
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Batman Zavareze e a arte que afeta

Multiartista visual carioca Batman Zavareze revisita trajetória de vida e carreira, passando das referências iniciais da infância à experiência profissional na MTV e chegando à parceria com o Museu da Imagem e do Som
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O artista visual Batman Zavareze ocupou a sala imersiva do Museu da Imagem do Som do Ceará com a instalação "Ontem Choveu no Futuro" (Foto: Deivyson Teixeira / divulgação)
Foto: Deivyson Teixeira / divulgação O artista visual Batman Zavareze ocupou a sala imersiva do Museu da Imagem do Som do Ceará com a instalação "Ontem Choveu no Futuro"

"Meu nome é Batman e meu apelido é Marcelo". A ludicidade como elemento crucial para o designer e multiartista visual carioca Batman Zavareze se revela desde o nome, adotado por ele ainda na infância. Aos 49 anos e com um currículo que inclui criação visual na cerimônia de encerramento das Olimpíadas de 2016 no Rio e em shows de artistas da música como Marisa Monte e Roberto Carlos, Batman assina a instalação imersiva que ocupa uma das salas do subsolo do Museu da Imagem e do Som do Ceará. Reaberto a partir de abril deste ano, o equipamento traz a obra "Ontem choveu no futuro" como destaque. Nela, projeções e sons com essência cearense estimulam os sentidos e aguçam sensibilidades. Essas são prioridades do artista ao produzir: convidar para outra relação com o tempo, consigo, com a arte. A ligação com o MIS se fortaleceu mais quando ele conduziu, entre o final de julho e o início de agosto, o ateliê imersivo "Mestre é quem de repente aprende" no equipamento. Foi pouco antes de voltar para casa que Batman recebeu O POVO não para uma simples entrevista, mas para uma conversa de afeto sobre infância, trajetória, sensibilidade, educação e cultura.

O POVO - Qual era o lugar da arte no contexto no qual você nasceu, cresceu e se aproximou, inicialmente, dela?

Batman Zavareze - Nasci classe média baixa, no Rio de Janeiro, em um subúrbio chamado Méier, que tem classe média baixa e uma zona paupérrima. A relação dos meus pais no início da vida deles, no crescimento, foi zero com a arte. Foi primeiro quando a tecnologia do rádio e da televisão foi entrando na vida. Naquela época, nos anos 1940 a 1960, com toda a maluquice política, não sei o quanto eles tinham tempo e oportunidade para fabular. Meu pai se tornou médico e, num determinado momento, ele fez uma mudança radical que impactou muito a vida da minha família: a gente saiu do subúrbio e foi para uma zona de praia que era muito isolada, a duas horas do centro. A gente começou a morar numa zona rural, que com 20 minutos caminhando eu estava em uma praia deserta. Minha infância foi muito alargada por conta disso. Eu saía de bicicleta e pedalava por duas horas pra subir numa mangueira e voltar com mochilas de manga pra minha mãe fazer sacolé, doce. Eu construía meus objetos, brinquedos, com madeira, amarrando. Como meu pai era anestesista, eu via ele muito pouco, não era um horário normal, mas ele tinha habilidades e passava umas lições pra gente construir uma pipa, um carrinho, o telhado de um clubinho. Tinha essa coisa que hoje me ajuda muito a pensar a tridimensionalidade dos espaços que eu ocupo no campo da arte e da cenografia.

Todos os brinquedos que eram descartados pelos meus irmãos ou meus amigos, eu coletava, então eu sempre fui um grande arquivador de sucatas e coisas que eu ressignificava. Pegava o autorama de um amigo e transformava aquilo em um portal para entrar na cidade que estava construindo. Com 10, 11 anos, eu passava uns três ou quatro dias ocupando o escritório do meu pai, que era o território onde eu jogava todos os meus brinquedos no chão e ia montando uma cidade imaginária. Minha brincadeira era construir, quando aquilo se montava quase perdia o sentido. A construção era o meu momento. Eu não sabia jogar bola como meus amigos, era meio rejeitado, lia quadrinhos compulsivamente, desenhava e construía cidades. Ia fazendo uma construção imaginada do que hoje eu chamo de cenários, de ocupações, de entendimento espacial. Eu ia inventando essas coisas e isso pra mim é muito importante. Quando faço um cenário hoje em dia, eu pego os brinquedos do meu filho e coisas que a gente tem em casa, junto e falo: "Isso aqui é o cenário de um show". O show da Marisa Monte é uma caixa. Eu peguei uma caixa de papelão e fui estudando, recortando.

OP - Ainda trazendo o fazer manual da infância.

Batman - Começa sempre assim, indo lá para trás, mesmo que seja totalmente intuitivo (embarga a voz). Tô chorando em Fortaleza o tempo todo. Eu volto lá para trás, mesmo sem pensar muito.

OP - Você fala de um momento anterior mais de infância, mas como isso se encaminhou para uma formação profissional?

Batman - Eu desenhava e achava que isso seria naturalmente um caminho onde eu poderia me encontrar profissionalmente. O momento do teste vocacional era muito doido. Quando eu relatava que gostava de desenhar e tinha habilidade manual, fazia coisas ressignificando, foi detectado no teste que eu poderia ser arquiteto ou dentista. Quando tive essas opções, meu pai, médico, talvez preocupado, classe média baixa, falou que eu tinha que fazer odontologia. Ali eles começaram uma pressão e acabei fazendo vestibular em todas as públicas para Odontologia — completamente desgostoso, mas sem assumir — e, meio escondido, em uma particular para desenho industrial, onde acabei passando. Meus pais, pela condição financeira, colocaram uma condição (para aceitar): "Pra sustentar a faculdade particular, você vai ter que trabalhar". Fui fazendo a faculdade de desenho industrial entendendo o que seria e foi um certo choque. Para ser um designer, pelo menos no modelo de quando entrei na faculdade, você deixava de desenhar espontaneamente. Eu imaginava e fabulava sobre desenho, formas de enxergar o mundo através de uma representação, mas acabei entrando em um lugar que foi destruindo essa magia. Naquela época, o designer era um cara que tinha que projetar — um cartaz, uma mesa, uma geladeira, um carro —, era forma e função. Meu interesse começou a entrar em uma zona que era muito ampliada. Me ajudou que no meu primeiro período, com esse compromisso de ter que trabalhar, passei em um estágio na MTV, que estava surgindo no Brasil. Aquilo mudou minha vida. Ela era dentro de uma das maiores produtoras de cinema do Brasil, a VideoFilmes, dos irmãos (Walter e João Moreira) Salles, e tinha ali uma rotina de cenários, iluminação, de tempo e cuidado que o cinema tem com a construção até abrir a câmera para filmar. Era um estágio de quatro meses, mas com dois meses o (jornalista e apresentador) Zeca Camargo, que era meu chefe, perguntou se eu queria ser efetivado. Naquele momento, fui para assistente de câmera. Eu já tinha uma relação com fotografia, porque tinha resgatado uma câmera do meu pai com a ajuda do meu avô. Meu avô, o Zavareze do meu nome, tinha uma coisa maluca e que é muito importante também na minha formação (pausa). Tá foda. (voz embargada) Às vezes nem entre família, entre os próximos, a gente tem oportunidade de falar disso. Meu avô Zavareze às vezes anunciava nos classificados: "Compro filmes super 8". Ele ia nas casas das pessoas, sem dinheiro nenhum, perguntando porque a pessoa queria vender. A pessoa respondia que estava só estragando, que queria jogar fora. Ele falava, então, que não tinha dinheiro, mas que podia guardar, e guardava. Aí em casa, ele deitava na cama, um barrigão enorme, e projetava os filmes, contando pra gente uma história (a partir das imagens), fabulando que ele estava lá. Ele tinha diários desses lugares onde ele tinha "viajado", mas que nunca tinha ido. Todos os super 8 do meu avô, esse cara que inventa fábulas, preserva, estão comigo, são imagens que já entraram em vários shows, do Roberto Carlos, dos Los Hermanos.

Batman Zavareze aposta na dilatação do tempo e estímulo aos sentidos nas obras(Foto: Deivyson Teixeira / divulgação)
Foto: Deivyson Teixeira / divulgação Batman Zavareze aposta na dilatação do tempo e estímulo aos sentidos nas obras

OP - Esse trabalho na MTV reuniu, nesse primeiro momento, algumas coisas que foram sendo marcos da sua trajetória: os cenários, as filmagens, a música

Batman - Eu não tinha relação com música. Hoje, não consigo construir nenhuma imagem que não tenha música. Meu trabalho é musical. Apesar de não tocar nenhum instrumento, de ter uma dificuldade de escutar da mesma forma que enxergo, eu não consigo fazer uma imagem ou escolher uma cor se eu não escutar. Essa música que está acontecendo (refere-se ao barulho do vento forte no local da entrevista), para mim, é muito rara. Não tem um vento dessa força, potência e beleza. Já imagino a construção de um show, a produção de uma ópera.

OP - O caminho múltiplo que você seguiu, então, se deve à experiência da MTV?

Batman - Na MTV, fui entendendo que havia uma construção de pensamento, de linguagem, fui ocupando espaços, filmando, fazendo videoclipes. Eu acreditava nessa máxima punk, "do it yourself", faça você mesmo, que você tinha que ser tudo. Era nisso que eu acreditava para sobreviver e ter alguma coisa autoral. Meu avô falava: "Faz a Fundação Batman Zavareze bancar seus sonhos". Tudo que eu ganhava, botava em um fundo e, em algum momento, gastava esse fundo para fazer qualquer coisa que eu quisesse. Eu era o meu mecenas. Se achava que não fosse ter público, bancava a cerveja (risos). Fui criando essa brincadeira de entrar em lugares que a MTV não cabia, que a Universidade não cabia. Ali eu estava aprendendo fotografia, câmera, design, audiovisual, e as pessoas que trabalhavam comigo perguntavam porque eu não aprendia a pintar. Comecei a entrar em outros lugares, o da pintura, o de estudar cenário, trabalhei com pessoas, como o Gringo Cardia (artista e arquiteto) e a Bia Lessa (diretora), que já eram multidisciplinares. Isso tudo só aconteceu por conta da coragem que a MTV me deu, do lugar de acessar como era uma indústria de televisão disruptiva, onde a gente fazia tudo. Isso diz também dessa preferência que tenho hoje não mais pela entrega final, mas por ir entendendo onde você pode se ressignificar, ser contaminado, olhar, escutar, contribuir de alguma forma e sentir. Em todo lugar que fui passando, da MTV até hoje, de 1991 pra cá, eu falo que pra mim não vale mais só a entrega final, que às vezes é o que me paga. O trabalho com o MIS é uma prova. Quando perguntaram se eu gostaria de fazer uma sala imersiva, a minha vaidade no primeiro momento foi dizer "claro!". No segundo momento, falei "pô, mas eu tenho uma questão que pra mim é incondicional: tem que ter um projeto formativo. Tudo que eu aprendi até aqui eu vou ter que transferir pra alguém, senão vocês vão ficar sempre dependendo de mim". Quem tem um olho em terra de cego é caolho. Você vai passar a ser rei quando começar a compartilhar o teu conhecimento para outros lugares, para que mais gente possa fazer outras coisas de outras formas e que aquilo se amplie, se ressignifique, vá para outro lugar. Aqui no Ceará, no Crato, uma vez eu estava com um mestre que talhava madeira em uma porta bem grande e perguntei a ele: "Quanto tempo o senhor levou pra fazer essa porta?". Ele falou: "Meu filho, eu levei 70 anos pra fazer em quinze dias".

OP - A partir desse interesse multidisciplinar, como e quando você enveredou na arte imersiva, instalativa?

Batman - Quando concluí a faculdade, comecei a virar uma chave que não queria mais fazer aquilo que eu tinha sonhado todos os anos até ali, que era virar fotógrafo, trabalhar em cinema. É como se eu já tivesse feito. Talvez tenha sido uma crise de ansiedade precoce, mas comecei a realmente fazer projetos nos quais eu pudesse trabalhar durante um, dois, dez anos. Achei no documentário esse campo, foi quando comecei a viajar o Brasil, conheci o Ceará inteiro, fazendo séries sobre Padre Cícero, artesãos. Em determinado momento, comecei a filmar com duas, três câmeras. Chegava num lugar, fazia a imagem "oficial"e também outras duas, para mim, que contextualizavam aquele lugar. Fui fazendo um banco de imagens em alguns lugares que passei. Mexi nesse arquivo quinze anos depois. Isso me ajudou muito a olhar além da tela para a qual a gente foi condicionado a trabalhar no nosso imaginário, a vida enquadrada. Em 1998, eu estava nessa inquietude e decidi sair do Brasil, porque entrei numa máxima de acreditar que a profissão de câmera iria acabar. Decidi ir para Londres, onde entrei em um coletivo de artistas que estavam começando a fazer mapping. Lá, eu queria muito conhecer algumas pessoas. Uma delas era o Oliviero Toscani, um fotógrafo que conseguiu fazer uma história na Benetton (marca de roupas italiana) que eu achava revolucionária, um cara que era da moda e publicidade e estava expondo em uma bienal de arte. Isso me embaralhava, me interessava. Ele tinha uma escola na Itália onde podiam entrar 30 pessoas, cada uma de um lugar do mundo, com até vinte e cinco anos de idade. Chamava Fábrica. Você ganhava um salário, casa, comida e um meio de transporte. Foi ali que me veio uma luz, pensei que não podia voltar a ser câmera, diretor de fotografia. "O que eu já sou, eu vou ser pra sempre. Para as novas coisas, só tenho essa vida". Entendi que a vida era um labirinto e que, profissionalmente, eu tinha que me divertir com esses desvios. A Fábrica foi também o primeiro lugar na vida, em 1999, onde eu entendi que os trabalhos só sobreviveriam se fossem multidisciplinares, coletivos. Fui muito treinado para achar que só ia sobreviver se eu fosse o "homem tudo", mas lá vi que você tem que ser um cara que trabalha com coletivos.

OP - Em uma exposição como a do MIS, há uma ativação de uma sensibilidade, porque a imersão desacostuma o olhar para aquelas imagens. Se desacostumar me parece algo que você traz para si. Pensando na fruição e na produção, qual a importância de sensibilizar o olhar e mudar a relação com o que está no mundo?

Batman - Tudo que a gente consome tem uma relação direta com a comercialização. A pasteurização anula o que nós somos como indivíduos: diferentes, diversos. Eu já tinha feito caixas imersivas e trabalhos como o do MIS, mas nunca tinha feito da forma que ele é, que tenta trazer uma narrativa às vezes cinematográfica, às vezes contemplativa, às vezes ligada à ludicidade e ao entretenimento. A obra não tem relação intelectual com nada, tem relação somente com os sentidos. Toda vez que venho para Fortaleza, antes de avisar que cheguei, entro lá na sala, vejo os pais, as crianças. Lá embaixo não pega sinal de celular (a exposição de Batman ocupa o piso -1 do MIS). Hoje tem essa onda instagramável, onde as pessoas querem garantir os seus 33 likes na sua timeline e aquele lugar é perfeito para isso. Mas as pessoas vão ficar nervosas quando fotografarem e não conseguirem postar. Então, em algum momento, elas vão ver, escutar, sentir. Tem uma carga ali na música que se repete, se repete, se repete, aí vem a voz do Silvero (Pereira, ator cearense), aí entra um romeiro cantando, depois o Patativa do Assaré… É para você fazer ali alguns esforços de se desligar dessa realidade. Isso tem a ver com um tempo dilatado. Tivemos seis meses trabalhando nessa peça que tem 30 minutos. Hoje é impensável fazer 30 minutos em seis meses, ninguém aceita. Daria para fazer em uma semana, 10 dias, mas você ficaria destruído como ser humano, ser pensante. Mas tendo seis meses, você se permite errar, errar, errar, errar, achar que entendeu, errar, errar, errar, errar, voltar para algum erro onde percebe que há um caminho, investir nesse erro e, acreditando, buscar algo que a gente chama de inovação. Seja internamente, espiritualmente, esteticamente, simbolicamente. É por isso que eu peço tempo. Quando alguém me pergunta se posso fazer um trabalho em uma semana, não consigo nem responder em uma semana se posso. "Pô, você não respondeu! Acabou o prazo". "É, é que eu ainda tô pensando. Então não era pra ser". Sou meio doido, né? (risos) A gente fica acelerando as coisas. O tempo sempre vai vir a favor ou contra a gente na ampulheta, mas abrir o buraco para a areia cair mais rápido, pra mim, é que é uma maluquice tremenda.

OP - Você falou de observar o público no MIS. A gente passou por esse momento de pandemia mais grave, mas hoje temos as possibilidades de encontros, de ter o museu aberto, de ter a formação que você fez com 40 artistas daqui no equipamento. Como vem sendo retomá-las?

Batman - Eu sou um cara da presença. Todas as minhas obras, contribuições, trabalhos, reflexões têm uma obrigatoriedade de serem compartilhados presencialmente. Apesar da tecnologia sempre me atravessar — da época do meu avô projetar filmes em super 8 à filmagem na MTV —, ela só sobrevive com presença. Eu nunca imaginei, por exemplo, que o suporte final será um NFT (token não-fungível, em termos básicos um objeto virtual que, uma vez adquirido, vira propriedade inviolável, autêntica e rastreável), que é uma coisa a qual eu resisto muito, porque eu luto pela presença, pela presença total. (Sobre a exposição do MIS), digo que a gente está fazendo um longa-metragem de seis horas e eu só fiz os primeiros 30 minutos. Quem vai fazer as próximas 5h30 não serei eu. Vou ajudar a viabilizar, ensinar tudo que eu aprendi. A transferência de conhecimento é algo que não nego. Importante para mim é compartilhar com o máximo de artistas para eles se apropriarem e fazerem coisas que eu não tenho condição, que jamais imaginei. Só é possível fazer isso se a gente se doar, entrar numa imersão com todo o nosso corpo, o pensamento, a unha, o olho, a escuta, o amor, o desamor. Tem que ter tudo, se não a gente não entrega. E não estou falando de quantidade. Estou falando de visceralidade, uma coisa quase espiritual que hoje eu chamo de afeto. Para eu fazer um show da Marisa Monte, tem uma cláusula contratual que diz que só faço se tiver afeto. Afetar e ser afetado, é uma coisa de mão dupla. Eu tenho que, nessa conversa aqui, ter coragem de chorar quando lembro do meu avô, ter coragem de ser afetado com uma pergunta que nunca recebi na minha vida e me sensibilizar com isso. Isso pra mim é afeto.

OP - O MIS é um espaço público de cultura e arte e reforça a importância do investimento na arte e na cultura. Estamos, porém, em um contexto recente em que essas áreas são institucional e socialmente atacadas, esvaziadas. Como você vê a importância de ter espaços como esses? Além de tê-los, como defendê-los?

Batman - Educação e cultura são um oxigênio para alma que é transformador. Não é sobre ser um pintor, um artista visual ou sonoro. É alguém ser banqueiro e saber que aqui tem desigualdade, que aqui temos que distribuir. É enxergar outros mundos. Se você não tiver educação, cultura e arte na sua formação de uma maneira atravessada, radical, você vai passar por esse nosso momento finito sem ter entendido nada. Você pode deixar um monte de legados, carros, casas, mas não vai ter entendido nada. O que o Ceará está fazendo nessa gestão é ressignificar dois estabelecimentos muito importantes, que são a Pinacoteca (equipamento que compõe o complexo cultural Estação das Artes) e o MIS, de novo vivos, de novo em jogo. A isca pode ser o Instagram, querer se fotografar, mas você vai entrar e conhecer o (fotógrafo) Chico Albuquerque (1917-2000), que é nosso Cartier Bresson, vai escutar um pouquinho do Patativa do Assaré, vai entender algumas coisas que precisam ser celebradas. Quem sabe você entra na biblioteca, abre um livro, lê uma poesia, volta pra casa mais amoroso e não tem uma relação racista, homofóbica. A gente só vai construir um Brasil real, completamente diferente desse Brasil lamentável, se tiver educação e arte. Isso é uma condição transformadora.

Repertório

BATMAN trabalhou com artistas da música como Marisa Monte, Manu Gavassi, Dona Onete, Capital Inicial, Roberto Carlos, Los Hermanos e Tribalistas, contribuindo nas concepções visuais de shows e obras dos artistas e grupos

 

Participações

O ARTISTA também trabalha com eventos para além da música, como o encerramento das Olímpiadas do Rio de Janeiro, em 2016, e a "superlive" Brasil da Esperança, ato da campanha de Lula no 1º turno das eleições presidenciais realizado no final de setembro, que teve concepção visual de Batman

Contexto

A ENTREVISTA com Batman foi realizada em 1º de agosto. O artista havia passado uma semana em Fortaleza para conduzir o ateliê imersivo "Mestre é quem de repente aprende", no MIS, no qual mais de 40 artistas cearenses construíram uma obra coletiva

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